quinta-feira, 9 de abril de 2020

Vigésimo segundo dia do resto das nossas vidas


Os dias seguem-se uns aos outros do mesmo modo há milhões de anos. Agora vivemos um presente que nenhum de nós poderia imaginar. Vivemos em liberdade democrática mas não devemos sair de casa mais do que o essencial. O meu essencial é a minha rotina de todas as manhãs desde que tenho a minha amiga Sacha. Encurtei o tempo andando por ruas em vez de andar pelos trilhos da beira rio.
Hoje, ainda era escuro, comecei a ouvir o barulho que os carros fazem ao passar na Nacional 10 e desconfiei. Contudo quando saímos chovia e verifiquei que o movimento era semelhante aos dias anteriores, só que com a estrada molhada da chuva o atrito dos carros a passarem emitem um outro ruído.
Como estamos em altura de Páscoa e ontem quando fui ao supermercado não encontrei a carne de borrego (para mim a melhor carne) hoje voltei a sair. Fui mais cedo a um outro supermercado. Quando lá cheguei era cedo mas já havia fila e na rua. Chovia e debaixo de chuva aguardei a minha vez. Tudo corria normalmente como de todas as vezes que fui ao supermercado mas, hoje o raio de uma velha pensou ser mais esperta que todos os outros que estavam à chuva e fazendo-me sinal colocou-se não na fila mas debaixo do toldo do prédio contiguo ao supermercado. Já estranhava não ter ainda encontrado uma velha com a mania de ser mais esperta que a esperteza. Tirando esta virgula fora do contexto tudo correu normalmente, com todos a respeitarem-se sem atropelos.
Ao grelhar o peixe espada para o almoço acabei por ouvir a conferência de imprensa sobre a situação no nosso país do coronavírus covid-19 do senhor Secretário de Estado de Saúde, da senhora Directora Geral de Saúde e do senhor Presidente do Instituto Ricardo Jorge. Eu não teria paciência para estar todos os dias a enfrentar as perguntas de má-fé que alguns jornalistas colocam. Eu responderia como alguns treinadores de futebol quando nas suas conferências lhes fazem perguntas estúpidas, respondendo eles que estão ali para falar do jogo. Não sei porque não fixei o nome da jornalista da televisão pública mas arrisco-me a pensar que ela não estava ali de boa fé porque se aproveitou do ataque velado ao SNS dado pelo PR ao ir submeter-se a um teste de imunidade ao covid-19 numa instituição privada de renome muito ao gosto dos que defendem a saúde privada como alternativa ao SNS. Não esqueço que o seu partido político após o 25 de Abril na altura da aprovação do SNS público e universal para todos votou contra a constituição do mesmo. Respondeu o Presidente do Instituto Ricardo Jorge. A meu ver bem mas, os que estão sempre a ver a chegado do aguardado diabo acharão que não respondeu à pergunta. Coisas da política e de como vemos e analisamos os factos da vida.
Por falar nessa instituição de renome lembro-me que já este ano levei lá um casal amigo. Ela médica de profissão tinha estado internada no Hospital de Setúbal, tendo feito todos os exames e análises lá e em instituições privadas que trabalham com o hospital. Mas para descargo de consciência em busca do mal que a levou a estar internada, os colegas do Hospital mandaram-na fazer um “pet scan” na tal instituição privada de renome. Como o companheiro estava a recuperar de um pequeno “avc” eu fui busca-los e levá-los para a realização do tal exame caríssimo diga-se em abono da verdade. Tal como nas instituições do SNS cumprir horários não é habito das classes profissionais que trabalham na saúde nas instituições privadas. O utente doente terá quase sempre de esperar e raramente ao entrar no gabinete ou na sala ouve um pedido de desculpas pelo atraso no atendimento. O que é facto é que o exame foi efectuado umas horas depois da hora marcada, sendo que a técnica que lhe realizou o exame nada de anormal encontrou não deixando contudo de procurar vender-lhe a ideia que ela fizesse lá na instituição uma ressonância magnética. Ressonância que ela já tinha feito a pedido do Hospital de Setúbal numa outra instituição privada. Mas a saúde privada é assim mesmo, vivem em busca de receitas financeiras e colateralmente podem tratar da saúde do paciente.
Não sei o que se irá passar com a educação. Tenho uma neta no sétimo ano e sinto uma ponta de ansiedade quando penso no assunto. Nem ouvi ainda nada do que os responsáveis governamentais decidiram sobre o assunto, recusando-me a dar ouvidos a representantes de associações ou de professores. Não lhe dou o meu tempo por sentir que todos têm algo de interesse a defender, colocando o seu umbigo à frente dos interesses do país.
Depois vou tomando conhecimento do número crescente de empresas que fecham, outras que aderem ao lay off e muitas outras talvez mais saudáveis financeiramente que propõem aos colaboradores o entrarem agora de férias. Com estas situações há milhares de trabalhadores que desconhecem o que irá ser o seu futuro próximo.
Os técnicos da DGS e do MS não nos dão uma previsão de quando o país poderá voltar a dar passos rumo a uma normalidade de vida que se terá que adaptar às novas circunstancias que o vírus covid-19 nos impôs e impõe.
Para que andar já a decidir o regresso às aulas com a problemática dos exames?
A telescola para os mais novos irá levantar muitas «guerrinhas surdas» entre os interesses dos professores eles próprios representantes dos interesses das diversas editoras de livros escolares.
A telescola representará o voltarmos ao tempo dos avós quando todos aprendíamos de norte a sul, do litoral ao interior pelos mesmos livros, pelas mesmas sebentas. Imagino a luta dos lobistas nesta área e matéria, todos a quererem que o livro de base seja o seu e não o da outra escola de outro agrupamento que segue os livros de uma outra editora.
Não será fácil a vida do Ministro.

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