segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

23.06.23

Vim para o meu canto, uma casa pequena com menos de 80 m2 onde vive um mundo quase infinito de lembranças, por isso se diz que as casas são do tamanho das almas que as habitam. É assim o meu canto, uma casa pequena numa terra onde dizem os entendidos da vida que por cá nada existe.

Já pouco me importa se nada existe ou não, já não sou deste tempo nem sei a que tempo pertenço, porque não fiquei no passado nem tão pouco o esperado futuro já existe, sei que aqui, no meu canto, encontro uma paz que não sinto, não encontro em outro lugar.

Ainda ontem, quinta feira, caminhava à beira mar na praia que me viu crescer me tornar homem de espírito inquieto e revoltado contra as injustiças, contra as mentiras das verdades oficiais, para agora menos de vinte e quatro horas passadas estar longe do mar onde o cheiro da maresia carregado de iodo pela decomposição do limo correia não chega, mas onde o odor da terra quente temperado pelo calor que vindo do céu sopra pelas copas das velhas azinheiras, sobreiras e oliveiras como se o tempo descansasse na sua caminhada induzindo uma paz que não encontro em outro lugar.

Já não me identifico com a terra onde nasci. Nasci num quarto no sétimo bairro administrativo de Lisboa, freguesia de Santa Maria dos Olivais, que políticos modernistas sem coluna vertebral na eterna luta entre os aventais maçónicos e as saias batinas dos padres e “opus day”, com os presumíveis maçónicos a levarem a melhor transformaram-na em Olivais, entregando a minha rua de nascimento à freguesia que a nova burguesia da classe média criou como Parque das Nações. Nunca ali pertenci nem pertencerei, sou de Santa Maria dos Olivais, ponto final. Até mesmo a minha praia com aquele mar de Peniche que não existe em mais lugar algum do planeta já não me prende nem me chama, traz-me boas recordações é certo mas as minhas raízes fundiram-se com as dos meus progenitores, dos meus antepassados.

É no calor de forno e no gelo do frio que gosto de estar, de sentir não só o odor desta terra mas principalmente saborear o gosto da paz. 






























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