terça-feira, 16 de janeiro de 2024

01.02.24

Começou o ano 2024 e não acabei de ler as últimas páginas do livro “Submissão” de Michel Houellebecq. Como tem acontecido nos últimos tempos depois de jantar pelas vinte e uma horas as pálpebras começam a pesar e levam-me a embarcar no mundo leve do sono. Não fosse o ladrar da Sacha aos foguetes do fogo de artifício que alguém lançou a destempo e talvez passasse a passagem de nível entre os anos 2023 e 2024 no meu embalo sonífero ou acordando em cima do acontecimento, que não sou de dar importância a estas coisas de mudança ou passagem de ano, tudo vai continuar igual ao que tem sido porque o ser humano é um bicho de difícil definição. Há hora certa na rua há foguetes do designado fogo de artifício que incomodam a Sacha que não para de ladrar num tom de zangada, depois há esta coisa de se comerem doze passas consoante as últimas badaladas do ano de 2023 para se desejarem doze desejos para o novo 2024 como se tal fosse exequível e, como o champanhe está caro bebi um cálice de ginja porque ao jantar já tinha bebido a conta de espumante que para mim não deixa ficar mal o próprio champanhe.

Consegui passar a noite sem dar atenção à merda que o canal de televisão transmitia, bastava-me ouvir sem entender o que dizia uma voz embirrenta de uma antipática esganiçada que me enoja, um belo exemplar, que segundo dizem as vozes destas coisas é paga a peso de ouro, não deixando contudo de ser a esganiçada um belo exemplo da mediocridade asfixiante com que os tipos sem alma que controlam os canais televisivos brindam o povo português cuja cultura é na sua grande maioria uma cultura de missa e televisão.

Foi difícil, foi cansativo conseguir abstrair-me do que se passava no ecrã da televisão quando depois de jantar me sentei no sofá da sala para passar umas horas até o calendário mudar de número; é um cansaço na cabeça aquele barulho de fundo que não doendo me pesa e entristece levando-me a ver as letras iluminadas no fundo da minha parede cerebral que me questiona “Carlos, o que fazes tu aqui?”

Para fugir das letras interrogativas optei nos minutos iniciais do novo dia, mês e ano. Nada muda com a alteração de calendário e como tinha previsto uns dias antes levantei-me quando os meus sensores corporais me alertaram, eram cinco e vinte e dois da madrugada reinando o silêncio que só a gata Ísis interrompe com o seu miar a pedir festas, ao realizar os procedimentos habituais constatei que não havia novidades nas páginas dos jornais que neste dia não se publicam, vagueei então um pouco pela rede social e nada de novo me chamou a atenção, tudo continua velho e apreensivo indiferente à mudança de ano, o Homem animal de hábitos não muda em si mesmo com a passagem de ano. Os políticos do arco da governação e suas novas ramificações bravias acarinhadas pela comunicação social em especial pela televisiva, vão continuar a mentir na sua ambição de alcançarem o poder pela via mais fácil, a mentira; há muito que os partidos maiores do arco da governação arquivaram os ideais filosóficos e, já antes os seus patronos tinham deitado no caixote das coisas inúteis a ética e a moral. Quanto às novas ramificações bravias que se autonomizaram como novos partidos políticos ganham terreno com paleio populista tudo criticando e de tudo dizem mal, escondendo nesse populismo os seus objetivos imediatos; chegaram para destruir o Estado Social sabe-se, mas como o irão fazer não nos dizem fazendo das suas mentiras tantas vezes ditas e difundidas pelas televisões dos empresários amigos várias vezes ao dia quando não é hora a hora, a sementeira do populismo muito por culpa dos que tem exercido o poder governativo que e se deixam enredar em situações pouco claras e de duvidoso interesse publico. Nada ou pouco irá mudar na política nacional com a campanha eleitoral que se avizinha, a mentira andará à solta, os órgãos de comunicação irão continuar a fazer campanha pelos seus favoritos colocados à direita do centro, até os infelizes órgãos de comunicação públicos pagos pelos contribuintes estão cheios de infetados de mente purulenta mal cheirosa sendo cada vez menos os profissionais dignos da profissão de jornalista.

Desde final de Outubro que deixei de os olhar, de os ouvir com alguma atenção, tão miseráveis me parecem na sua não independência. Os jornalistas de verdade que ainda lá existem estarão afastados das luzes da ribalta por conveniência do invisível poder que nos quer parametrizar o modo de vida..

A pouco e pouco a censura foi e vai retomando as suas funções não necessitando do famoso “lápis azul” tornou-se tecnológica e revestiu-se de democrática, sendo-nos vendida como necessária e imperiosa para defender a liberdade democrática da cultura ocidental, faço-lhes um manguito à Zé Povinho mas eles não se importam e até se riem, sejam eles uns vendidos ou uns ambiciosos saudosistas do salazarento Estado Novo.





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