domingo, 14 de janeiro de 2024

27.11.23

 

Pior que a geada é para mim o nevoeiro em tempo de geada. Ontem a geada foi menor, mais água que gelo, não gelando as mãos e os pés como no dia anterior, contudo o nevoeiro que se instalava por períodos arrefecia o corpo todo, só a mente não embarcava nesse estádio e assim fazendo as tarefas normais da apanha se passou mais um dia no campo em que depois dos tiros dos caçadores chegou o trinar da passarada.

A mente sempre recordando o passado indo desde os tempos de menino a caminho da escola pedalando em tempo de nevoeiros cerrados, até ao regresso da guerra quando vim ter com os meus pais que andavam a apanhar azeitona e não gostei de experimentar esta tarefa que hoje com os meus quase setenta e três anos faço com agrado e prazer, embora o corpo se queixe de dores. Enquanto as mãos retiram a azeitona dos ramos que se cortam com o serrote ou tesoura porque a máquina de varejar não entra nos ramos do meio que a oliveira cria ao fechar-se, muitas imagens de recordações passam pelo pensamento realizando filmes de várias horas, onde há elementos, cenas e dúvidas interpretativas que se repetem dia a dia ou até mais do que uma vez por dia. O passado está sempre de volta, enquanto realizo as tarefas de ajudar o meu amigo, num ambiente de paz serena que hoje os campos possuem, talvez pela calma envolvente dos campos ao recordar pessoas e erros não sinta a loucura a castigar-me, sentindo como contrapartida a alegria até mesmo felicidade de meus pais, estejam eles onde estiverem, ao verem o filho mais novo nestas tarefas do cuidar das oliveiras, da apanha da azeitona em terrenos que eram dos seus antepassados e que agora os trato porque um me foi doado e o outro entregue já que sou o único herdeiro dos muitos, que venho cá quase todos os meses. Terrenos com oliveiras que me dão azeitonas e azeite que pelos registos que meu pai fazia, eles nunca conseguiram, dizendo o meu amigo que se tratar bem das oliveiras as duas toneladas de azeitona lá colhidas e levadas para o lagar podem não ser apenas duas mas quatro, azeitonas de boa qualidade pelos próprios terrenos, de tal modo que no lagar ao despeja-las nos cestos para pesagem, todos os produtores que as viam gabavam a qualidade apresentada.

Fiz azeite, se da primeira vez com as azeitonas apanhadas na Horta da Corona e na Balasca dividi o azeite com o meu amigo, já da segunda vez com azeitona só da Balasca, onde predomina a bical, fiquei com um terço e dei os dois terços ao meu amigo, já que é ele que faz a maioria do trabalho incluindo a limpeza das oliveiras.

Quem apanha azeitona em terrenos de terceiros, utilizam um regra esquisita que designam por «terço» em que vinte e cinco por cento é para o proprietário e as outras três partes para quem a apanha.



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