sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

03.10.23

 

Ainda e sempre sobre o SNS, a maior conquista e riqueza coletiva que o país criou e implementou depois do 25 de Abril de 1974.

Quem se lembra de como era a assistência médica e hospitalar à população, antes de Abril 74, ou seja, no quase meio século de vida do Estado Novo da miséria salazarista ?

Que hospitais tínhamos espalhados pelo território nacional?

Quem tinha acesso gratuito a esses hospitais?

Em 1979 na Assembleia da República depois de acesa discussão foi votada e aprovada a Lei proposta pelo deputado António Arnaut do Partido Socialista que criou e instituiu o SNS (Lei n.º 56/79, de 15 de setembro).

Quem votou contra a sua criação foram os partidos políticos que na acesa discussão ocorrida sobre os custos benefícios que a mesma daria aos portugueses, sempre se mostraram contra a implementação do Serviço Nacional de Saúde Público aberto e acessível a todos os cidadãos. Votaram contra o PSD/PPD e o CDS/PP (com execução de alguns poucos deputados que votaram a favor ou se abstiveram)

Votaram a favor da aprovação do SNS, o PS, o PCP e o deputado da UDP assim como alguns dos tais deputados do PSD.

Não é pois de nos admirarmos com os ataques contínuos por todos os meios imagináveis que as forças políticas que votaram contra a criação e implementação do SNS tem vindo a exercer e exercem com o total apoio dos órgãos de comunicação social, controlados por amigos e ou antigos militantes desses partidos, a que se juntaram outros partidos criados recentemente mas oriundos da mesma área política dos que sempre estiveram contra e sempre lutaram para a descredibilização do SNS junto da opinião pública. É a sua ideologia neoliberal de destruição do Estado Social Português.

De estranhar é a gestão governamental que ao longo principalmente dos anos deste século, para agradar aos "patrões" liberais em Bruxelas e aos interesses corporativos da classe médica foi suborçamentando e descapitalizando de meios humanos, quer no acesso ao estudo da medicina com "numerus clausus" impostos pela Ordem corporativa da classe, quer na contratação e profissionais médicos e enfermeiros bem remunerados nas estruturas do SNS, principalmente nos hospitais e centros de saúde, deixando assim milhares de utentes sem médico de família e outros dependentes televisivos à mercê da ação psicológica derrotista dos inimigos do SNS público para todos, incluindo-se nestes inimigos as ordens profissionais corporativas de médicos e enfermeiros assim como organizações sindicais que de independentes nada têm, sem esquecer os papagaios e catatuas sem penas televisivos que sendo a voz do dono lançam diariamente horas seguidas o medo alarmista sobre a situação fazendo-a muito pior do que a realidade existente, aproveitando-se da iliteracia reinante no país que ouve e vê mas que se recusa a ler porque ler cansa e levanta dúvidas que podem causar dores de cabeça logo agora que as televisões noticiam que as urgências hospitalares estão fechadas ou tem longos tempos de espera.

Tenho dito e não me canso de dizer, sou um utente do regime geral da Segurança Social pelo que só tenho no SNS os meios que me permitem o acesso à saúde pública.

A minha experiência neste século resume-se aos centros de saúde e hospitais da rede do SNS. Antes, casado, recorria ao sistema de saúde dos empregados bancários.

Nos muitos anos que vivi sem médico de família atribuído, nunca me ouviram queixar-me. Os quase dois anos de espera, sofrendo com muitas dores, para uma consulta hospitalar de reumatologia num hospital central da cidade grande, não me fizeram vir para a praça pública criticar dizer mal do SNS. Esse passado de espera com fases de desalento serviu-me para olhar de forma crítica os políticos submissos que nos vêm governando desde que a "Nova Ordem Democrática" se impôs no país, levando este ser republicano a ser politicamente muito mais à esquerda que ao falso centro político, nunca sendo filiado em nenhum partido ou organização política, demasiado indisciplinado para ser só mais um "yes chefe" à espera de um tacho qualquer.

É a política com a sua ideologia o combustível de qualquer sociedade organizada como um país, como uma nação. Dizer mal da política é um ato egoísta de individualismo doentio criado por teorias a mando dos senhores sem rosto que procuram controlar a nossa liberdade coletiva.

Como utente do regime geral quando em 2017 o médico amigo no centro de saúde pediu uma consulta hospitalar de urologia aguardei apenas quatro meses. Nessa primeira consulta hospitalar o médico e professor urologista optou por uma biopsia devido à história familiar. O exame foi pedido na consulta e passado trinta dias efetuei o mesmo no hospital. Quando na vigilância ativa me decidi pela cirurgia e querendo que o jovem médico e professor a executa-se, descontando o tempo que o mesmo teve de férias pelo nascimento da sua primeira filha, entre greves de enfermeiros não esperei dois meses. No pouco tempo que estive no hospital fui tratado por todos, médicos, enfermeiros e auxiliares como um cliente vip num hotel de cinco estrelas.

Quando numa consulta de cardiologia no hospital público de Santa Marta o cardiologista me prescreveu uma prova de esforço a realizar no mesmo hospital avisando-me que o mesmo podia demorar, ao marcar o respetivo exame nos serviços do hospital tive de solicitar que me marcassem o mesmo para mais tarde porque iria para a Beira Baixa, caso contrário nem quinze dias ia esperar.

No passado dia 27 tinha análise ao sangue marcada para as 10H19. Cheguei uns minutos antes e tirei a senha como manda o aparelho, saindo o número 72. Sentei-me mas vi que os números que nos chamavam para os guichés da sala onde comprovam os os nossos dados fluía normalmente. Ao entrar na sala e apresentar a documentação para a análise do PSA, a mesma estava cheia, estranhando lá encontrei uma cadeira para me sentar. Era o número 72 marcada que foi pelos serviços, confirmada por mensagem para o telemóvel, a análise para as 10H19. Ao chamarem antes de mim a senha número 4, conclui que aquele pessoal tinha ido muito mais cedo do que a hora marcada com medo que não fossem atendidos, pois devem ver muita televisão onde papagaios e catatuas sem penas sendo a voz do dono lhes metem medo com as notícias alarmistas. Meia hora depois da hora marcada estava despachado.

Ainda há bem pouco tempo um amigo meu em Vila Nova de Gaia sofreu o susto de um AVC, sendo internado a tempo no Hospital publico, dizendo-me ele ainda na cama em observação que tinha e estava a ser tratado como um vip, não entendendo afinal o que querem as pessoas que só sabem dizer mal do SNS.

O pai de um amigo estava na sua aldeia perto da Covilhã quando partiu uma perna, tendo sido assistido e a perna engessada no serviço de ortopedia do Hospital público da Covilhã. Como o pai anda a ser seguido pelo hospital de Vila Franca de Xira necessitando efetuar exames ali a um pulmão, o filho foi busca-lo, já que o senhor não pode conduzir. A uma pergunta sobre o estado de saúde do pai, o filho começou logo a criticar, que basta ouvir as notícias para se ver a miséria que grassa na saúde, que o pai precisa de efetuar novo Rx para saber como esta, se pode tirar o gesso e só no próximo dia 13 lhe fazem o Rx e que do hospital lhe disseram que teria de esperar para o final do mês. Calado, ouvia sem dizer nada vendo que havia alguma coisa que não batia certo, pois pela experiência que tinha, o medico hospitalar faz pelo sistema interno o pedido de exame, no caso o Rx e sendo senhor utente em pneumonia iria ter essa atenção. Ao fim de algum tempo não me contive e perguntei-lhe se o pai não foi ao médico da ADSE em vez de se dirigir ao hospital onde o ortopedista que o atendesse teria possivelmente acesso aos dados que o Hospital da Covilhã registou e claro que o senhor preferiu mais uma vez um médico privado contratado pela ADSE do que o serviço público. Depois queixam-se que SNS é que está uma miséria. Depressa esqueceram que quando lhe foi detetada uma sombra no pulmão o médico da ADSE o mandou para o Hospital da Luz com médica recomendada. Nesse hospital pagou em dinheiro vivo mais de 400 € e 200€ por dois exames que lhe ficaram de enviar posteriormente pelos CTT, pagando logo o senhor o custo previsto dos portes de correio. Passado quase um mês os referidos exames não tinham chegado à sua casa. No entremeio a preocupação levou-o ao médico de família no Centro de Saúde que de imediato o mandou para o H.V. F. de Xira onde rapidamente lhe marcaram consulta para uma sexta-feira efetuando um novo e primeiro exame no hospital na segunda-feira seguinte sem ter de pagar 0,1 cêntimos. Mas o privado contratado pela ADSE é preferível, é que é bom enchendo depois a boca a dizer mal do SNS publico e gratuito no seu caso.

Este país não tem emenda, com uma classe política submissa aos interesses liberais de Bruxelas, é incapaz de se libertar das amarras invisíveis que os três séculos de ditadura religiosa aos quais se seguiram mais tarde em pleno século vinte quarenta e oito anos de ditadura fascista salazarenta de novo apoiada pelo clero ortodoxo, deixaram na sociedade portuguesa.

O que me vale é que já não irei andar por cá muitos anos, porque até de ter saudades do futuro começo a ter medo.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.