domingo, 14 de janeiro de 2024

19.11.23

Nada mau, esta noite consegui dormir sete horas na horizontal, deitei-me às dez da noite e acordei eram cinco e vinte sete. Doem-me os dedos das mãos e ainda temos de limpar os últimos sacos de azeitona para as colocar em sacos transparentes que as autoridades com suas modernices impõem, havendo quem opte por levá-las em caixas. Assim que tivermos o transporte disponível é necessário carregar e depois de jantarmos iremos para a fila do Lagar passar a noite, esperando ter sorte e conseguir entregá-la na manhã de segunda-feira.

E, ainda dizem que o azeite está caro e dispendioso.

Mas qual azeite é que está caro? Sim qual azeite?

Caro está o país com os jogos de baixa política que ocorrem na cidade grande, esses jogos é que ficam exacerbadamente caros ao país e, a sua sequência em intervalos não constantes nos trazem com o carro de vassoura sempre à vista não saindo do desenvolvimento endémico que nos impõem os liberais de Bruxelas. Partidos maiores cuja política e ideologia é a ambição de poderem exercer a governação nos intervalos das ordens de Bruxelas para fazerem, uns grandes investimentos-negócios com amigos e consultores, enquanto que outros a sua ambição de poder passa por terminar a destruição do fraco Estado Social existente com as suas privatizações ao desbarato para depois ao deixarem a desgovernação ocuparem uma cadeira dourada nos conselhos de administração ou como simples lobistas pomposamente remunerados pelos novos donos do capital.

Cheguei a 25 do mês passado. Só abri a televisão uma vez para ver, cortando o som, o jogo do Sporting com os polacos. Não tenho paciência, nem pachorra para ouvir o que dizem a grande maioria dos papagaios e catatuas sem penas que por lá ganham a vidinha soletrando o que a voz do patrão gosta de ouvir. Gosto mais do silêncio do campo, do murmúrio das árvores, da sinfonia das pequenas aves que vão resistindo às famosas alterações do clima, da exploração agrícola e dos atentados efetuados com chancela oficial à biodiversidade em nome do desenvolvimento económico.

Já não tenho pachorra, paciência para ouvir uns e outros, o meu problema é que não me meto na vida deles, mas eles condicionam e indiretamente metem-se na minha vida. Já éramos um país de doutores e engenheiros e agora também de especialistas onde continuam a faltar senhores.

Irei votar, mas já passei à idade de não acreditar nas promessas que políticos propagandeiam para alcançarem o poder e assim escolherem os amigos perante o aplauso do pequeno rebanho de “yes chefe” que à volta deles vive.

Irei votar pelo respeito que tenho a mim próprio, pelo meu passado, pelo 25 de Abril, pelo sonho e utopia que ainda alimento de uma outra sociedade mais decente e independente, do que aquela que ajudei a construir e onde agora se sobrevive dia a dia com mais dificuldade.

Irei votar, mas o azeite não está caro, a remuneração do fator trabalho é que anda pelas ruas da amargura. Remuneração do fator trabalho que no Estado Novo salazarista-marcelista era de miséria, melhorou com a Nova Ordem Democrática nascida em 25 de Novembro de 1975 sem contudo sair das ruas da amargura.

São sete da manhã, vou para a rua que já me atrasei.

Ouvi, mas logo cortei o pio, ao antigo ministro da segurança social que ao serviço dos troikanos desgovernou o país afirmando na altura que para equilibrar as contas públicas era necessário cortar mais 600 milhões de euros nas reformas e pensões dos reformados e aposentados; vem agora tal sujeito em representação das empresas de comunicação dizer que o preço das comunicações no país está abaixo da média europeia. O incompetente e sabujo ex troikano não diz é que o rendimento disponível das famílias portuguesas está muito abaixo da média europeia porque a remuneração do fator trabalho neste país não sai das ruas da amargura. Isso o neoliberal sabujo não diz porque é pago dizer o que os seus patrões gostam de ouvir.


Saímos pelas oito e trinta da noite. Quando chegamos já lá estava uma fila grande, pois há quem tenha deixado carros particulares a marcar lugar. A esperteza do português. Não vou pensar nisso nem sequer nas horas que temos pela frente. Atrás de nós já chegaram outros carros. O incómodo é não poder esticar as pernas à vontade. 

Ainda dizem que o preço do azeite está caro. 

Qual azeite? Que azeite?


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.