domingo, 4 de junho de 2023

17.05.23

Pela quarta vez lê as folhas escritas que lhe enviou. Depois, deixa-as em ordem no sofá como as imprimiu. Olha-as antes de se deitar ainda pensou em arrumá-las em outro local, mas deixou-as ficar, talvez volte a lê-las de novo, ou não.

Arrumou a tonelada de lenha de azinho que comprou há dois anos. Quando acabou era hora de preparar o almoço. O cansaço pedia qualquer coisa fresca, tirou umas cascas finas a um limão, colocou-as num copo grande que comprou, onde despejou um pouco de gin, adicionando-lhe uns cubos de gelo e água tónica. Enquanto almoçava o bacalhau com grão que lhe tinha sobrado de outra refeição ligou o aparelho de televisão. Os vizinhos espanhóis continuavam a noticiar os diálogos que viu de manhã entre a oposição e o governo, principalmente entre os populares, os falangistas e os socialistas, com a porta-voz do partido basco a intervir também. Problemas que lhe fizeram vir à memória o grande livro Pátria de Fernando Aramburu que leu no final do verão passado. Como tinha visto o debate enquanto tomava o pequeno almoço passou de imediato para a RTP3 que noticiava a visita dos inspetores da Autoridade Fiscal aos três clubes designados grandes, Sporting, Benfica e Porto, não se admirou mas estranhou pois não tem sido hábito da AT passar para os órgãos de comunicação as visitas que faz na sua atividade de fiscalização seja a clubes de futebol seja a grandes empresas, mas ao aparecer no ecrã o comunicado logo viu o porquê, “DCIAP”. Aquilo metia os costumeiros justiceiros que gostam de dar matéria aos amigos da comunicação, como se uma visita de inspeção fosse alguma condenação judicial. Quando viu o advogado que se prestava a comentar o caso de imediato carregou no botão off e desligou. Um advogado que pertence a uma sociedade que é das mais importantes especialistas à fuga de impostos e à transferência para off shores de dinheiros, a comentar a visita dos inspetores da AT num canal da televisão publica referente ao que parece a um processo que corre no ministério público e que já tem barbas mais brancas que as suas, não é para a sua paciência.

Já ontem lhe aconteceu situação idêntica ao ligar o aparelho de televisão, onde uma senhora que dizem ser ministra da agricultura sobre o problema de seca que o país atravessa, lá debitava o terço de rever subsídios aos agricultores, incluindo o do gasóleo, assim como pedir, sempre de mão estendida, aos burocratas liberais sem alma em Bruxelas, desligando de imediato pois fica com os nervos à solta com o que a senhora que dizem ser ministra da agricultura, debita quando fala.

Pouco ou nada sabe de agricultura. Sabe que a célebre PAC defende sobremaneira os interesses das grandes empresas agrícolas de França, Alemanha e Norte de Itália. Sabe que sem água não há vida, não há agricultura, não há aves, não há animais nem florestas, não existira biodiversidade tudo irá secar, morrer como hoje não conhecemos.

Os campos precisam de água para produzirem os bens alimentares que comemos, mais do que encher barragens para fornecer às cidades. Sabe que não pertence a nenhuma organização política ou corporativa agrícola, mas sabe de certeza que subsídio ao gasóleo não cria palha para os pequenos e médios agricultores darem de comer ao gado bovino, caprino (cabras e ovelhas). A senhora a exemplo de anteriores políticos que se intitulam ministros da agricultura, só sabem prometer pedir a Bruxelas autorização para subsídios, muitos deles complexos e burocráticos.

Os agricultores que têm gado, sabem que a senhora não pode fazer chover para as ervas renascerem e o gado as comer, mas sabem que o feno não cresceu, e a palha é um bem raríssimo não existindo no mercado português e espanhol. Precisa-se urgentemente que se encontre quem possa fornecer o mercado de palha a preços não especulativos.

Será que esta necessidade é sentida pelos políticos da agricultura? 

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