Já
não lembro o ano nem quem era governo, quando começou a musica doce
dos subsídios para proprietários, empreendedores agrícolas,
marítimos e industriais, deixarem de produzir, arrancarem vinha e
olival, abaterem cabeças de gado ovino e caprino, abaterem barcos da
pesca costeira, “Tudo a Bem da Nação” diziam-nos então.
Assim,
os rios de dinheiro (subsídios) made in Bruxelas, encheram contas
bancárias, mas o país empobreceu. É claro que em muitos casos era
mais barato importar do que produzir cá dentro, mas há sempre um
mas de sentido contrário, importar significa saída de divisas na
altura, euros depois, empréstimos e juros, mão-de-obra que deixando de trabalhar recorreu
ao Fundo de Desemprego, ou à reforma antecipada; as cidades com os
subsídios para não-trabalhar não-produzirmos, encheram-se de jeeps
e bombas automobilísticas, com todos numa boa, cantando e rindo que
estamos no primeiro mundo.
Hoje
a Lactogal surpreende os seus associados produtores de leite com
argumentos idênticos, tirados a papel químico, das ideias
peregrinas e liberais de então.
Ao
lado, procurando passar na sombra devido ao calor que se faz sentir,
o Ministro da Agricultura mais conhecido por apresentar sempre
soluções para os problemas mediáticos da agricultura com mais uma
nova linha de crédito bancário bonificado, procura que esta
situação seja apenas e só encarada como um problema da economia
privada entre fornecedores e clientes.
Meu
irmão, economista e professor universitário, fez doutoramento em
Poitiers, França. Os meus pais viviam já na Zebreira e tinham na
altura algumas ovelhas, que na altura certa davam leite, para
alimentar as crias e se poder fazer queijo. Como o leite não era
muito compravam leite de vaca, directamente da teta da vaca, e a
minha mãe fazia uns queijos de mistura poucos para eles e para os
filhos. Nas suas deslocações a Poitiers o meu irmão levou uns
queijos para oferecer aos seu mestre orientador do doutoramento,
sabendo que a França tem tantas ou mais variedades de queijo, do que
nós de receitas de bacalhau. Mais tarde minha mãe recebe uma carta
em francês da esposa do orientador e professor universitário,
agradecendo e enaltecendo a oferta dos queijos, pois há muitos anos
que não comiam queijo tão bom em sabor e textura. Queijos, poucos,
que minha mãe fazia para casa com base no leite de ovelha e vaca sem
conservantes a não ser o sal, e com a flor do cardo para o leite
coalhar. Na Zebreira havia quem fizesse bons queijos, de forma
artesanal mas com produção suficiente para ir comercializando, já
que toda a produção era vendida. Lembro-me de ir comprar queijos à
mãe do meu vizinho Alexandre e da Nelinha, a Senhora Carvalha (?) lá
no Espírito Santo.
Claro
que o Sr. Ministro e todos os seus antecessores ignoraram as
qualidades que os nossos produtos artesanais tinham e ainda têm os
que resistem às modernices e interesses da industria química e
multinacionais agro-alimentar.
Falei
no queijo que minha mãe fazia para casa à cabreira, mas podia falar
do azeite extraído a frio das oliveiras em cultura extensiva. Podia
perguntar ou lembrar, porque é que os produtores espanhóis vem a
Portugal à zona raiana da Beira Baixa (pelo menos) comprar azeitona
galega para fazerem com ela azeite?
Mas,
seguindo os interesses das multinacionais, dos liberais de Bruxelas,
os senhores Ministros actuais e antecessores preferem dar subsídios
chorudos ao olival de regadio que vai invadindo os campos do
Alentejo. Preferem subsidiar a cultura do olival de forma intensiva,
cultura essa geradora de vários problemas ambientais, hídricos e
pragas nocivas, para poderem produzir mais azeite de menor qualidade,
sempre subordinados aos rácios dos liberais de Bruxelas não sendo
capazes de dar um murro na mesa em defesa da qualidade que ainda há
quem saiba fazer por cá.
Agora
vou tomar um duche que esta calor e os neurónios sempre refrescam um
pouco.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.