domingo, 5 de agosto de 2018

Lembranças


Já não lembro o ano nem quem era governo, quando começou a musica doce dos subsídios para proprietários, empreendedores agrícolas, marítimos e industriais, deixarem de produzir, arrancarem vinha e olival, abaterem cabeças de gado ovino e caprino, abaterem barcos da pesca costeira, “Tudo a Bem da Nação” diziam-nos então.
Assim, os rios de dinheiro (subsídios) made in Bruxelas, encheram contas bancárias, mas o país empobreceu. É claro que em muitos casos era mais barato importar do que produzir cá dentro, mas há sempre um mas de sentido contrário, importar significa saída de divisas na altura, euros depois, empréstimos e juros, mão-de-obra que deixando de trabalhar recorreu ao Fundo de Desemprego, ou à reforma antecipada; as cidades com os subsídios para não-trabalhar não-produzirmos, encheram-se de jeeps e bombas automobilísticas, com todos numa boa, cantando e rindo que estamos no primeiro mundo.
Hoje a Lactogal surpreende os seus associados produtores de leite com argumentos idênticos, tirados a papel químico, das ideias peregrinas e liberais de então.
Ao lado, procurando passar na sombra devido ao calor que se faz sentir, o Ministro da Agricultura mais conhecido por apresentar sempre soluções para os problemas mediáticos da agricultura com mais uma nova linha de crédito bancário bonificado, procura que esta situação seja apenas e só encarada como um problema da economia privada entre fornecedores e clientes.

Meu irmão, economista e professor universitário, fez doutoramento em Poitiers, França. Os meus pais viviam já na Zebreira e tinham na altura algumas ovelhas, que na altura certa davam leite, para alimentar as crias e se poder fazer queijo. Como o leite não era muito compravam leite de vaca, directamente da teta da vaca, e a minha mãe fazia uns queijos de mistura poucos para eles e para os filhos. Nas suas deslocações a Poitiers o meu irmão levou uns queijos para oferecer aos seu mestre orientador do doutoramento, sabendo que a França tem tantas ou mais variedades de queijo, do que nós de receitas de bacalhau. Mais tarde minha mãe recebe uma carta em francês da esposa do orientador e professor universitário, agradecendo e enaltecendo a oferta dos queijos, pois há muitos anos que não comiam queijo tão bom em sabor e textura. Queijos, poucos, que minha mãe fazia para casa com base no leite de ovelha e vaca sem conservantes a não ser o sal, e com a flor do cardo para o leite coalhar. Na Zebreira havia quem fizesse bons queijos, de forma artesanal mas com produção suficiente para ir comercializando, já que toda a produção era vendida. Lembro-me de ir comprar queijos à mãe do meu vizinho Alexandre e da Nelinha, a Senhora Carvalha (?) lá no Espírito Santo.

Claro que o Sr. Ministro e todos os seus antecessores ignoraram as qualidades que os nossos produtos artesanais tinham e ainda têm os que resistem às modernices e interesses da industria química e multinacionais agro-alimentar.
Falei no queijo que minha mãe fazia para casa à cabreira, mas podia falar do azeite extraído a frio das oliveiras em cultura extensiva. Podia perguntar ou lembrar, porque é que os produtores espanhóis vem a Portugal à zona raiana da Beira Baixa (pelo menos) comprar azeitona galega para fazerem com ela azeite?
Mas, seguindo os interesses das multinacionais, dos liberais de Bruxelas, os senhores Ministros actuais e antecessores preferem dar subsídios chorudos ao olival de regadio que vai invadindo os campos do Alentejo. Preferem subsidiar a cultura do olival de forma intensiva, cultura essa geradora de vários problemas ambientais, hídricos e pragas nocivas, para poderem produzir mais azeite de menor qualidade, sempre subordinados aos rácios dos liberais de Bruxelas não sendo capazes de dar um murro na mesa em defesa da qualidade que ainda há quem saiba fazer por cá.
Agora vou tomar um duche que esta calor e os neurónios sempre refrescam um pouco.

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