Quantos
sonhos eu tive desde o dia em que ficou assente a tua
adopção, quantos sonhos…
Imaginava
eu, nós os dois a passearmos, a fazermos os nossos quilómetros
nas calmas pelos trilhos à beira Tejo, tirando eu uma fotografia
ao rio, outra a ti, outra a uma das aves que por ali vivem,
imaginava...
Sonhava
eu, contigo a meu lado, sentada ou deitada quando
encontrássemos um banco público onde batesse a sombra nos dias
de maior calor, sonhava…
Mas
tu não tens culpa de eu te escolher entre os teus irmãos,
nem eu sequer tenho culpa… talvez se tivesses adivinhado como eu
sou, te terias recusado a vir comigo, aguardando um outro ser humano
mais dócil para te fazer companhia...
Tens
um génio próprio, esperta, sempre atenta a
poderes liderar toda e qualquer situação, seja ela
visível ou invisível ao meu olhar… não és fácil de lidar,
tens a boca sempre pronta a mostrar os teus dentes brancos
de cadela pastor alemã, não mordes mas… metes respeito...
Na
rua continuo a perder a paciência contigo, quando encontras outros
animais de quatro patas, puxas a trela, elevas no ar as patas
dianteiras, rodas na tentativa de te livrares do meu controle,
fazendo-me sentir um carcereiro da tua liberdade, quando não o sou,
e sinto que ficas triste comigo por não te deixar brincar com o
outro, não te deixar correr atrás dos outros animais baixinhos como
os cá de casa, contrariada não atendes, não respeitas as minhas
ordens para “sentar” antes de, nas passadeiras atravessarmos a
estrada, não sem primeiro nos certificarmos da civilidade dos
condutores, bem quando te chamo pelo teu nome para olhares para mim
e usufruíres do biscoito compensatório, pois tu és pastor
alemã dona e senhora do teu nariz…
Como
sou um sonhador, não imagino como vai ser quando formos para
a Consolação passar uns dias. A casa é pequena, com gente
estranha a passar dia e noite ao pé de casa… será que vais
ladrar sempre que alguém passar à porta, ou à janela do quarto?
E,
quando formos passear no areal pela maré baixa, será que vou
sentir confiança em ti para te deixar andar à solta na beira mar…
como irás reagir às ondas, serás afoita como foi o Onix, ou
medrosa como era o Master? Como irás reagir às gaivotas, voarás
atrás delas na ânsia de lhes mostrares quem és? Mas se te deixo em
Liberdade e vês outras pessoas a passear mesmo que a mais de cem
metros, correrás para elas para as cumprimentares colocando as patas
dianteiras no corpo e procurando mostrar-lhes como os teus dentes são
bonitos e preciosos?
Tantas
duvidas, tantos sonhos, incertezas e medos, mas
cheguei de novo à estação dos comboios no regresso a casa há
que guardar o telemóvel que a bateria já deu sinal.
Tudo isto porque me esqueci de que tu és uma cadela e não um ser humano pelo que terei de ter aquela paciência que às vezes me falta.
Tudo isto porque me esqueci de que tu és uma cadela e não um ser humano pelo que terei de ter aquela paciência que às vezes me falta.
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