segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Sacha 060818



Quantos sonhos eu tive desde o dia em que ficou assente a tua adopção, quantos sonhos…
Imaginava eu, nós os dois a passearmos, a fazermos os nossos quilómetros nas calmas pelos trilhos à beira Tejo, tirando eu uma fotografia ao rio, outra a ti, outra a uma das aves que por ali vivem, imaginava...
Sonhava eu, contigo a meu lado, sentada ou deitada quando encontrássemos um banco público onde batesse a sombra nos dias de maior calor, sonhava…
Mas tu não tens culpa de eu te escolher entre os teus irmãos, nem eu sequer tenho culpa… talvez se tivesses adivinhado como eu sou, te terias recusado a vir comigo, aguardando um outro ser humano mais dócil para te fazer companhia...
Tens um génio próprio, esperta, sempre atenta a poderes liderar toda e qualquer situação, seja ela visível ou invisível ao meu olhar… não és fácil de lidar, tens a boca sempre pronta a mostrar os teus dentes brancos de cadela pastor alemã, não mordes mas… metes respeito...
Na rua continuo a perder a paciência contigo, quando encontras outros animais de quatro patas, puxas a trela, elevas no ar as patas dianteiras, rodas na tentativa de te livrares do meu controle, fazendo-me sentir um carcereiro da tua liberdade, quando não o sou, e sinto que ficas triste comigo por não te deixar brincar com o outro, não te deixar correr atrás dos outros animais baixinhos como os cá de casa, contrariada não atendes, não respeitas as minhas ordens para “sentar” antes de, nas passadeiras atravessarmos a estrada, não sem primeiro nos certificarmos da civilidade dos condutores, bem quando te chamo pelo teu nome para olhares para mim e usufruíres do biscoito compensatório, pois tu és pastor alemã dona e senhora do teu nariz…
Como sou um sonhador, não imagino como vai ser quando formos para a Consolação passar uns dias. A casa é pequena, com gente estranha a passar dia e noite ao pé de casa… será que vais ladrar sempre que alguém passar à porta, ou à janela do quarto?
E, quando formos passear no areal pela maré baixa, será que vou sentir confiança em ti para te deixar andar à solta na beira mar… como irás reagir às ondas, serás afoita como foi o Onix, ou medrosa como era o Master? Como irás reagir às gaivotas, voarás atrás delas na ânsia de lhes mostrares quem és? Mas se te deixo em Liberdade e vês outras pessoas a passear mesmo que a mais de cem metros, correrás para elas para as cumprimentares colocando as patas dianteiras no corpo e procurando mostrar-lhes como os teus dentes são bonitos e preciosos?
Tantas duvidas, tantos sonhos, incertezas e medos, mas cheguei de novo à estação dos comboios no regresso a casa há que guardar o telemóvel que a bateria já deu sinal.
Tudo isto porque me esqueci de que tu és uma cadela e não um ser humano pelo que terei de ter aquela paciência que às vezes me falta.

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