quarta-feira, 12 de junho de 2019

08.06


De uma forma ou de outra a gente se habitua, com mais ou menos aceitação dos factos, nunca deixamos de ser pessoas de hábitos. Mais ou menos conservadores, mais ou menos revolucionários no sentido de rebeldia perante os hábitos e costumes da sociedade onde nos inserimos. Ela própria, a macro-imagem de hábitos e costumes que nós criamos em colectivo sem muitas vezes tomarmos consciência disso; outros com poder nos impõem hábitos e costumes de forma suave ou violenta e, nos fazem crer numa salvação à posterior se nos portarmos de acordo com os seus interesses de classe.
Mais uma vez, mais um dia em que o meu ser foi despertando à medida que a rotação do planeta nos proporciona a chegada dos raios e energias diurnas. Na cidade, no campo ou junto ao mar é este o momento de abraçar o novo dia, dando-me e agradecendo a oportunidade de poder viver estes momentos, ouvir o silêncio, escutar o meu próprio ser, deixando-me embalar nas coisas boas já vividas, para não ter medo do que a vida me possa trazer e dar, para ganhar a força e a vontade de continuar a fazer o meu caminho, a ouvir e a escutar o que não nos querem dizer, a ver um pouco mais do que as imagens e cenas que nos oferecem.
Hoje é um dia especial, diferente de muitos outros que por mim passaram. Não é por ser sábado, que para este “velhote” reformado tanto faz que seja sábado, domingo ou segunda, pois os dias já são todos iguais.. Hoje é especial por há quarenta e dois anos ter realizado um sonho, um desejo maior que muitos outros. Um desejo sonhado numa tarde, na longínqua cidade de Luanda quando nas férias dadas pelas altas patentes, deixando para trás a minha fiel companheira G3, fugia à prisão do arame farpado, fugia às rações de combate, em busca de um outro sol, de um outro ar, esperando a noite chegar para voar para o colo de minha mãe, os braços de meu pai e irmão. Na rotunda então chamada Serpa Pinto olhando o céu do azul de Angola encontrei em letras sagradas e imortalizadas no canto, o nome que há quarenta e dois anos dei à primeira filha.
São dias a juntar a muitos outros, cada um diferente mas, todos com o seu quê de especial.
Dias e lembranças que ajudam a viver e resistir neste mundo tão distante da democracia que Abril nos fez sonhar, mas, que Novembro tratou de acalmar para hoje vivermos neste tempo onde a alienação se uniu ao fanatismo e a verdade deixou de ter espaço e importância. Um tempo em que, como no tempo do "botas" e do "professor" o maior cego é aquele que não quer ver. Mas, nesse tempo ainda tínhamos a alternativa da comunicação social em jornais opositores que nos ensinaram a ler e a ver nas entrelinhas, enquanto hoje, seja pública ou privada a comunicação social alinha toda ela pelo mesmo método fechado de análise por forma a impedir o progresso das consciências, distraindo-nos com reality shows e a promoção de figuras duvidosas.
Tenham um bom fim de semana, aproveitem o feriado que de Camões nunca teve nada, passando depois de Abril a uma outra qualquer designação apenas e só interessante para os políticos e seus correlegionários à volta do poder, na distribuição de viagens e comendas, como sempre, antes e agora, distante de quem trabalha e sofre para viver e sobreviver neste bocado de jardim à beira mar criado mas sempre adiado, onde as flores há muito deixaram de florir.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.