De
uma forma ou de outra a gente se habitua, com mais ou menos aceitação
dos factos, nunca deixamos de ser pessoas de hábitos. Mais ou menos
conservadores, mais ou menos revolucionários no sentido de rebeldia
perante os hábitos e costumes da sociedade onde nos inserimos. Ela
própria, a macro-imagem de hábitos e costumes que nós criamos em
colectivo sem muitas vezes tomarmos consciência disso; outros com
poder nos impõem hábitos e costumes de forma suave ou violenta e,
nos fazem crer numa salvação à posterior se nos portarmos de
acordo com os seus interesses de classe.
Mais
uma vez, mais um dia em que o meu ser foi despertando à medida que a
rotação do planeta nos proporciona a chegada dos raios e energias
diurnas. Na cidade, no campo ou junto ao mar é este o momento de
abraçar o novo dia, dando-me e agradecendo a oportunidade de poder
viver estes momentos, ouvir o silêncio, escutar o meu próprio ser,
deixando-me embalar nas coisas boas já vividas, para não ter medo
do que a vida me possa trazer e dar, para ganhar a força e a vontade
de continuar a fazer o meu caminho, a ouvir e a escutar o que não
nos querem dizer, a ver um pouco mais do que as imagens e cenas que
nos oferecem.
Hoje
é um dia especial, diferente de muitos outros que por mim passaram.
Não é por ser sábado, que para este “velhote” reformado tanto
faz que seja sábado, domingo ou segunda, pois os dias já são todos
iguais.. Hoje é especial por há quarenta e dois anos ter realizado
um sonho, um desejo maior que muitos outros. Um desejo sonhado numa
tarde, na longínqua cidade de Luanda quando nas férias dadas pelas
altas patentes, deixando para trás a minha fiel companheira G3,
fugia à prisão do arame farpado, fugia às rações de combate, em
busca de um outro sol, de um outro ar, esperando a noite chegar para
voar para o colo de minha mãe, os braços de meu pai e irmão. Na
rotunda então chamada Serpa Pinto olhando o céu do azul de Angola
encontrei em letras sagradas e imortalizadas no canto, o nome que há
quarenta e dois anos dei à primeira filha.
São
dias a juntar a muitos outros, cada um diferente mas, todos com o seu
quê de especial.
Dias
e lembranças que ajudam a viver e resistir neste mundo tão distante
da democracia que Abril nos fez sonhar, mas, que Novembro tratou de
acalmar para hoje vivermos neste tempo onde a alienação se uniu ao
fanatismo e a verdade deixou de ter espaço e importância. Um tempo
em que, como no tempo do "botas" e do "professor"
o maior cego é aquele que não quer ver. Mas, nesse tempo ainda
tínhamos a alternativa da comunicação social em jornais opositores
que nos ensinaram a ler e a ver nas entrelinhas, enquanto hoje, seja
pública ou privada a comunicação social alinha toda ela pelo mesmo
método fechado de análise por forma a impedir o progresso das
consciências, distraindo-nos com reality shows e a promoção
de figuras duvidosas.
Tenham
um bom fim de semana, aproveitem o feriado que de Camões nunca teve
nada, passando depois de Abril a uma outra qualquer designação
apenas e só interessante para os políticos e seus correlegionários à volta do poder, na distribuição de viagens e comendas, como
sempre, antes e agora, distante de quem trabalha e sofre para viver e
sobreviver neste bocado de jardim à beira mar criado mas sempre
adiado, onde as flores há muito deixaram de florir.
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