sexta-feira, 24 de novembro de 2017



Quando o último antigo combatente das campanhas africanas de Angola, Guiné e Moçambique, terminar esta nossa viagem no tempo.
Quando já não houver memória-viva que possa contar aos netos e bisnetos, o que foi sofrer, o que foi andar numa guerra sem nexo, apenas porque alguns espíritos iluminados queriam manter a todo o custo um império que nunca existiu, sob as suas influências e ordens, para que “as famílias amigas” pudessem continuar a sua acumulação de capital à custa das populações que habitavam e viviam nessas antigas colónias, transformadas em pérolas do tal império.
Quando isso acontecer, quando os números oficiosos, das estatísticas, dos rácios, assim o decretarem, o Presidente da Republica, o Governo e o Parlamento, irão em sessão unânime propor um voto, de saudade para alguns poucos, e de descanso para a maioria que assim se livra definitivamente do incomodo que os grisalhos-antigos-combatentes teimavam em representar, de uma guerra que só existia na memória deles, pois não consta nem contará dos manuais da história futura.
Quando tal acontecer, quando já não existir lembrança dessa peste grisalha, mas, algum neto, algum bisneto dessa memória que o seu avô, o seu bisavó falava, e que um dia encontrou no fundo do baú cartas escritas em papel azul e amarelo chamado aerograma (coisa esquisita) que a sua avó, a sua bisavó, a sua namorada ou a sua madrinha-de-guerra lhe escreveram quando andava nessa tal guerra... Quando tal acontecer e fizer nascer em si a curiosidade de ir em busca pelo país, se ainda existir país, dessa memória na toponímia das avenidas, das praças, das ruas, dos largos, das quelhas e veredas, qualquer dois ou três kbytes do seu caderno de apontamentos digital, servirão para referenciar qual o lugar, qual a aldeia, qual a vila, qual o concelho, qual a cidade que decidiu um dia homenagear os seus filhos jovens que um dia foram combater nas antigas colónias ultramarinas em troca de uma mão cheia de nada, numa quelha, num largo, numa rua, numa praça, numa avenida com os simples dizeres anónimos “Antigos Combatentes do Ultramar”

Quando tal acontecer…

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