Quando
o último antigo combatente das campanhas africanas de Angola,
Guiné e Moçambique, terminar esta nossa viagem no tempo.
Quando
já não houver memória-viva que possa contar aos netos e bisnetos,
o que foi sofrer, o que foi andar numa guerra sem nexo, apenas
porque alguns espíritos iluminados queriam manter a todo o custo um
império que nunca existiu, sob as suas influências e ordens, para
que “as famílias amigas” pudessem continuar a sua acumulação
de capital à custa das populações que habitavam e viviam nessas
antigas colónias, transformadas em pérolas do tal império.
Quando
isso acontecer, quando os números oficiosos, das estatísticas, dos
rácios, assim o decretarem, o Presidente da Republica, o Governo e o
Parlamento, irão em sessão unânime propor um voto, de saudade para
alguns poucos, e de descanso para a maioria que assim se livra
definitivamente do incomodo que os grisalhos-antigos-combatentes
teimavam em representar, de uma guerra que só existia na memória
deles, pois não consta nem contará dos manuais da história futura.
Quando
tal acontecer, quando já não existir lembrança dessa peste
grisalha, mas, algum neto, algum bisneto dessa memória que o seu
avô, o seu bisavó falava, e que um dia encontrou no fundo do baú
cartas escritas em papel azul e amarelo chamado aerograma (coisa
esquisita) que a sua avó, a sua bisavó, a sua namorada ou a sua
madrinha-de-guerra lhe escreveram quando andava nessa tal guerra...
Quando tal acontecer e fizer nascer em si a curiosidade de ir em
busca pelo país, se ainda existir país, dessa memória na toponímia
das avenidas, das praças, das ruas, dos largos, das quelhas e
veredas, qualquer dois ou três kbytes do seu caderno de apontamentos
digital, servirão para referenciar qual o lugar, qual a aldeia, qual
a vila, qual o concelho, qual a cidade que decidiu um dia homenagear
os seus filhos jovens que um dia foram combater nas antigas colónias
ultramarinas em troca de uma mão cheia de nada, numa quelha, num
largo, numa rua, numa praça, numa avenida com os simples dizeres
anónimos “Antigos Combatentes do Ultramar”
Quando
tal acontecer…
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.