domingo, 26 de novembro de 2017

Vim de um tempo em que as palavras escritas tinham a força suficiente para iludirem “o lápis azul” não deixando cair “a força da razão”
Vim de um tempo onde a meio da tarde, alguns mais afoitos, vendendo parte do seu ganha pão, gritavam pelas ruas da cidade, Lisboa, Capital, Republica, Popular, enquanto «ouvidos clandestinos» mas atentos tomavam suas notas observando quem comprava os jornais e que jornais comprava
Vim de um tempo em que a educação começava pela casa familiar, pela escola e pela leitura de jornais, revistas e livros e ia até ao termino da viagem que é a vida. Um tempo onde o Estado Novo salazarista ditatorial tinha medo da liberdade de pensamento que o aprender a ler poderia trazer aos cidadãos
Vim de um tempo sem Liberdade, onde uns obedeciam ordeiramente, outros integravam as forças obscurantistas, outros lutavam clandestinamente contra o regime opressivo da Liberdade, e outros para emigrarem tinham de o fazer clandestinamente “a salto”
Vim de um tempo que como todos os tempos seus antecedentes foi-se deslocando para o passado, deixando de ter o seu presente e dando espaço ao tempo novo
Tempos novos foram chegando, carregados de esperanças, anunciados por velhas e renovadas antenas; com esses tempos novos aportou ao país a Liberdade numa madrugada redentora
Tempos novos de muitas esperanças e utopias; um tempo onde o tempo parecia não ter tempo, tantas as esperanças, tantos os sonhos sonhados e desejados
Mas, com os tempos novos vieram também novos tempos mais calmos, mais enquadrados numa tal ordem democrática multi-unívoca; para trás, no horizonte ficaram algumas das esperanças, nas estantes e nos baús estão guardados os livros e os discos de vinil difusores de outras utopias
No tempo de hoje, vivo num tempo confuso, onde nada parece ser o que é
No tempo de hoje mais do que nunca a memória colectiva esta doente, cada vez mais curta, ignorando a nossa dimensão, a nossa capacidade de sobrevivência como estado independente e soberano; no tempo de hoje são muitos os deveres e poucas riquezas alternativas à nossa força de trabalho
No tempo de hoje não nos iludamos com as liberdades televisivas e internautas, eles tratam-nos da saúde se não trabalharmos mais e melhor por nós; se nos deixarmos embalar quando acordarmos dos embalos e das novelas já os nossos netos estão a viver no tempo de onde viemos, de onde conseguimos fugir; eles continuam atentos e não dormem!
No tempo de hoje, «os direitos, deveres e obrigações» ainda não são o sentido orientador e ordenado; ainda vivemos no tempo de hoje um tempo onde a ordem ainda terá de ser «os deveres, os direitos e as obrigações» a força motora do sentido da economia e da vida colectiva
No tempo de hoje precisamos de um Estado mais rico, mais solidário com os seus cidadãos; onde não se pode confundir solidariedade com cedências e facilitismo, quaisquer que sejam as forças que vivam e negoceiem «os deveres, direitos e obrigações»  

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