Vim
de um tempo em que as palavras escritas tinham a força suficiente
para iludirem “o lápis azul” não deixando cair “a força da
razão”
Vim
de um tempo onde a meio da tarde, alguns mais afoitos, vendendo parte
do seu ganha pão, gritavam pelas ruas da cidade, Lisboa, Capital,
Republica, Popular, enquanto «ouvidos clandestinos» mas atentos
tomavam suas notas observando quem comprava os jornais e que jornais
comprava
Vim
de um tempo em que a educação começava pela casa familiar, pela
escola e pela leitura de jornais, revistas e livros e ia até ao
termino da viagem que é a vida. Um tempo onde o Estado Novo
salazarista ditatorial tinha medo da liberdade de pensamento que o
aprender a ler poderia trazer aos cidadãos
Vim
de um tempo sem Liberdade, onde uns obedeciam ordeiramente, outros
integravam as forças obscurantistas, outros lutavam clandestinamente
contra o regime opressivo da Liberdade, e outros para emigrarem
tinham de o fazer clandestinamente “a salto”
Vim
de um tempo que como todos os tempos seus antecedentes foi-se
deslocando para o passado, deixando de ter o seu presente e dando
espaço ao tempo novo
Tempos
novos foram chegando, carregados de esperanças, anunciados por
velhas e renovadas antenas; com esses tempos novos aportou ao país a
Liberdade numa madrugada redentora
Tempos
novos de muitas esperanças e utopias; um tempo onde o tempo parecia
não ter tempo, tantas as esperanças, tantos os sonhos sonhados e desejados
Mas,
com os tempos novos vieram também novos tempos mais calmos, mais
enquadrados numa tal ordem democrática multi-unívoca; para trás,
no horizonte ficaram algumas das esperanças, nas estantes e nos baús
estão guardados os livros e os discos de vinil difusores de outras
utopias
No
tempo de hoje, vivo num tempo confuso, onde nada parece ser o que é
No
tempo de hoje mais do que nunca a memória colectiva esta doente,
cada vez mais curta, ignorando a nossa dimensão, a nossa capacidade
de sobrevivência como estado independente e soberano; no tempo de
hoje são muitos os deveres e poucas riquezas alternativas à nossa
força de trabalho
No
tempo de hoje não nos iludamos com as liberdades televisivas e
internautas, eles tratam-nos da saúde se não trabalharmos mais e
melhor por nós; se nos deixarmos embalar quando acordarmos dos
embalos e das novelas já os nossos netos estão a viver no tempo de
onde viemos, de onde conseguimos fugir; eles continuam atentos e não
dormem!
No
tempo de hoje, «os direitos, deveres e obrigações» ainda não são
o sentido orientador e ordenado; ainda vivemos no tempo de hoje um
tempo onde a ordem ainda terá de ser «os deveres, os direitos e as
obrigações» a força motora do sentido da economia e da vida
colectiva
No
tempo de hoje precisamos de um Estado mais rico, mais solidário com
os seus cidadãos; onde não se pode confundir solidariedade com
cedências e facilitismo, quaisquer que sejam as forças que vivam e
negoceiem «os deveres, direitos e obrigações»
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.