segunda-feira, 22 de junho de 2020

Os poderes e o vírus


Os poderes, presidencial, executivo e legislativo ainda não encontraram a melhor saída da rotunda do «medo-confiança» onde entraram de cabeça sem antes pararem e pensarem três vezes. Depois de terem instituído formalmente o medo, os órgãos da comunicação social em busca de audiências sem olharem a meios instituíram o pânico na sociedade. O país entrou em quase coma induzido. Ao darem por isso, os poderes presidencial e governativo (o legislativo continua em situação de coma induzido) saltaram para fora da rotunda dando vivas e olés procurando transmitir confiança aos cidadãos. Esqueceram-se mais uma vez da falta de educação cívica que existe na sociedade. Depois aparecem os lobistas de todos ao matizes a pressionarem o Governo com o palavreado de que este e aquele sector de actividade reclama «queremos trabalhar».

Desde o mês de Março mesmo em estado de emergência que se notava o receio, o medo que os do Governo tinham com o verão e as férias que a quase totalidade da população pensa ser um direito sem discussão.

A saúde primeiro foi o mote para a emergência. Com o aproximar do desejado calor de verão entrou-se no estado de calamidade onde os mesmos que instituíram o pânico vão dando voz aos que olhando para o seu negócio sazonal esquecem a saúde primeiro e querem a vida social e mundana a todo o custo.

Está mais uma vez à vista o que pode acontecer com as festas e romarias sociais, com as visitas aos lares de idosos, porque coitadinhos dos velhinhos não poderem receber as visitas dos familiares diziam alguns e ele tomava nota da intenção que essas notícias tinham por detrás.
Os ajuntamentos de jovens pela noite. As festinhas particulares e privadas. As empresas que não cuidaram da segurança na higiene cívica dos seus colaboradores. Tudo aconteceu e acontece. Assim do país modelo no combate ao vírus estamos a um passo do poço em apenas um mês . Como ainda estamos longe da educação cívica de outros povos. Somos um país onde o Chico Esperto continua a ser uma imagem de marca tão popular como a do Zé Povinho.

Almoçava no domingo o seu guisado de borrego dando atenção à entrevista que ocorre nesse dia na Antena 1. O entrevistado era o ministro da propaganda do actual governo e do partido político que dirige os destino do país. Deu-lhe atenção porque não é figura do seu agrado. Quando o ministro da propaganda começou por enaltecer o civismo dos portugueses face ao covid-19 veio-lhe à imagem o ministro da propaganda iraquiano aquando da triste e assassina invasão do Iraque pelas forças americanas. Com os americanos às portas de Beirute ainda o tal ministro falava das pesadas derrotas que estavam a infligir ao invasor. Assim lhe pareceu o nosso actual ministro da propaganda. E só não lhe deu um treco ao ouvi-lo enaltecer as vitórias alcançadas contra a propagação do vírus, indo buscar como exemplo a realização em Lisboa dos jogos finais de futebol da UEFA deste ano. Valeu-lhe o almoço estar-lhe a saber bem, o vinho Alpedrinha da Adega do Fundão a ser boa companhia e depois de umas boas cerejas da Gardunha o café e um cálice pequenino de uma boa aguardente bagaceira, tudo produtos nacionais incluindo os ingredientes que a terra dá com que preparou o seu almoço. O ministro foi falando mas ele desligou, não é figura política do seu agrado, o pouco que ouviu sobejou-lhe.

Para ele tudo o que esta a acontecer era previsível que viesse a suceder, face à estratégia delineada no mês de Março. O medo nunca foi bom conselheiro. Ele sempre foi dizendo aos que não o ouvem, que «nem tanto ao mar nem tanto à terra». O achatar da celebre curva indiciava o prolongamento da crise com novos contágios.

Depois há políticas na gestão dos meios públicos que vêm de trás, de vários governos e que não se alteram ou emendam de um dia para o outro. Investiu-se e investe-se rios de dinheiro numa Autoridade de Proteção Civil que pouco ou nada protege e deixou-se para segundo plano o investimento nas forças de segurança, seja em meios físicos seja em meios humanos, que na presente batalha contra o inimigo invisível tanta falta fazem, já que, os existentes meios humanos não chegam para controlar e vigiar todos os locais onde os cidadãos irresponsáveis, mal criados civicamente, se reúnem em convívio, seja de dia ou pela calada da noite. E, nem quer falar, comentar a tão importante ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho.
Já os de mais idade lhe diziam: - cá se fazem, cá se pagam. Só que por uns pagam os outros e sempre assim foi e sempre assim será.


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