sexta-feira, 8 de março de 2019

Voltando


Cheguei à cidade grande depois de mais uma viagem calma por autoestrada, com o piso da A23 a chamar a atenção para o seu estado, mas não vou entrar nesse tema que mexe com despesa pública, com previsões e objectivos orçamentais, com cumplicidades entre o público e o privado, já que a mesma é uma SCUT.
Ligo a televisão, viajo entre canais e tenho vontade de voltar para trás, ficar no sossego da casa pequena rodeado seja pelo silêncio, seja pelo barulho dos camiões no vai e vem para e de Espanha, seja pelo assobiar do vento ou do canto da chuva a alimentar a esperança de quem tanto precisa dela.
Na manhã seguinte vou ao centro da cidade grande tratar de assuntos, ligo o rádio do carro e é só o tal de juiz desembargador que ocupa a manhã na TSF. Ouvi uns contra, outros nem tanto, e, poucos concordando com o clausulado jurídico que sustenta a decisão tomada.
As minhas dúvidas sobre a Justiça são como o brandy Constantino, vêm de longe. É difícil quase impossível ser-se isento. A Justiça é sempre a imagem da classe dominante, mais ou menos desfocada mas é.
O juiz desembargador em causa, no primeiro acórdão, levantou e bem, uma onda de reprovação, mas ele não decidiu sozinho, no total foram cinco juízes se não estou em erro; neste segundo talvez tenha também actuado em parceria com outro ou outros juízes, não sei. O problema na minha opinião ultrapassa a figura da pessoa em causa.
Há no sistema de justiça como em outros sectores da nossa vida em sociedade grupos sócio-profissionais que actuam de forma corporativa. Uns com sindicatos, outros com associações sindicais, mas todos procurando defender unicamente os interesses do umbigo do seu rebanho, incapazes de olharem a sociedade envolvente e o futuro com olhos solidários para todos aqueles que precisam deles. Aqueles que na verdade são o garante da necessidade do seu posto de trabalho.
As greves cirúrgicas dos enfermeiros servem-se dos doentes indefesos para exigirem do Estado condições que o SNS publico parece não ter condições de lhes proporcionar. Com essas greves atacam e desgastam o SNS favorecendo implicitamente as instituições privadas de saúde.
As greves dos professores servem-se dos alunos para reivindicarem a contagem total dos anos, meses, dias, horas, minutos e segundos em que a mesma ficou suspensa para efeito de contagem de tempo nas progressões de carreira, ou seja nas subidas de escalão quase automática fazendo jus à velha história de “a velhice é um posto”.
Os Juízes com a sua associação sindical querem ser uma ilha só de direitos, regalias e mordomias, acima e sustentada pelo próprio Estado-contribuinte, esquecendo, ignorando de todo a própria Constituição. Para alguns deles é mais fonte de Lei a bíblia e se calhar o alcorão, do que a Constituição e as Leis aprovadas na Assembleia da República.
Como mudar este estado de coisas onde organizações sócio profissionais de ideologias políticas diferenciadas, na prática se equivalem na sua luta por mais dinheiro e regalias, em que todos apregoam o Estado de Direito olhando exclusivamente para o seu umbigo, semeando nos seguidores as sementes do fanatismo e da intolerância quanto ao Estado Democrático que os sustenta como trabalhadores de primeira.
Será que as palavras Igualdade, Fraternidade, Solidariedade foram apagadas do dicionário da vida colectiva em sociedade democrática ou sou eu que de tanto andar pela outra margem estou a ficar fora do mundo?


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