39 anos se passaram.
Na noite anterior tínhamos ido ao Teatro Aberto assistir ao
espectáculo do José Mário Branco. A tua irmã ficou salvo erro
pela primeira vez em casa de teus avós maternos. Logo pela manhã do
dia 5 de Dezembro levei a tua mãe para a Maternidade Alfredo da
Costa como estava programado e acordado com o médico assistente já
que a gravidez
foi considerava de alto
risco. Naquele tempo em que
nasceste a tecnologia não permitia estas coisas de ecografias para
se saber-se se é menino ou menina se
o feto se desenvolve perfeito etc.
Tínhamos andado por especialistas em Santa Maria porque um médico
notou um
síndroma que possivelmente a tua mãe poderia ter e
por esse facto a
probabilidade de nasceres perfeita era depois
de estudos e reuniões de
50%.
Ainda não eram as oito e meia da
manhã e já tua mãe tinha
entrado na Maternidade,
ficando eu sentado na sala de espera. O tempo passava. Chegavam novas
parturientes com seus companheiros e pouco tempo depois saiam felizes
e contentes. Só eu não sabia nada do que se passava com a tua mãe.
Cenários macabros passavam pela minha frente. A hora do almoço
chegou e passou mas não tinha vontade de nada e de nada sabia o que
se estava a passar lá dentro. Aguentava, às vezes sentado, outras
andando cá fora no passeio para trás e para a frente sem saber o
que pensar da vida, outra menina? Ou um rapaz? Pouco me importava, o
medo que me fazia suar era a incerteza da perfeição… e as horas
passavam no seu
passo certo. Os que há minha
volta andavam só falavam no que tinha acontecido na noite anterior,
mas eu queria lá saber do
que tinha acontecido. Já
passava das sete da noite quando finalmente soube que era pai de mais
uma menina e que era perfeitinha. Ao fim de tantas horas de
sofrimento a alegria, a felicidade tinha chegado. Fui para casa com a
tua irmã Catarina de três anos e meio. No dia seguinte à hora
certa das visitas lá estávamos os dois eu e ela e depois o meu
amigo Necas para te observarmos de novo através dos vidros
aguardando a hora de podermos
ver a tua mãe ainda
combalida da intervenção cirúrgica mas feliz por tudo correr bem e
os medos de nove meses não se terem verificado felizmente.
Como estava acordado se fosses rapaz
era a tua mãe que escolhia o nome, mas se fosses menina era eu que
de novo escolhia o teu nome e assim ficaste Joana Andrade até hoje.
Nasceste, criei-te e dei-te asas
para que tenhas saúde, sejas feliz a teu modo e é só isso que te
desejo filha enquanto eu por cá andar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.