sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

05 de Dezembro


39 anos se passaram. Na noite anterior tínhamos ido ao Teatro Aberto assistir ao espectáculo do José Mário Branco. A tua irmã ficou salvo erro pela primeira vez em casa de teus avós maternos. Logo pela manhã do dia 5 de Dezembro levei a tua mãe para a Maternidade Alfredo da Costa como estava programado e acordado com o médico assistente já que a gravidez foi considerava de alto risco. Naquele tempo em que nasceste a tecnologia não permitia estas coisas de ecografias para se saber-se se é menino ou menina se o feto se desenvolve perfeito etc. Tínhamos andado por especialistas em Santa Maria porque um médico notou um síndroma que possivelmente a tua mãe poderia ter e por esse facto a probabilidade de nasceres perfeita era depois de estudos e reuniões de 50%.
Ainda não eram as oito e meia da manhã e já tua mãe tinha entrado na Maternidade, ficando eu sentado na sala de espera. O tempo passava. Chegavam novas parturientes com seus companheiros e pouco tempo depois saiam felizes e contentes. Só eu não sabia nada do que se passava com a tua mãe. Cenários macabros passavam pela minha frente. A hora do almoço chegou e passou mas não tinha vontade de nada e de nada sabia o que se estava a passar lá dentro. Aguentava, às vezes sentado, outras andando cá fora no passeio para trás e para a frente sem saber o que pensar da vida, outra menina? Ou um rapaz? Pouco me importava, o medo que me fazia suar era a incerteza da perfeição… e as horas passavam no seu passo certo. Os que há minha volta andavam só falavam no que tinha acontecido na noite anterior, mas eu queria lá saber do que tinha acontecido. Já passava das sete da noite quando finalmente soube que era pai de mais uma menina e que era perfeitinha. Ao fim de tantas horas de sofrimento a alegria, a felicidade tinha chegado. Fui para casa com a tua irmã Catarina de três anos e meio. No dia seguinte à hora certa das visitas lá estávamos os dois eu e ela e depois o meu amigo Necas para te observarmos de novo através dos vidros aguardando a hora de podermos ver a tua mãe ainda combalida da intervenção cirúrgica mas feliz por tudo correr bem e os medos de nove meses não se terem verificado felizmente.
Como estava acordado se fosses rapaz era a tua mãe que escolhia o nome, mas se fosses menina era eu que de novo escolhia o teu nome e assim ficaste Joana Andrade até hoje.
Nasceste, criei-te e dei-te asas para que tenhas saúde, sejas feliz a teu modo e é só isso que te desejo filha enquanto eu por cá andar.

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