A
cada
ano que passa o seu Natal fica sempre um pouco mais distante. Foi
menino e jovem de um Natal diferente em tudo. Naquele
tempo de muitas dificuldades económicas onde a liberdade de
expressão estava acorrentada e a de pensamento era condicionada não
fossem as paredes escutar o que baixinho se falava, o Natal era uma
outra celebração. Nas terras por onde viveram o Natal era celebrado
no próprio dia 25 de Dezembro. À missa matinal
habitual
seguia-se um almoço melhorado onde pontificava a canja do melhor
frango da criação caseira, que
peru era para outras bolsas endinheiradas.
A noite anterior, noite de Natal, os quatro ou os três quando o seu
pai estava de serviço faziam as filhoses que outros chamam de
coscorões, cabendo
a eles
dois a tarefa de as passarem
por açúcar com a canela e colocá-las no alguidar. Enquanto
se estendiam e fritavam as filhoses a mãe ia cantando as canções
do seu tempo de Beira Baixa, canções de graça ao nascimento do
Menino Jesus. Terminada a tarefa das filhoses, os dois iam-se deitar
ficando de ouvido alerta aos sons que os pais faziam tentando
adivinhar o que lhes estaria reservado no sapatinho que
colocaram
na chaminé antes
de se deitarem. Na
manhã do dia 25 quando acordassem logo
saberiam, por isso nessa manhã nunca lhes custava levantar cedo.
Assim
era o Natal dos quatro.
Hoje
recusa-se a viver o Natal da Coca-Cola. O Pai Natal nunca foi figura
do seu imaginário. Nem
sequer a chamada árvore de Natal símbolo
do consumismo dos dias que correm.
Natal era tempo de se montar o presépio no tempo das férias que
a escola dava nesta altura do ano, fazendo do barro as figuras
possíveis, procurando no campo quer o musgo, quer as ervas que
serviam de pastagens às imaginárias ovelhinhas de
barro.
Enquanto
as cidades e as casas se enchem de luzes com os afectos à política
a dizerem-nos que agora as luzes são de led consumindo menos
electricidade ele continua a olhar o céu em busca da estrela que lhe
diga, lhe ensine a compreender toda esta azafama consumista, onde
pouco se faz e quase tudo se compra, caminhando
ele pela outra margem onde talvez um outro Jesus possa nascer um dia
de novo
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