quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Época de Natal


A cada ano que passa o seu Natal fica sempre um pouco mais distante. Foi menino e jovem de um Natal diferente em tudo. Naquele tempo de muitas dificuldades económicas onde a liberdade de expressão estava acorrentada e a de pensamento era condicionada não fossem as paredes escutar o que baixinho se falava, o Natal era uma outra celebração. Nas terras por onde viveram o Natal era celebrado no próprio dia 25 de Dezembro. À missa matinal habitual seguia-se um almoço melhorado onde pontificava a canja do melhor frango da criação caseira, que peru era para outras bolsas endinheiradas. A noite anterior, noite de Natal, os quatro ou os três quando o seu pai estava de serviço faziam as filhoses que outros chamam de coscorões, cabendo a eles dois a tarefa de as passarem por açúcar com a canela e colocá-las no alguidar. Enquanto se estendiam e fritavam as filhoses a mãe ia cantando as canções do seu tempo de Beira Baixa, canções de graça ao nascimento do Menino Jesus. Terminada a tarefa das filhoses, os dois iam-se deitar ficando de ouvido alerta aos sons que os pais faziam tentando adivinhar o que lhes estaria reservado no sapatinho que colocaram na chaminé antes de se deitarem. Na manhã do dia 25 quando acordassem logo saberiam, por isso nessa manhã nunca lhes custava levantar cedo.
Assim era o Natal dos quatro.
Hoje recusa-se a viver o Natal da Coca-Cola. O Pai Natal nunca foi figura do seu imaginário. Nem sequer a chamada árvore de Natal símbolo do consumismo dos dias que correm. Natal era tempo de se montar o presépio no tempo das férias que a escola dava nesta altura do ano, fazendo do barro as figuras possíveis, procurando no campo quer o musgo, quer as ervas que serviam de pastagens às imaginárias ovelhinhas de barro.
Enquanto as cidades e as casas se enchem de luzes com os afectos à política a dizerem-nos que agora as luzes são de led consumindo menos electricidade ele continua a olhar o céu em busca da estrela que lhe diga, lhe ensine a compreender toda esta azafama consumista, onde pouco se faz e quase tudo se compra, caminhando ele pela outra margem onde talvez um outro Jesus possa nascer um dia de novo

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