segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

21.01.11

 

A culpa não é minha nem será tua. Penso assim porque aprendi na guerra que a culpa de pisar uma mina antipessoal não era do soldado, do cabo, do furriel, do alferes ou do capitão. Os culpados viviam nos palácios do poder sem se importarem com o sofrimento dos cidadãos anónimos.

Estávamos no final de 1972 terminada que estava a IAO (instrução aperfeiçoamento operacional); no Forte de S. Sebastião da Barra na bonita cidade de Viana do Castelo aguardávamos a ordem de embarque. Um dia que nos preparávamos para termos um fim de semana mais alargado o senhor Major Blasco Gonçalves militar de carreira adepto da dura disciplina militar, segundo comandante do Batalhão chamou todos os aspirantes ao seu gabinete. Sentado aguardou em silêncio que todos ficássemos frente a frente com ele. Se o silêncio pesava as perguntas que se seguiram ficaram para sempre guardadas na memória. Perguntas tão simples como:

    - Vocês sabem quantos analfabetos têm no vosso grupo?

    - Vocês sabem quantos são casados ou o sustento da família antes de começarem a cumprir o serviço militar?

Todos em silêncio. Eu não sabia se tinha no meu grupo órfãos, analfabetos, quantos eram os casados, se tinham filhos… Depois o Major Blasco Gonçalves passou-nos um atestado de meninos menores, como poderíamos querer ser líderes de um grupo de combate se não conhecíamos uma parte, talvez mesmo a mais importante da massa humana às nossas ordens. Nunca mais me esqueci e ainda hoje recordo para dizer que a culpa não é minha nem será tua do estado a que o país chegou com a pandemia.

A culpa do aumento assustador de casos de contágio é das autoridades, Primeiro Ministro e Presidente da República assim como dos seus mensageiros espalhados pelos órgãos de comunicação social. Eles e o Presidente da Assembleia da República como autoridades maiores da nossa Democracia têm dado mostras com vários exemplos práticos (idas à praia, a espectáculos, pedindo para a vinda de turistas e por fim as facilidades concedidas na Natal e passagem de ano) que indiciam não conhecerem a fundo as características dos cidadãos portugueses que representam e comandam.

Acordo a sonhar lembrando de outros actores há muitos anos que a preto e branco na televisão publica afiançavam que a guerra em África estava ganha mas como os barcos não chegavam para mandar militares para a guerra passaram a usar também aviões. E, a guerra estava ganha para no final ao fim de tanto sofrimento de tantas mortes só haver derrotados nos dois lados da guerra inglória.

Agora a cores e em vários canais, actores muito diferentes felizmente, incapazes e sem ideias alternativas, obrigam-nos a estados de emergências consecutivos como a solução para derrotar o vírus contagioso. Emergências que pouco tem resolvido, querendo convencer o cidadão comum que com novo estado de emergência iremos ficar melhor. Iremos? Quem? E onde?

Vamos nisto não tarda um ano, sendo que só nos sabem prescrever o mesmo placebo. Pouco ou nada melhoramos em termos de saúde pública e mental dos cidadãos esquecendo todas as outras doenças e maleitas que os cidadãos sofrem e padecem em geral, sendo que o vírus continua por aí impávido e sereno a saltar de humano para humano qual mina antipessoal.

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