sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

21.01.19

 

Está a chegar ao fim esta semana que passei na minha casinha. Um tempo sempre diferente. Diferente porque é sempre mais leve de poluição ambiental e humana. Quer o frio, quer o calor já não me importam vivendo bem com eles. Somos seres adaptáveis a todas as condições atmosféricas. Só a falta de água mexe comigo. Para lá do muro do quintal gira o mundo cheio de uma outra vida a cada dia mais diferente da minha.

Pouco me importo. Não sou invejoso. Nunca fui. Cada um que viva à sua maneira que eu gosto de viver do meu jeito.

Já não tenho grandes sonhos. Nem tão pouco grandes ilusões. O que tenho chega-me para viver a minha vida simples.

Nasci num quarto alugado na cidade grande. Cresci à beira mar. A pedalar fiz o caminho para estudar. Voltei à cidade grande para continuar a estudar e me fiz homem. Conheci a guerra, o medo da morte, a alegria da Liberdade lá longe, chorando a ouvir num rádio a festa que por cá se fazia e eu preso no arame farpado sonhando. Conheci a felicidade de voltar para o colo de minha mãe. Mãe de quem nunca me despedi. Conheci a felicidade do nascimento das duas filhas. Fui honesto e competente no meu trabalho. E quando a minha vida sofreu um sismo conheci a outra face da vida. Sem trabalho e sem dinheiro resisti com amor à vida. Conheci de novo o amor em versões diferentes que não me deixaram cair no mundo dos sem abrigo. Trabalhei sozinho numa área diferente da minha formação. Acreditei e sonhei que era possível sobreviver. Cá estou na minha casinha ouvindo a sinfonia da chuva a cair. Daqui a umas horas irei fazer-me ao caminho de regresso à cidade grande. Se tudo correr como espero e sonho no próximo mês cá estarei para viver de novo uns dias com as minhas boas lembranças dos meus antepassados. Até quando? Não sei nem me importa. Até um dia, até uma hora.

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