Naquele
tempo, os dias passavam quase sempre iguais ao anterior. A celebração
segundo as escrituras vigentes, do chamado dia da mãe, coincidia por
interesses dominantes, com o feriado católico do 8 de Dezembro, comemorando-se o dia de Nossa Senhora da Conceição, que
segundo rezava a história era a padroeira de Portugal. Naquele tempo
Jesus não veio falar aos então apóstolos do regime dominante,
parece que só as escrituras contam e relatam essas histórias de há
muitos anos, em que muitos acreditam ser verdade e outros muitos
acreditam ser apenas e só histórias.
Mas
naquele tempo, o país pobre e vestido de escuro, iletrado lia e
cantava missas em latim, com as mulheres usando um véu na cabeça em
sinal de um respeito que não se entendia, e como tal há muito foi abandonado, embora haja quem procure nos dias de agora recuperar de novo esse
gesto de subordinação das mulheres. Mas, dizia eu, que naquele
tempo o dia da mãe coincidia com um feriado religioso e como tal era
em algumas casas celebrado com um almoço melhorado, algum frango ou
galinha faziam as honras da mesa. À noite se o tempo o permitisse
ia-se a
pé à
festa que havia na Atouguia da Baleia por essa altura do ano. Logo
depois os dias continuavam iguais nas suas rotinas de vida, a escola
e o ir de bicicleta para a mesma.
Mudaram-se
os tempos, o país mudou de cor, deixou o ar tristonho, sorriu
abandonando a cor escura do luto e da tristeza, trocando-as por cores
claras e garridas. Com a chegada dos novos tempos, chegaram também
novos hábitos, novas comemorações seguindo uma ordem estabelecida
pelos mais poderosos que dominam os negócios e seus interesses.
Nessas mudanças também a igreja seguidora dos princípios oriundos
do Vaticano se vai adaptando, e assim aceitou a mudança do dia da
mãe para o primeiro domingo do mês de Maio. Os fiéis seguidores
das suas escrituras, e como tal das suas missas, embora segundo parece em
menor número, celebram também neste domingo o dia da mãe. Contudo, as
novas catedrais que agora são da pratica materialista do consumismo, sem missas enchem-se de pessoas na busca de uma lembrança para oferecerem às
mães, e com
esse gesto
colmatarem a ausência de apoio ou carinho durante o resto do ano. Felizmente, o almoço melhorado na casa de algumas famílias de então, é agora celebrado
por muito mais famílias que neste domingo enchem também os
restaurantes em almoços familiares, como sinal do outro nível de
vida que agora se usufrui.
Eu,
como
ando por fora, quer das praticas religiosas, quer das praticas
consumistas, nem sei a causa da mudança do dia 8 de Dezembro para o
primeiro domingo de Maio, nem a razão consumista que ditou ser este
o dia da mãe, não
sei nem procuro saber, porque tu
mãe, lembrar-te-ás
que pouco ligávamos
a estes dias comemorativos de alguma coisa,
e assim
pouco me
importam
estes dias. Tu sabes, que para mim mãe, não tem dia específico
para te
celebrarmos, quer em vida ou após a partida desta viagem. Não
celebro pois
este
dia como o teu dia mãe, porque os dias, os meses e os anos passam,
mas tu continuas comigo, como só nós os dois é que sabemos.
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