segunda-feira, 7 de maio de 2018

Só nós os dois é que sabemos


Naquele tempo, os dias passavam quase sempre iguais ao anterior. A celebração segundo as escrituras vigentes, do chamado dia da mãe, coincidia por interesses dominantes, com o feriado católico do 8 de Dezembro, comemorando-se o dia de Nossa Senhora da Conceição, que segundo rezava a história era a padroeira de Portugal. Naquele tempo Jesus não veio falar aos então apóstolos do regime dominante, parece que só as escrituras contam e relatam essas histórias de há muitos anos, em que muitos acreditam ser verdade e outros muitos acreditam ser apenas e só histórias.
Mas naquele tempo, o país pobre e vestido de escuro, iletrado lia e cantava missas em latim, com as mulheres usando um véu na cabeça em sinal de um respeito que não se entendia, e como tal há muito foi abandonado, embora haja quem procure nos dias de agora recuperar de novo esse gesto de subordinação das mulheres. Mas, dizia eu, que naquele tempo o dia da mãe coincidia com um feriado religioso e como tal era em algumas casas celebrado com um almoço melhorado, algum frango ou galinha faziam as honras da mesa. À noite se o tempo o permitisse ia-se a pé à festa que havia na Atouguia da Baleia por essa altura do ano. Logo depois os dias continuavam iguais nas suas rotinas de vida, a escola e o ir de bicicleta para a mesma.

Mudaram-se os tempos, o país mudou de cor, deixou o ar tristonho, sorriu abandonando a cor escura do luto e da tristeza, trocando-as por cores claras e garridas. Com a chegada dos novos tempos, chegaram também novos hábitos, novas comemorações seguindo uma ordem estabelecida pelos mais poderosos que dominam os negócios e seus interesses. Nessas mudanças também a igreja seguidora dos princípios oriundos do Vaticano se vai adaptando, e assim aceitou a mudança do dia da mãe para o primeiro domingo do mês de Maio. Os fiéis seguidores das suas escrituras, e como tal das suas missas, embora segundo parece em menor número, celebram também neste domingo o dia da mãe. Contudo, as novas catedrais que agora são da pratica materialista do consumismo, sem missas enchem-se de pessoas na busca de uma lembrança para oferecerem às mães, e com esse gesto colmatarem a ausência de apoio ou carinho durante o resto do ano. Felizmente, o almoço melhorado na casa de algumas famílias de então, é agora celebrado por muito mais famílias que neste domingo enchem também os restaurantes em almoços familiares, como sinal do outro nível de vida que agora se usufrui.

Eu, como ando por fora, quer das praticas religiosas, quer das praticas consumistas, nem sei a causa da mudança do dia 8 de Dezembro para o primeiro domingo de Maio, nem a razão consumista que ditou ser este o dia da mãe, não sei nem procuro saber, porque tu mãe, lembrar-te-ás que pouco ligávamos a estes dias comemorativos de alguma coisa, e assim pouco me importam estes dias. Tu sabes, que para mim mãe, não tem dia específico para te celebrarmos, quer  em vida ou após a partida desta viagem. Não celebro pois este dia como o teu dia mãe, porque os dias, os meses e os anos passam, mas tu continuas comigo, como só nós os dois é que sabemos.

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