Há
notícias e acontecimentos que mexem connosco reagindo cada um de nós
de acordo com a sua forma de ver e sentir a vida.
Depois
do triste caso do bebé de Setúbal onde para lá da atitude indigna
do profissional de saúde se descobre como é fácil sacar dinheiro
ao Serviço Nacional de Saúde, ao Estado que somos todos nós. Uma
tristeza em cima da outra inicial.
Agora,
fala-se e diz-se muita coisa sobre a moça sem abrigo que pariu no
meio da rua e de imediato colocou o bebé num ecoponto. Toda esta
cena é demasiado triste. Talvez o nevoeiro que há pouco havia por
aqui me fez vir à memória uns versos do poeta Bertolt Brecht,
Da
Violência
Do
rio que tudo arrasta se diz que é violento
Mas
ninguém diz violentas
As
margens que o comprimem
Depois,
bem depois é … não sei, faltam-me as palavras certas para
escrever toda a hipocrisia à volta do outro “sem abrigo”,
salvador da criança que logo à nascença foi abandonada.
Parece
até que
os homens que exercem o poder político olham com atenção caridosa
para os muitos e variados seres humanos que vão engrossando este
novo exército de excluídos pelo sistema moderno que nos vem
governando há muito. O Presidente na sua fobia de aparecer, ser
notícia, dar um ar de cristão católico caridoso a espreitar para
dentro do ecoponto, gosta de aparecer em actos de caridade junto dos
“sem abrigo”. O Presidente é por inerência constitucional o
Comandante
Supremo das Forças Armadas, mas
nunca teve um acto efectivo de solidariedade para com os muitos
antigos combatentes das guerras da Índia, Angola, Guiné e
Moçambique que vagueiam como “sem abrigo” pelas ruas das cidades
deste país. Porque será? Que medos o impedem de tomar a iniciativa
para que o Governo (este ou outro tanto faz) reveja a situação
desses homens que um dia ainda jovens o Estado Português lhe roubou
parte da sua juventude mandando-os para uma guerra que nunca foi
deles. Não espero nada do barulho que muitos fazem à volta dos
antigos combatentes, porque nunca me irão dar o que me roubaram da
minha juventude, dos
meus sonhos de vida.
Contudo
ficava-lhe bem o Senhor Presidente tomar a iniciativa de dar um passo
em frente para que a situação dos antigos combatentes “sem
abrigo” assim como os doentes psiquiátricos causados pelo stress
pós traumático provocado pelas situações vividas nas frentes de
batalha dessas guerra inglórias,fosse
efectivamente tratada como há muito o deveriam ter feito.
Ficava-lhe
bem Senhor Presidente e não o veríamos nessa triste figura a olhar
para um ecoponto porque mesmo velhos ainda sabemos respeitar e
receber o Comandante
Supremo das Forças Armadas sejamos
bem instalados na vida, instalados sobrevivendo ou “sem abrigo”.
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