sábado, 9 de novembro de 2019

Tristes acontecimentos


Há notícias e acontecimentos que mexem connosco reagindo cada um de nós de acordo com a sua forma de ver e sentir a vida.
Depois do triste caso do bebé de Setúbal onde para lá da atitude indigna do profissional de saúde se descobre como é fácil sacar dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, ao Estado que somos todos nós. Uma tristeza em cima da outra inicial.
Agora, fala-se e diz-se muita coisa sobre a moça sem abrigo que pariu no meio da rua e de imediato colocou o bebé num ecoponto. Toda esta cena é demasiado triste. Talvez o nevoeiro que há pouco havia por aqui me fez vir à memória uns versos do poeta Bertolt Brecht,
Da Violência
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem
Depois, bem depois é … não sei, faltam-me as palavras certas para escrever toda a hipocrisia à volta do outro “sem abrigo”, salvador da criança que logo à nascença foi abandonada.
Parece até que os homens que exercem o poder político olham com atenção caridosa para os muitos e variados seres humanos que vão engrossando este novo exército de excluídos pelo sistema moderno que nos vem governando há muito. O Presidente na sua fobia de aparecer, ser notícia, dar um ar de cristão católico caridoso a espreitar para dentro do ecoponto, gosta de aparecer em actos de caridade junto dos “sem abrigo”. O Presidente é por inerência constitucional o Comandante Supremo das Forças Armadas, mas nunca teve um acto efectivo de solidariedade para com os muitos antigos combatentes das guerras da Índia, Angola, Guiné e Moçambique que vagueiam como “sem abrigo” pelas ruas das cidades deste país. Porque será? Que medos o impedem de tomar a iniciativa para que o Governo (este ou outro tanto faz) reveja a situação desses homens que um dia ainda jovens o Estado Português lhe roubou parte da sua juventude mandando-os para uma guerra que nunca foi deles. Não espero nada do barulho que muitos fazem à volta dos antigos combatentes, porque nunca me irão dar o que me roubaram da minha juventude, dos meus sonhos de vida.
Contudo ficava-lhe bem o Senhor Presidente tomar a iniciativa de dar um passo em frente para que a situação dos antigos combatentes “sem abrigo” assim como os doentes psiquiátricos causados pelo stress pós traumático provocado pelas situações vividas nas frentes de batalha dessas guerra inglórias,fosse efectivamente tratada como há muito o deveriam ter feito.
Ficava-lhe bem Senhor Presidente e não o veríamos nessa triste figura a olhar para um ecoponto porque mesmo velhos ainda sabemos respeitar e receber o Comandante Supremo das Forças Armadas sejamos bem instalados na vida, instalados sobrevivendo ou “sem abrigo”.


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