terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

21.02.07

 

Já não sabe a quantas anda. Os dias seguem-se iguais onde nem o Sol dá um ar da sua graça. Nos dias iguais as horas são ainda mais iguais, apenas a chegada da noite lhe diz que está de novo na hora do tempo de ir com a sua amiga dar o passeio higiénico do final de dia que é sempre mais curto que o da manhã. Não ouve as notícias sobre a pandemia, desligou do número de mortes, infectados e vacinados. A ele não lhe metem medo com tanta notícia a cheirar a esturro. Recorda-se quando ainda menino e moço ouvia aquela música na rádio e na televisão a preto e branco no único café da aldeia que a tinha. Música onde um coro declamava cadenciado a plenos pulmões "Angola é Nossa". Hoje há gente que é a mesma gente de outrora. Agora com novos fatos ditos democráticos, preferencialmente de boas marcas. Fatos de boas marcas trabalhados por mão-de-obra semi-escrava lá longe, onde os novos ricos das grandes marcas exploram o trabalho escravo de crianças e mulheres. Tudo boa gente que aparece nas revistas de gente importante para o sistema. Gente de sucesso empresarial dizem-lhe. Alguma dessa gente amiga do sempre e actual DDT (dono disto tudo) que embora reformado do grupo não deixou de lhe pertencer continuando a ser o nosso “Conde de Bilderger”, agora com alguns amigos aliados e concorrentes, todos unidos numa frente única, numa cruzada contra o nosso pobre Estado Social, onde nem lhes falta o apoio de algumas igrejas que se proclamam de cristãs.

Mas voltando ao tempo em que o tempo está tão igual, que já não sabe quando acorda em que dia vai na contagem contínua dos dias de vida. Tudo está tão igual que lhe cansa até o acordar e ter de se levantar para ir à casa de banho. Já conhece os caminhos do escuro para não tropeçar em nada. Ficou assim depois que foi operado. Ainda perguntou ao jovem cirurgião o que lhe tinha feito naquela manhã em que o adormeceram para lhe tirarem o mal que sem pedir licença ou pagar renda silenciosamente se alimentava com o seu sangue expandindo-se. A resposta do jovem cirurgião vive consigo: - “abrir-lhe a bexiga para certificar que não havia metástases mas deixei-lhe a bexiga bonitinha”. Que porra será essa da bexiga bonitinha? Quando tinha a desgraçada da próstata grande como lhe diziam os médicos, bebia mais água do que nestes tempos de agora e raramente se levantava de noite para ir à casa de banho. Agora bebendo menos, muito menos água rara é a noite em que não se levanta. Quando em Março voltar ao hospital para a consulta de controle irá perguntar ao médico urologista que agora o segue como fortalecer os músculos esfincteres que agora ficaram a controlar o sistema urinário da bexiga já que ao viver tantos anos à sombra do trabalho que antes os vesicais detrusores faziam, podem estes esfincteres ter ficado preguiçosos ou então gostam de gozar com ele mandando pelo seu sistema nervoso instruções à unidade central de processamento de dados para que ele se levante que eles esfincteres já estão a ficar cansados com o peso da urina que os rins ao destilar o sangue querem mandar de volta para a Natureza exterior.

Olha o céu pela janela. Já se aproxima uma nova aurora. Olha o pequeno calendário que lhe mandaram os da Ordem mas na dúvida de que dia será hoje fecha a nuvem onde escreve para ver no aparelho que lhe serve de telefone, máquina fotográfica e lhe dá o programa de texto, em que dia do ano do mês e da semana se encontra. Diz-lhe o telemóvel que são 07H07 de domingo dia 7 de Fevereiro no ano de 2021, segundo ano pandémico deste século vinte e um do calendário gregoriano na dita era pós-moderna…

Todas as noites e manhãs ao acordar recorda coisas e agradecendo aos deuses a oportunidade de continuar a sua caminhada preparar-se para a volta matinal com a sua amiga companheira que lhe impõe um certo andar que lhe faz bem compensando-o do tempo que depois fica em clausura confinada.

Não acredita que só por si estas medidas do “fica em casa” resolvam o problema dos contágios e das mortes que vão ocorrendo por acção directa e indirecta do vírus. A solução passará pelas vacinas forçosamente. Não sabe se há já vacinas para vacinar mais gente do que a esta sendo vacinada pois os que decidem destas coisas estarão por certo a fazer o possível para que tudo possa correr pelo melhor. Ouve o ruído à volta das vacinas mas graças às dificuldades auditivas, desliga facilmente. Ele que já conheceu o medo em outras situações vive agora sem medo. Nunca foi de andar pelos cafés ou pelos bancos de jardim a limpar o pó aos mesmos pelo que vai levando a sua vida calmamente entre a rua e a casa. Sente, é verdade, saudade da sua casinha com o seu pequeno quintal lá no interior raiano onde as raízes dos seus antepassados o chamam. Por lá o vírus não tem tido sucesso, felizmente.




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