terça-feira, 1 de junho de 2021

21.05.28

 


Cartão Raiano Saúde 0-114. Um cartão anual de seguro de saúde privado da Lusitânia Companhia de Seguros SA. para os recenseados inscritos no Município de Idanha a Nova, gratuito para os aderentes segundo nos dizem.

Como «quando a esmola é grande, o pobre desconfia» digo que na minha modesta opinião este não é o caminho, não é sequer a melhor forma quer para os munícipes recenseados no concelho quer para os não recenseados de se defender e aprofundar os benefícios que o Serviço Nacional de Saúde tem de ter para todos os cidadãos.

O caminho agora seguido pelo Município é não só um caminho pantanoso como também perigoso, uma afronta ao SNS Serviço Nacional de Saúde tão ao gosto dos que defendem a sua privatização ou de muitas das suas valências, valores com os quais não me identifico como defensor que sou do nosso SNS público para todos.

Este cartão raiano de saúde nem sequer é uma «PPP–Participação Publico Privada Regional», mas tão só um seguro de saúde privado pago com dinheiros públicos do Município.

Se fosse apenas o cartão de um seguro de saúde para todos os funcionários do Município não estaria aqui a manifestar a minha discordância com a publicidade, venenosa na minha opinião, dada à emissão de tal cartão.

Um cartão raiano de saúde privado que depois de seis anos de maturação, de estudos se revolve em praticamente dois meses(?), o tempo decorrido entre o lançamento do concurso público, a sua adjudicação e apresentação aos munícipes, no tempo certo das próximas eleições autárquicas.

Na sua elaboração segundo informação facultada pelo Município participaram outras duas entidades privadas, a Casa de São Mateus de Viseu e a Mediadora de Seguros SABSEG, não constando nenhum Serviço ou Direcção do Ministério da Saúde ou a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco como entidade publica que gere a saúde no distrito.

A Casa de Saúde de S. Mateus, pelas informações colhidas no seu sitio na internete tem diversas Clínicas quase todas situadas na cidade de Viseu e uma na cidade da Guarda a “Cliniform Saúde”. Que mais valias terá trazido ao estudo maturado para a ideia ou para a elaboração do concurso publico internacional ou mesmo da agora emissão do “Cartão Raiano Saúde 0-114”? Será que estará disposta a investir num novo centro de saúde ou clínica privada na Idanha para apoiar os utentes do Município que aderem ao “Cartão Raiano Saúde 0-114”?

Procurei ver o que informa o sitio na internete da Mediadora de Seguros SABSEG a qual se apresenta como “Especialista em gestão de seguros da Entidades Publicas – Municípios e outras Entidades Publicas” Mas ao descrever as valências da sua especialização em seguros com os Municípios não tem nenhuma referência há especialização em Seguros de Saúde para os Municípios. Factos são factos, mas estamos sempre a aprender.

O cartão raiano de saúde privado facilitará o acesso a cuidados médicos, de enfermagem e de exames complementares, tendo o Município transformado o “Espaço Sénior” em “Casa de Saúde da Idanha, onde se prevê que esteja em permanência um médico e duas enfermeiras. Os cuidados médicos ali prescritos de exames complementares (RX, Tac, Ecografia ou Ressonância) terão de ter a posterior aprovação do médico de família ou responsável médico do Centro de Saúde ou do Posto Médico, a não ser que o beneficiário do cartão raiano de saúde esteja na disposição de custear do seu bolso o custo dos possíveis exames complementares. Não esqueçam que se tivermos de ir à urgência hospitalar à Idanha ou à Castelo Branco e se o médico da urgência hospitalar nos prescrever alguns exames complementares, RX, ecografia por exemplo, os referidos exames só são comparticipados pelo SNS depois do médico de família do Posto Médico concordar e autorizar. O seguro privado que está por detrás do Cartão Raiano Saúde 0-114 não dará acesso directo à comparticipação do custo dos referidos exames prescritos de pelos médicos do SNS. Ainda quando estive há duas semanas na Zebreira o meu amigo Zé Pereira teve de ir à urgência ao Hospital de Castelo Branco onde a médica lhe prescreveu pelo menos uma ecografia e quando passado três dias lhe perguntei se já tinha marcado o exame me respondeu que tinha que aguardar pela Médica de família ou do Posto de Saúde para lhe confirmar e autorizar o referido exame.

Li com atenção o que se diz sobre os benefícios que o Cartão Raiano de Saúde 0-114 trás aos munícipes recenseados que o peçam. Consultei a página na Internet da Lusitânia para ver qual a modalidade que eles têm publicitada para cobrir todos os benefícios anunciados. Claro que não tem nenhum plano de matriz base para os benefícios anunciados e o acordo com estabelecido entre o Município e a Seguradora Lusitânia não está publicado para o público.

A população residente na área do concelho e como tal o mercado potencial para a Lusitânia Companhia de Seguros era em 2010 de 9.883 tendo decrescido segundo estudos de 2018 indicarem 8.259 cidadãos em Idanha a Nova.

O valor que consta como base para um ano de validade do seguro que gere o “Cartão Raiano Saúde 0-114” no concurso público internacional publicado no Diário da República 2ª série nº46 de 8 de Março deste ano de 2021 é de 517.032,0€ ou seja o valor mínimo a pagar pelo Município. Só no final dos 365 dias é que se farão as contas certas.

Na minha vida profissional como director administrativo e financeiro estudei e negocie contratos de saúde com companhias de seguro em representação de duas empresas internacionais. Já lá vão uns anos pelo que poderei estar desactualizado mas os seguros de saúde colectivos nunca são baratos embora o mesmo que dá suporte ao “Cartão Raiano de Saúde 0-114” só englobe como gratuitos os serviços de saúde primários, a chamada clínica geral incluindo também serviços médicos e de enfermagem ao domicílio já não totalmente gratuitos. Quando o cidadão idanhense usuário do “Cartão Raiano de Saúde 0-114” necessitar de uma consulta de qualquer especialidade, por exemplo cardiologia ou urologia terá, se quiser, recorrer à Rede Médica Nacional da AdvanceCare que com certeza lhe irá dizer que por um preço de excepção tendo em consideração o seguro da Lusitânia através do “Cartão Raiano de Saúde 0-114” lhe fará um novo seguro de saúde privada que lhe dará mais um cartão de beneficiário desta vez pagante directo e não indirecto como no caso do “Cartão Raiano de Saúde 0-114”.

Reconheço que nunca gostei de seguros, tendo apenas os que a lei me obriga e nada mais. Desde os tempos da tropa em Viana do Castelo que fiquei com urticária aos seguros. Aguardávamos embarque para a guerra em Angola e não faltavam angariadores de seguro a quererem vender seguros de vida aos militares. Seguros de vida que se venciam se o mesmo morresse na guerra. Nunca os deixei entrar no Forte de Santiago da Barra quando estava de serviço.

Na minha vida profissional aprendi a ler as letras pequeninas das apólices e assim consegui diminuindo quer o número de apólices quer os valores pagos aumentar o valor dos bens seguros. Quando na BIMBO os Americanos mudaram de Corretor de Seguros e os espanhóis chegaram com o Director Geral da nova empresa de corretagem portuguesa para analisarem a carteira de seguros, o senhor olhou para mim, sorriu e virando-se para os espanhóis disse-lhe que se era eu o director responsável pelos seguros poderiam estar descansados que era conhecido na praça por não lhes facilitar a vida, disse eu para os meus botões «vendendo gato por lebre».

Repito o que digo lá atrás nesta muito longa exposição:

Se fosse apenas o cartão de um seguro de saúde para todos os funcionários do Município não estaria aqui a manifestar a minha discordância com a publicidade, venenosa na minha opinião, dada à emissão de tal cartão.

Em política não pode nem deve valer tudo!

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