segunda-feira, 18 de abril de 2022

22.03.31

 


Dói-lhe o corpo, a coluna, a massa das pernas sem esquecer as mãos com as atrozes nas falanges dos dedos. Sente todas essas dores mal se levanta da cama no início de mais uma caminhada. Só já falta uma parte do quintal para arrancar as ervas que em pouco menos de um mês desde a sua última estadia cresceram como capim.

Não estava habituado a estes trabalhos.

A vida citadina nos arrabaldes da cidade grande é sedentária. Com a pandemia, as caminhadas matinais ficaram mais curtas e ainda não recuperou a disciplina para voltar aos seus mínimos de seis quilómetros matinais.

Quando volta para o seu canto como que se vinga, castigando o corpo não por masoquismo mas por necessidade de ter o pequeno quintal apresentável e limpo. Embora no campo as coisas nunca estejam bem limpas, sempre há folhas que caem, há sempre qualquer coisa que o vento trás e mesmo a beleza da passarada sempre suja. A vassoura e a pá tem sempre de estar à mão.

Ontem depois das urtigas limpas, as batatas que semeou, de outras que estavam grelhadas, parecem estar bonitas. Antes mal se viam no meio de tanta urtiga. Os vizinhos ao passarem olham e dizem-lhe que estão bonitas. Manda fotos às filhas do trabalho realizado, perguntando-se a si mesmo em conversas que tem com a sua sombra, o porquê de aos setenta e um anos andar com estes trabalhos e canseiras. Respondeu-lhe a mais nova que sente este canto de forma diferente da mais velha que "... Há coisas que não se explicam.... sentem-se e fazem-se!!!!!". Achou uma boa resposta. Sabe que se cá estivesse em permanência, não haveria ervas e em contrapartida não faltariam, as couves, os grelos que tanto gosta, as alfaces, ervas aromáticas e tudo o que fosse possível como este ano as possíveis batatas. Os tempos que se avizinham não serão fáceis e a chamada economia de subsistência sempre ajudou quem a praticava em tempos que já lá vão mas, quem sabe se não estarão de volta. Depois todos esses pequenos produtos são mais saudáveis dos que os dos supermercados e praças dos grandes centros urbanos. Não se consegue viver e sobreviver da agricultura para o mercado consumista sem o emprego de muitos químicos. Não há milagres na vida real, só na fé dos crentes eles existem. Até já há frutas que nem de terra precisam, basta água e os químicos certos e elas ali estão nas bancas metendo-se pelos olhos dos consumidores que de hortas só conhecem o supermercado. Não há milagres, embora nos contem histórias de bios e outras designações bonitas, assim como químicos modernos amigos do ambiente.

Lá fora o dia começa a clarear. Está na hora de ir esticar as pernas com a sua amiga que já o espera.


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