segunda-feira, 18 de abril de 2022

22.04.07

 


Mais de 50 anos é uma vida inteira. Um tempo tão ausente. Procura entender o porquê e não o encontra. Porque agora, passado um tempo tão ausente, esta ânsia de pedir desculpas. Este sofrer, esta vontade sem forças, que o acompanha dia e noite. Se viveu esses mais de cinquenta anos ausente apenas com sua lembrança guardada, porque agora…

Às vezes pensa que será medo de ficar só, sem ninguém para conversar, para trocar duas palavras, uma música ou uma foto. Depois, sorri um sorriso triste e olha os anos de vida que leva de solitário no meio da multidão. Dia a dia mais longe do rebanho do politicamente correto. Passam-se os dias sem ver notícias difundidas por televisões e jornais. Basta-lhe olhar as capas dos jornais no ecrã do seu telemóvel. Até o pequeno rádio que tem na mesa de cabeceira, tantas madrugadas o acompanhou, continua calado, silencioso. A cada acordar sempre um pouco mais afastado da maioria, da média, dos extremos… sempre mais sozinho com os seus pensares.

No seu quarto cabe o seu mundo. Um mundo tão pequeno e tão grande. Pequeno na dimensão do espaço entre as quatro paredes. Tão grande no amor que ele partilha naquele pequeno espaço, nas suas paredes onde a ausência também está presente.

O amor modificou-se, cresceu para uma outra forma de olhar a vida, ausente que se sente. Só as flores do campo lhe sorriem tentando animá-lo, dando-lhe a força que já não sente.

Até quando este viver ausente… que mundo estranho o esperará?

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