domingo, 11 de fevereiro de 2024

17.01.24

 


Pela manhã de ontem voltei a Mafra. Olhei de frente, de lado e de costas o famoso Convento. Não é Mafra um local aonde goste de voltar. Conheci por dentro parte daquele enorme edifício no dia sete de Outubro de mil novecentos e setenta e um, não me lembrando se antes alguma vez por lá tinha estado ou passado sequer.

Lembro que dois ou três anos mais tarde numa viagem de carro, cujo destino era a Praia da Consolação, com o amigo Geraldo no seu Fiat850 quando vimos uma placa com a indicação Concelho de Mafra logo ele parou para nos certificarmos que não iríamos passar em Mafra, já que uns anos antes de mim também ele por lá andou a fazer a recruta do serviço militar obrigatório.

Na parte do enorme edifício adstrito à Escola Pratica de Infantaria por lá andei e vivi cerca de seis meses não só a recruta como também a especialidade de atirador de infantaria. Um tempo que recordo sem qualquer ponta de nostalgia e ainda menos de saudade, apenas e só como mais uma lição de vida pelo que me resta a lembrança de ter conhecido vários jovens que como eu cumpríamos o serviço militar conscientes de qual o nosso papel assim como do futuro próximo que nos esperava, embora os digníssimos senhores da guerra nos seus palácios fizessem difundir pelo país que a mesma nas três frentes de combate em África estava ganha; estava ganha mas as necessidades operacionais de mais jovens militares para a frente de combate não parava de aumentar, e, não havendo no país mais navios e mais rápidos para fretados realizarem o transporte dos militares mobilizados passou-se também a viajar de avião.

Ao olhar o largo defronte do Convento, que na época também o conhecíamos como “Calhau”, revi a cerimónia final da recruta que era o “juramento bandeira” em que muitos dos que já tínhamos o destino marcado para sermos operacionais de guerra acompanhámos a cerimónia do juramento com o movimento dos lábios aos dizeres patrióticos das autoridades sem contudo dizermos uma palavra, conscientes que entre nós instruendos havia muitos salazaristas e ao redor na pequena multidão de familiares que foram assistir lá estariam pides e bufos à espreita vigiando algum comportamento mais suspeito.

Não sendo Mafra um local onde goste de voltar, ao olhar o atual estado de conservação visual em que se encontra parte do enorme edifício senti pena do mesmo, como é que a atual “nobreza” da Nova Ordem Democrática que nos tem governado nos intervalos das ordens de Bruxelas trata não só o próprio monumento como também o nosso passado histórico e o que ele representou até chegarmos aqui.

Sendo republicano convicto, respeito com orgulho o nosso passado histórico monárquico e ao olhar a estátua de D. João V disse-lhe que teria sido melhor ele ter aplicado as riquezas vindas do Brasil em obras mais pequenas que tivessem contribuído de outro modo para o desenvolvimento do reino, pois se o tivesse feito não estaria ali a assistir ao abandono do seu enorme palácio, agora Convento que também foi “Calhau” para muitos jovens infantes que obrigatoriamente por lá passaram antes do glorioso 25 de Abril.

Quando já regressava ainda olhei o enorme edifício e pensei que ali estava um bom sítio para instalar todos os ministérios governamentais e suas secretarias de estado, evitando-se muitos dos gastos atuais com a ação governativa, depois pensei que tal medida decisória só estaria ao alcance de um Marquês de Pombal e hoje o que temos são “nobres” sem coragem e estatura para tal, já que nem a simples barragem do Altivo no rio Ocreza são capazes de empreender escudando-se com mais estudos e pareceres empurrando sempre a solução para o governo seguinte.

No passado sábado ao ir assistir ao jogo de vólei da minha neta mais velha num pavilhão numa escola nos Olivais Sul, recordei com nostalgia os tempos de juventude em que palmilhei todas aquelas ruas e avenidas, admirando-me como é que alguns sectários e radicais envergonhados com o nosso passado histórico ainda não se lembraram de protestar contra a toponímia daquelas ruas e avenidas, que para mim estão bem como estão. Não há que ter e não tenho vergonha do nosso passado histórico, sem ele não seríamos o que ainda somos hoje.


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