segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

28.01.24

 

Hoje enquanto acabava de fazer o almoço o meu amigo semeou um canteiro de salsa e outro de erva cidreira. Agora tudo depende do tempo, pois a Natureza é que comanda ainda para mais quando estou dias, semanas ou mês na cidade arrabalde da cidade grande. Tudo o que tenho no quintal é natural, sem a utilização de químicos. As muitas ervas arranco-as ou à mão ou com o sacho, não utilizo qualquer herbicida pelo que faço as coisas de acordo com o queixume das costas por andar curvado a arrancar as ervas que depois não deito no lixo porque as coloco ao sol para serem colocadas à volta do troco das árvores de fruto e oliveiras; até mesmo as cascas das frutas, das batatas, das cenouras, os talos das couves, as cascas dos ovos etc tudo tem o seu caixote de lixo para depois serem enterradas na terra porque como um dia aprendemos com Lavoisier «na natureza nada se perde, tudo se transforma» ou como diz o meu amigo «a terra o dá a terra o come». Tenho sorte em ter encontrado este amigo que me ensina e muito me ajuda quer a apanhar a azeitona e tratar das oliveiras quer a semear produtos hortícolas no quintal. Curioso, pouco ou nada sabedor vou cometendo erros aprendendo com os mesmos.

O almoço foi uma feijoada de polvo. Ontem à noite coloquei feijão catarino de molho que tinha comprado e guardado num frasco com a respetiva folha de louro para não ganhar gorgulho, durante o dia tinha tirado da arca congeladora um polvo que comprei a um amigo de infância do Lugar da Estrada, polvo do mar de Peniche que nada tem a ver com os que se vendem congelados nos supermercados, polvo a cheirar a mar. Aventurei-me a fazer a feijoada no tacho de barro que tenho. Cozi o polvo depois dos vinte minutos fui picando-o de dez em dez minutos para me certificar que já estava macio no ponto, como era um polvo pequeno adicionei-lhe umas gambas que descasquei, não gosto do miolo de camarão, manias que tenho preferindo descongelar as gambas e depois tirar-lhes a pele; os coentros que apanhei no quintal deram um toque especial à feijoada. O meu amigo repetiu sinal de que estava mesmo boa. Para fazer jus ao domingo passei a manhã na cozinha, ouvi o que disseram os da missa radiofónica e o programa “O Amor É”, antes e depois o rádio estava e continuou ligado mas só para companhia de fundo, pouco me interessam as presumíveis ilegalidades existentes na Ilha da Madeira, de igual modo pouco me interessa o que se passa e dizem os do Livre, já não vou tendo paciência para ouvir o que dizem políticos, “comentadeiros” e especialistas pouco ou nada mesmo independentes, fechei-me no meu casulo de tresmalhado olhando as coisas da vida do meu modo. A política é necessária à vida das gentes, porque tudo o que fazemos em sociedade tem uma leitura política, ou se está de um lado ou se esta do outro embora reconheça que existe o neutro, mas eu desde 1969 que não sou neutro, sou republicano laico mais à esquerda que ao centro e não vou mudar no tempo que ainda terei para andar por cá consciente do ser humano que julgo ser, tresmalhado do rebanho por opção própria. O inexistente futuro não me pertence só tenho passado e o instante presente nada mais. A vida castigou-me e aqui estou sozinho sem solidão com as minhas memórias, lembranças de onde emerge o arrependimento do que lhe fiz tendo agora em troca a implacável dureza do silêncio ao meu simples pedido de desculpa, que é tão só isso e nada mais que pedido de desculpa pois todo o ser humano tem direito ao arrependimento mesmo quando este não tem outra solução que não seja o pedir desculpa tanto e tão longo foi tempo que por nós passou sem sabermos quem somos agora para os outros.

São as vinte e uma e trinta. Lá fora na rua e na estrada nacional impera o silêncio. O frio parece querer voltar mas eu tenho a casinha aquecida, ouvindo José Afonso no seu álbum Trás Outro Amigo Também…



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