segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

24.01.24

 

Ontem, depois de sentir o peso da derrota no futebol, contei ao meu irmão a cena de ser proprietário de um terreno totalmente desconhecido, pois o nosso pai nunca me falou em tal pedaço de terra. Aquela pequena propriedade rústica nunca foi dos meus antepassados recentes, mas oficialmente dizem-me que o terreno é meu, por herança e doação.

Quando fui diretor administrativo e financeiro de um laboratório farmacêutico, filial de um outro com sede em França, estava de férias na praia da Consolação quando comecei a receber telefonemas para casa do amigo a quem alugava o apartamento para a família. Naquele tempo de apenas e só telefone fixo, tinha pedido que se ligassem para mim que informassem que tinha ido passar uns dias à Ilha da Berlenga, sendo impossível contactarem-me, quando voltasse logo me informariam. À terceira tentativa para falarem comigo, liguei para a empresa tendo sido informado de que tinham que pagar uns dois mil e tal contos de Contribuição Industrial, que tal não tinha deixado previsto precisavam de saber se tinham mesmo de pagar aquela avultada verba, dizendo-lhes que sim e que iria ver as razões porque a Repartição de Finanças estava a cobrar, algo parecia não estar correto. No dia seguinte, dei bem cedo à ignição e voltei à empresa. Olhei a justificação do pedido da Repartição de Finanças, dei corda aos sapatos e fui falar com o responsável na Repartição sobre a Contribuição Industrial (hoje IRC) fazendo-lhe ver que se tinha enganado nas contas ao liquidar o Imposto. O senhor olhou, analisou e reconheceu o erro, dizendo-me que iriam devolver a importância cobrada em excesso, pedindo-me desculpa pela situação. Tudo isto se resolveu ao balcão. Informei o Diretor Geral e o pessoal que trabalhava comigo explicando-lhes o que aconteceu. As vozes daqueles que não gostavam de mim logo cacarejaram junto do D.G. que se iria estar dois anos ou mais à espera da devolução dois dois mil e tal contos. Nada mais podia fazer e voltei para junto da família passar os restantes dias de férias. Os meus inimigos e falsos amigos internos lá continuaram a zurzir e cacarejar histórias à volta do erro que a contabilidade tinha cometido, quando o erro era de terceiros. Estava-se na década de oitenta, o senhor responsável na Repartição de Finanças era também o subdiretor da mesma e passados doze dias a empresa recebeu o cheque da diferença liquidada em excesso. Foi num tempo em que o humanismo ainda existia em muitos dos serviços públicos em que pessoas de boa formação cívica e profissional resolviam situações complicadas sem necessidade de recorrerem aos escritórios de advogados e corredores do tribunal administrativo e fiscal; um tempo cuja era já se avizinhava estar a chegar ao fim. O mundo dos negócios estava já na era da informatização arrastando tudo na sociedade. Com o desenvolvimento da informatização, quer em equipamentos quer em programas, passou-se por inerência dos poderosos interesses que nos parametrizam a vida há era das comunicações primeiro com a Internet e com ela as comunicações móveis. Tudo na vida foi mudando mostrando-se a grande maioria incapaz de ver para onde nos levam aqueles que continuam a parametrizar o modelo de vida das sociedades.

Informática e telecomunicações num desenvolvimento contínuo que se nos afigura imparável é acompanhado no nosso país por um ensino deprimente, com tantas reformas quantos foram os ministros responsáveis pela Educação, que de reforma em reforma o que resta é apenas o facilitismo subjugado que está pelas estatísticas que os “agentes mandantes” em Bruxelas vão impondo ao ensino público. Facilitismo é o modelo educacional vigente ao serviço do liberalismo reinante. Facilitismo que levará à ignorância cultural e cívica de onde viemos e quem somos.

Deixemos a Educação, que os servos governantes tratam de a facilitar, ao mesmo tempo que nos enchem as ilusões com os milhões dados por Bruxelas para a digitalização dos serviços públicos pois que a era da Inteligência Artificial está aí à porta.

Sou um tresmalhado consciente do meu ser humano terrestre, que pelos anos que carrego não deverei conhecer esse falso paraíso, mais um o da tal IA, pois com a digitalização dos serviços o funcionário da Autoridade Tributária passou a ter unicamente acesso a um ecrã onde os imóveis rústicos ou urbanos estão registados de forma simplista. Com o fim da era dos registos públicos em papel como que se desvirtuou a função dos serviços públicos tornando e fazendo dos funcionários que atendem o cidadão meros transmissores do que o ecrã da máquina lhe diz, sem capacidade e também quantas vezes sem vontade de poderem analisar o histórico que deu origem ao facto, restando ao cidadão, caso tenha posses financeiras, requerer serviços de um gabinete especializado no assunto.

O Estado é por inerência uma máquina de serviços centralizadora, e bem. O problema está na incapacidade dos agentes políticos que escolhemos para governo em “saberem fazer” porque só quem sabe fazer bem é que pode ser um bom dirigente. Os partidos políticos foram com o tempo transformando-se em máquinas trituradoras aos quais só interessa a conquista do poder, para poderem satisfazer as suas próprias clientelas, nomeando quantas vezes para cargos ministeriais pessoas que dificilmente seriam chefes de serviço numa grande empresa privada. É assim que tenho dúvidas e até algum medo das sociedades geridas com base na tal IA; tenho sérias dúvidas sobre a capacidade dos serviços públicos na digitalização dos mesmos, por não reconhecer nas chefias que mandam a capacidade do saber fazer o simples ato administrativo para que desse modo o «saber fazer bem» aconteça. A informática é uma arma poderosa requerendo na sua organização gente competente que saiba ou conheça o «saber fazer bem» senão … se não estamos bem, melhor não iremos ficar.

26.01.24

Depois do que escrevi anteriormente ao acordar ainda a noite era noite algo me induziu a pensar que não podia ser ter em meu nome um terreno que desconhecia, situação que me tem dado volta aos miolos. Levantei-me e depois de me vestir sentei-me olhando os documentos que quer o funcionário das finanças quer da conservatória me tinham dado e que os novos dirigentes da Santa Casa da Misericórdia de Segura afirmavam o meu pai o ter dado à instituição, mas que ao tomarem posse depararam-se com a ausência completa de arquivos e registos. Ao confrontar a caderneta predial assim como o registo da conservatória com os bens constantes da habilitação de herdeiros aquando do falecimento de meu pai vi que o erro ou engano é dos dirigentes da Santa Casa, já que o terreno é efetivamente meu por herança e doação mas o mesmo está localizado na Zebreira e não em Segura pelo que terão de ver com as finanças o registo em Segura do terreno que se situa na Quelha da Alagoa mas em Segura e não na Zebreira. O Provedor da Santa Casa aceitou a explicação que lhe dei continuando a dizer que o meu pai terá dado à instituição três propriedades sendo duas rústicas e uma urbana que já foi vendida. Alertei-os para a existência em Segura de um outro homem com o mesmo nome do meu pai e da mesma geração. Afinal tudo parece não ser como se imaginou. A ver vamos… como tudo se irá resolver.



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