sábado, 18 de julho de 2020

E agora que iremos fazer?

Vivemos um tempo triste de difusão de valores numa sociedade que se desejava mais evoluída e decente.

O dinheiro perverteu, anulou, como que arrasou os sonhos dos que sonharam com uma sociedades mais culta no saber, mais tolerante nas diferenças, mais respeitadora dos seus idosos, mais amiga do seu amigo, mais amante do seu país.

Tudo não passou de um sonho lindo que durou muito pouco tempo. Arautos da liberdade, amigos do capital e de outras culturas estranhas às nossas, ditas mais modernas e evoluídas, impuseram e implementaram novos hábitos em nome do progresso copiado das tais ditas culturas estranhas e pretensamente evoluídas.

Paulatinamente o poder do dinheiro impôs-se terminado que foi o tempo de todos os sonhos. Terminado o tempo dos sonhos os grandes homens do capital financeiro juntaram seus interesses aos homens do betão com a conivência e anuência de políticos mansos amigos. Nova classe de jornalistas foi formada. Outros jornalistas e não só, amantes do «orgulhosamente sós» foram recuperados e promovidos a fazedores de opinião em horários nobres e editoriais jornalísticos. Tudo democrático e «a bem da nação».

A pouco e pouco martelando as consciências, instituíram nos cidadãos a ideia, o sonho, o desejo de que todos podiam pertencer a uma nova designação de classes neste tempo moderno - a classe média. O sonho de vida das famílias deveria ser e passou a ser esse. Esse grande objectivo de pertencer à classe média. Estar também na mesma classe onde os ricos endinheirados pelo novo Portugal Democrático são apresentados como cidadãos modelos, gente que conhece o êxito.

Nesse modelo a caminho do anunciado mas desconhecido paraíso tudo se facilitou. Criaram-se os instrumentos económicos e políticos para que os campos fossem trocados pelas cidades. Cidades que ofereciam melhores condições de poderem encontrar um emprego, um trabalho que lhe proporcionasse dois dias de descanso semanal, que com um pouco de sorte e oportunidade poderiam ter subsídio de férias e até subsídio de Natal. Coisas que o trabalho duro do campo nãos lhes garantia. Lá a garantia de trabalho resumia-se ao trabalho de sol a sol com o descanso dominical para os mais crentes poderem ouvir as palavras de promessas que o santo padre lhe dizia na missa dominical. Encheram-se as cidades de populações carregadas de novas esperanças.

Encontrado o trabalho o sonho foi o de poder ter uma casinha sua. O dinheiro não chegava mas os amigos do governo fizeram umas leis para que os bancos pudessem emprestar o dinheirinho para a compra da casa. Sempre era melhor pagar ao banco durante 20, 30 ou mais anos do que andar a pagar a renda ao senhorio que desde sempre foi visto como o mau da fita. A casa estava hipotecada ao banco mas podia-se dizer «a minha, a nossa casa». Hipotecada a vida futura ao banco havia que comprar um carrito, mesmo que em segunda mão, para nas férias ou nas épocas festivas poder ir à santa terrinha e mostrar o seu sucesso na cidade grande. Mais uma hipoteca a pagar suavemente que o pessoal do banco era amigo. Era tão amigo que até facultava um daqueles cartões que os ricos usavam para comprar a crédito. Assim os filhos já poderiam também ir de férias para o Algarve, comprar um computador e um telemóvel dos mais modernos etc etc. Filhos que agora podiam estudar nas escolas publicas se assim o quisessem e se não quisessem estudar para além do obrigatório não fazia mal pois eles, pais, também não estudaram e fizeram-se à vida. Para mais, muitos dos que estudam e tiram cursos superiores de muito "marranço" depois não encontram trabalho… por isso é melhor deixa-los viver a vida à vontade.

Os jovens que estudam e muitos outros que não quiseram habituam-se a uma vida de facilidades, onde os pais se endividam para que os seus meninos não sejam menos que os filhos do senhor engenheiro, do senhor doutor. Habituam-se a viver a vida sem grandes sacrifícios. Tudo lhes é facilitado. Os maus hábitos crescem como os cogumelos nos subúrbios e alastram-se aos centros das cidades. O regime e os que de tempos a tempos são eleitos para governarem deixaram-se enredar numa teia social onde todos só têm direitos cívicos, onde a própria lei foi aprisionada por conceitos de psicologia barata de que todos parecem ter medo.

A teia da aranha venenosa estava montada. Com ela os lucros usurários do capital financeiro garantidos. Tudo sempre «a bem da nação».

E assim aos altos e baixos vivia-se sempre na ilusão de que o prometido paraíso estaria mais próximo do que poderíamos imaginar. A ilusão é uma felicidade.

De repente, do nada surgiu um bichinho tão pequenino que não se vê à vista desarmada. Veio de algures na Natureza e espalhando-se entre as nossas células humanas, mudou a vida no Planeta. Do oriente ao ocidente, do Árctico à Antárctida a todos mete medo, pelo sofrimento que causa quando se instala nas nossas células. A economia do mundo capitalista parou, confinou e como só existe essa forma de economia no Planeta a vida como que esta suspensa na quase totalidade dos países.

E agora que iremos, que poderemos fazer?

Como mudar o paradigma da vida fácil para os mais jovens?

Como instruí-los de que o amanhã não será igual ao ontem?

Sem trabalho à vista como sobreviver?

Como pagar as hipotecas que não nos deixam sequer dormir?

Que futuro para os mais jovens?

Uma coisa é certa, a frase de que «Vai Tudo Ficar Bem» é uma falácia, uma porra, nesta vida de tantas e tamanhas incertezas, de choros doridos pelos que vão partindo mais cedo desta viagem.


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