terça-feira, 14 de julho de 2020

Só tristezas


No meio da informação e da contra informação sobre as questões da saúde, somos alertados por vários órgãos de comunicação que o sr. Prof. António Costa Silva já teria entregue a quem de direito o seu relatório preliminar de ideias com 146 páginas sobre o que devemos fazer depois de nos livrarmos da pandemia viral. Procurei vasculhar na net assim como nos jornais o que diziam em resumo das páginas entregues.
Não tenho saberes para avaliar tudo o que estará escrito, até porque cada um dos jornais que li dava a sua interpretação. Não leio o Observador.

Sentado, olhando as estrelas que não se veem por acção da iluminação pública penso devagar. E, ao pensar devagar sinto uma certa tristeza. Tristeza que nada tem a ver com o relatório apresentado e as suas ideias, que respeito. A minha tristeza tem a ver com o estado a que chegou o nosso Estado.
Que funcionalismo público suportamos?
Para que tantos ministérios, tantas secretarias de estado, tantas direcções gerais, tantos centros de estudos… sim, para que? Tenho a certeza de que em todos esses organismos publicos há gente séria, profissional, gente competente nas suas valências profissionais… e que não é aproveitada e talvez mesmo respeitada. Quantos desses profissionais ao verem-se ignorados pelos diversos políticos que nos governam não se sentem defraudados, tristes, desmotivados nas suas ilusões profissionais.
Depois como que acordo e fico ainda mais triste ao lembrar-me como os partidos políticos politizaram os organismos do funcionalismo público. Politizaram com admissões, via concursos à medida, via confiança política ou recorrendo à velha e eterna "cunha". Amigos e militantes de suas confianças políticas que sempre vão ficando quando os amigos saem do governo, transformaram a máquina do Estado num peso pesado, incompetente em muitos sectores e desumano para os cidadãos que não trabalhando no Estado precisam de recorrer aos serviços do mesmo Estado.
Este politizar não foi só dos partidos do chamado arco da governação PS, PSD-PPD e CDS-PP, começou logo após o 25 de Abril quando militantes e simpatizantes à pressa na altura do PC tentaram tomar conta da máquina administrativa do Estado. Aí foi dado o primeiro passo.

Só fui funcionário do Estado quando cumpri o serviço militar obrigatório durante quase 39 meses. Depois quando tinha a hipótese de poder entrar para a Direcção Geral de Finanças o sr. Vasco Gonçalves, Primeiro Ministro de então, parou as admissões dando prioridade ao pessoal que retornava das antigas províncias africanas, numa tentativa de diminuir a revolta e o desconforto próprio da descolonização que ocorria nesses territórios africanos. Falharam redondamente os objectivos mas ajudaram com esse lirismo a engodar a máquina administrativa do Estado tornando-a obesa desde essa altura. Agora o sr. Primeiro Ministro numa daquelas afirmações ao gosto do políticos, que é o de ouvirem a sociedade civil, chamou o sr. Prof. António Costa Silva a elaborar um relatório sobre o «Day After».

Pelo que vi nos jornais poucas novidades acrescenta ao que também pensam muitos daqueles que com os pés no chão se preocupam com o futuro de Portugal. Acredito mesmo que alguns do centros de estudos que apoiam ministros e secretários de estado poderiam ter redigido relatório semelhante. Mas assim com esta acção talvez o Governo queira dar um ar, um toque de independência às medidas apresentadas ou a apresentar.

Medidas há muitas e boas. Meios para financiar a sua execução é que cá estamos para ver.
Por agora o país continua em pré coma induzido, sem que a maioria se importe. Cantar, dançar e bronzear o corpinho na praia é o mais importante.

País mais dependente do que nunca do que irão decidir os comparsas da União Europeia, onde os políticos liberais e neoliberais dominam. Onde a tão desejada unificação fiscal é uma miragem que nem os mais utópicos acreditam já ser possível realizá-la.
Se as subvenções a fundo perdido não chegarem quantas das ideias expostas nas tais 146 páginas serão realizáveis a curto e médio prazo? O longo prazo não existe em Portugal enquanto vivermos como o pesado garrote da dívida pública ao pescoço.

Hoje vi na tv o sr. Presidente muito preocupado com o Turismo no Algarve que nem cuidou que os seus comparsas de ontem mantivessem e dessem o exemplo do tal falado e necessário distanciamento social ao assistirem às suas palavras e ao entrarem para o restaurante.
Eu, sr. Presidente estou muito mais preocupado e triste com o incêndio que ontem destruiu fábricas, postos de trabalho, riqueza a produzir e a exportar, em Castelo de Paiva do que o Turismo no Algarve.

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