sexta-feira, 23 de abril de 2021

21.04.23



 


Vejo tantos a auto proclamarem-se que pelo andar de alguma comunicação social ainda vamos descobrir que o 25 de Abril também foram eles que o fizeram ou colaboraram, pois tantos são os que fazem passar a ideia de que estavam a par da movimentação dos militares oposicionistas à vergonhosa e cruel ditadura de que alguns muitos faziam parte integrante do sistema sem contra ela lutarem.

Soube que tinha havido um golpe militar no “Puto” já a noite era bem noite. A dúvida da tendência política do glorioso golpe pernoitou até meio da manhã do dia 26 quando as transmissões confirmaram ter havido no “Puto” um golpe comandado por capitães. A Esperança de que aquele inferno onde vivíamos poderia mudar brilhou nos olhos dos que sonhavam com outro modo de vida para todos aqueles jovens militares que lutavam na defesa de um Império virtual. Mas, as noites continuaram noites ainda por alguns meses, numa incerteza onde apenas o içar da bandeira portuguesa todas as manhãs representava a Esperança de podermos voltar sãos e salvos para o colo das nossas mães, para os braços das nossas mulheres, para os copos com os nossos amigos.

Depois, a alegria e a força popular com as suas lutas internas de controle da mesma, fez soar alarmes em muitos dos que tinham contribuído arriscando as suas vidas, para o glorioso golpe, e, num outro 25 resolveram por um ponto de ordem na alegria e na força popular entregando de mão beijada o poder aos elementos civis da burguesia política que se opunham à força da onda popular. O 25 primaveril mudou de agulha no ano seguinte para um 25 invernoso, que ano após ano, governos após governos nos fez chegar ao estado a que o Estado chegou, parafraseando o saudoso capitão Salgueiro Maia, a quem um antigo apoiante e amigo da PIDE metamorfoseado em democrata eleito Primeiro Ministro em eleições livres, recusou uma pensão ao glorioso capitão de Abril, concedendo pensão a um antigo mas seu amigo da PIDE. Não é pois de admirar as perturbações dos tempos democráticos que ainda vivemos, tempos de uma democracia doente, descrente das suas virtudes para as quais ainda não foi encontrado o caminho alternativo da reversão que nos faça acreditar que pelo menos os nossos netos e vindouros irão viver numa sociedade mais decente e fraterna que esta criada não no 25 primaveril mas a partir de um 25 invernoso.

Houve e há gente política na estrutura do Estado que nada tem de comum com o 25 de Abril de 1974. Quando não comparecem às cerimónias oficiais de celebração da gloriosa acção militar contra o sistema salazarento é o acto que melhor podem prestar ao 25 de Abril, acto revelador do seu próprio ser em sentido lacto, porque a essa gente o 25 de Abril de 1974 nada lhes deve, antes pelo contrário.


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