quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

230717
Manhã de domingo, o acordar à hora habitual, o olhar a janela na esperança de ver se o sol já acordou também, como a audição esta fraquejando não ouço o vento, mas ele esta à minha espera. Abro a porta da rua e o vento logo me abraça com medo que volte atrás. Esta fresco, mais do que devia, mas caminhamos os dois pelas ruas desertas de gentes que ainda dormem o ultimo sono da noite. Vamos em direcção ao mar. À medida que nos aproximamos da praia, torna-se um pouco mais forte e fresco, já não me abraça, corre praia fora por entre as dunas e os grãos de areia.
Subo a duna e enquanto vou subindo procurando não pisar nenhuma das suas plantas, penso nas vezes que a subi, também o meu amigo gostava de la ficar sentado procurando descobrir algum coelho por entre a vegetação que rodeia a pequena mata de zimbros que resiste ao avanço dos bárbaros e vândalos que invadem a praia nesta época do ano e exigem mais e mais das autoridades. No alto da duna olho o mar e espalho o meu olhar ao longo do Cabo Carvoeiro, passo pela Berlenga e perco-me no infinito azul do horizonte, onde a linha imaginária que divide o céu do mar, me impede de ir mais além.
Por vezes quando desço a duna e caminho à beira mar encontro por lá Neptuno e suas ninfas brincando. Ultimamente anda zangado, pouco fala, resmungando muito contra a forma como estamos destruindo aquilo que levou milhões de anos a ser criado. Nós, só nos preocupamos com o chamado bem estar material e ignoramos os atentados que estamos cometendo constantemente contra a mãe Natureza. Antes de se retirar com a sua corte de ninfas mar adentro, manda-me olhar a areia e ver com olhos de ver, as garrafas de plástico, os copo de iogurte, as beatas dos cigarros com filtro, os pensos higiénicos que bárbaros descuidados ou assassinos lhe entregam para ele tratar sabendo que isso não é possível. Depois quando ele e os outros deuses se revoltam e dão um murro na Natureza criando cheias e inundações, fazendo a terra tremer com edifícios e pontes a desmoronarem-se, as florestas a arderem pela seca que lhes retira a humidade necessária à sua manutenção, aí lembramos-nos dos cuidados que não tivemos, aí discutirmos os erros e as omissões cometidas contra a Natureza, aí muitos prometem emendar o caminho que o chamado bem estar causa e provoca no nosso planeta.
Mas a memória nestes assuntos é muito curta.
E se a memória é curta o poder é terrível, viciante mas fraco, e logo cai perante os pedidos de novas urbanizações em zonas de alta sensibilidade ambiental , mas que garantem aos cofres públicos novas receitas; cai perante a instalação de fabricas industriais onde o custo ambiental é ignorado mas que trás novas oportunidades de tralhado e emprego para as suas gentes tão necessitadas de um rendimento que lhes permita viver a ilusão da felicidade que agentes fieis criam e difundem para que não pensem muito nas causas e porquês da sua própria existência.
No alto da duna vejo a areia que o mar paulatinamente tem levado para outras paragens ou guardado para si como forma de protesto mudo pelo mal que vamos fazendo à sua mãe Natureza.
No alto da duna olho o horizonte e tenho saudade do futuro pensando nos meus netos. Será que eles vão poder viver isto tudo como eu vivi… 

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