230717
Manhã
de domingo, o acordar à hora habitual, o olhar a janela na esperança
de ver se o sol já acordou também, como a audição esta
fraquejando não ouço o vento, mas ele esta à minha espera. Abro a
porta da rua e o vento logo me abraça com medo que volte atrás.
Esta fresco, mais do que devia, mas caminhamos os dois pelas ruas
desertas de gentes que ainda dormem o ultimo sono da noite. Vamos em
direcção ao mar. À medida que nos aproximamos da praia, torna-se
um pouco mais forte e fresco, já não me abraça, corre praia fora
por entre as dunas e os grãos de areia.
Subo
a duna e enquanto vou subindo procurando não pisar nenhuma das suas
plantas, penso nas vezes que a subi, também o meu amigo gostava de
la ficar sentado procurando descobrir algum coelho por entre a
vegetação que rodeia a pequena mata de zimbros que resiste ao
avanço dos bárbaros e vândalos que invadem a praia nesta época do
ano e exigem mais e mais das autoridades. No alto da duna olho o mar
e espalho o meu olhar ao longo do Cabo Carvoeiro, passo pela Berlenga
e perco-me no infinito azul do horizonte, onde a linha imaginária
que divide o céu do mar, me impede de ir mais além.
Por
vezes quando desço a duna e caminho à beira mar encontro por lá
Neptuno e suas ninfas brincando. Ultimamente anda zangado, pouco
fala, resmungando muito contra a forma como estamos destruindo aquilo
que levou milhões de anos a ser criado. Nós, só nos preocupamos
com o chamado bem estar material e ignoramos os atentados que estamos
cometendo constantemente contra a mãe Natureza. Antes de se retirar
com a sua corte de ninfas mar adentro, manda-me olhar a areia e ver
com olhos de ver, as garrafas de plástico, os copo de iogurte, as
beatas dos cigarros com filtro, os pensos higiénicos que bárbaros
descuidados ou assassinos lhe entregam para ele tratar sabendo que
isso não é possível. Depois quando ele e os outros deuses se
revoltam e dão um murro na Natureza criando cheias e inundações,
fazendo a terra tremer com edifícios e pontes a desmoronarem-se, as
florestas a arderem pela seca que lhes retira a humidade necessária
à sua manutenção, aí lembramos-nos dos cuidados que não tivemos,
aí discutirmos os erros e as omissões cometidas contra a Natureza,
aí muitos prometem emendar o caminho que o chamado bem estar causa e
provoca no nosso planeta.
Mas
a memória nestes assuntos é muito curta.
E
se a memória é curta o poder é terrível, viciante mas fraco, e
logo cai perante os pedidos de novas urbanizações em zonas de alta
sensibilidade ambiental , mas que garantem aos cofres públicos novas
receitas; cai perante a instalação de fabricas industriais onde o
custo ambiental é ignorado mas que trás novas oportunidades de
tralhado e emprego para as suas gentes tão necessitadas de um
rendimento que lhes permita viver a ilusão da felicidade que agentes
fieis criam e difundem para que não pensem muito nas causas e
porquês da sua própria existência.
No
alto da duna vejo a areia que o mar paulatinamente tem levado para
outras paragens ou guardado para si como forma de protesto mudo pelo
mal que vamos fazendo à sua mãe Natureza.
No
alto da duna olho o horizonte e tenho saudade do futuro pensando nos
meus netos. Será que eles vão poder viver isto tudo como eu vivi…
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