
Dizem-me
uns que pareço andar triste. Dizem-me outros que pareço estar
doente. Outros mais directos perguntam-me «O Carlos anda triste não
anda?». Sorrio e depois fico a falar com o meu silêncio, vejo-me
ora nas margens do rio de águas tranquilas e límpidas, ora sentado
num banco de cimento que já não existe na minha praia onde o vento
norte e as ondas do mar afastam os maus olhados e pergunto-me «Ó
Carlos como é que se pode andar alegre e contente neste mundo?».
Como
se pode andar alegre e contente num sistema onde um por cento da
população acumula oitenta por cento da riqueza gerada no planeta.
Onde a comunicação social nas mãos dos defensores do "status quo" actual nos servem continuamente merda em bandejas de prata fina,
fazem de mentiras verdades indiscutíveis, onde a justiça popular
slogan dos movimentos mais radicais do pós 25 de Abril e tão odiada
pelos homens do poder e seus súbditos seguidores, se transformou
agora em instrumento comunicacional televisivo com derivações
transgénicas nas redes sociais, colocando em segundo ou terceiro plano o poder
de julgar que os Tribunais devem ter em privado até à sentença,
com a agravante, de ser considerada essa falsa justiça televisiva um
garante da liberdade e da democracia. Fazem da desgraçada violência
doméstica notícia, o homem que matou, a professora que assassinou,
dão frases bombásticas por forma que o cidadão qual drogado se
alimente de quantas facadas foram dadas e aonde, ou de como foi
assassinado que truques foram utilizados, em vez de se ouvirem
especialistas sérios e competentes, homens do saber psiquiátrico,
catedráticos do saber nas universidades e dos consultórios, falarem
das causas do ciúme e como é que o mesmo ciúme pode e deve ser
tratado depois de reconhecido como doença grave pelo serviço
nacional de saúde. Isso não interessa ao sistema, poderia afectar
as receitas, é mais urgente reconhecer como doença o vício dos
videojogos internauticos.
Eu
sei que há muito, desde os meus tempos de juventude que ando e sigo
pela outra margem. Já não sou religioso mas na minha busca do
entender alguns porquês, até ouço a missa ao domingo via rádio,
enquanto dou o meu passeio, na esperança que os pregadores tenham a
coragem que há muito perderam de falar da moral televisiva que todas
as manhãs, tardes e noites os canais do sistema difundem; mas se nem
da palavra do Papa Francisco quase falam, como vão falar e elucidar
os seus acólitos sobre um sistema que hoje o Chefe da Igreja
Católica no Vaticano reconhece ser amoral e injusto. A maioria dos
pregadores gosta mais de falar e difundir as ideias conservadoras e
retrógradas do Papa polaco que morto continua vivo.
Como
se pode andar contente e alegre numa freguesia destas? Onde se
difunde que a felicidade é mais fácil alcançar se não pensares
muito, que riqueza se confunde com dinheiro, contas offshore’s,
bens de ostentação, que a amizade se comunica por pedido numa rede
social e prontos tudo bué de fixe.
Tristeza
nem sempre é doença. A minha a ser mesmo tristeza mais não é do
que o reflexo das injustiças aceites, dos oportunistas transformados
em lideres, dos demagogos populistas e extremistas de direita que sobem aos
palcos e são levados aos ombros, dos mafiosos com uma corte de
santinhos atrás.
Assim,
ando por fora, sigo pela outra margem e depois de ler A Queda de um
Homem, a Última Viúva de África segue-se, Que Importa a Fúria do
Mar, pois podemos remar contra a maré mas não devemos nadar contra
a corrente...
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