sexta-feira, 26 de janeiro de 2018



Dizem-me uns que pareço andar triste. Dizem-me outros que pareço estar doente. Outros mais directos perguntam-me «O Carlos anda triste não anda?». Sorrio e depois fico a falar com o meu silêncio, vejo-me ora nas margens do rio de águas tranquilas e límpidas, ora sentado num banco de cimento que já não existe na minha praia onde o vento norte e as ondas do mar afastam os maus olhados e pergunto-me «Ó Carlos como é que se pode andar alegre e contente neste mundo?».
Como se pode andar alegre e contente num sistema onde um por cento da população acumula oitenta por cento da riqueza gerada no planeta. Onde a comunicação social nas mãos dos defensores do "status quo" actual nos servem continuamente merda em bandejas de prata fina, fazem de mentiras verdades indiscutíveis, onde a justiça popular slogan dos movimentos mais radicais do pós 25 de Abril e tão odiada pelos homens do poder e seus súbditos seguidores, se transformou agora em instrumento comunicacional televisivo com derivações transgénicas nas redes sociais, colocando em segundo ou terceiro plano o poder de julgar que os Tribunais devem ter em privado até à sentença, com a agravante, de ser considerada essa falsa justiça televisiva um garante da liberdade e da democracia. Fazem da desgraçada violência doméstica notícia, o homem que matou, a professora que assassinou, dão frases bombásticas por forma que o cidadão qual drogado se alimente de quantas facadas foram dadas e aonde, ou de como foi assassinado que truques foram utilizados, em vez de se ouvirem especialistas sérios e competentes, homens do saber psiquiátrico, catedráticos do saber nas universidades e dos consultórios, falarem das causas do ciúme e como é que o mesmo ciúme pode e deve ser tratado depois de reconhecido como doença grave pelo serviço nacional de saúde. Isso não interessa ao sistema, poderia afectar as receitas, é mais urgente reconhecer como doença o vício dos videojogos internauticos.
Eu sei que há muito, desde os meus tempos de juventude que ando e sigo pela outra margem. Já não sou religioso mas na minha busca do entender alguns porquês, até ouço a missa ao domingo via rádio, enquanto dou o meu passeio, na esperança que os pregadores tenham a coragem que há muito perderam de falar da moral televisiva que todas as manhãs, tardes e noites os canais do sistema difundem; mas se nem da palavra do Papa Francisco quase falam, como vão falar e elucidar os seus acólitos sobre um sistema que hoje o Chefe da Igreja Católica no Vaticano reconhece ser amoral e injusto. A maioria dos pregadores gosta mais de falar e difundir as ideias conservadoras e retrógradas do Papa polaco que morto continua vivo.
Como se pode andar contente e alegre numa freguesia destas? Onde se difunde que a felicidade é mais fácil alcançar se não pensares muito, que riqueza se confunde com dinheiro, contas offshore’s, bens de ostentação, que a amizade se comunica por pedido numa rede social e prontos tudo bué de fixe.
Tristeza nem sempre é doença. A minha a ser mesmo tristeza mais não é do que o reflexo das injustiças aceites, dos oportunistas transformados em lideres, dos demagogos populistas e extremistas de direita que sobem aos palcos e são levados aos ombros, dos mafiosos com uma corte de santinhos atrás.
Assim, ando por fora, sigo pela outra margem e depois de ler A Queda de um Homem, a Última Viúva de África segue-se, Que Importa a Fúria do Mar, pois podemos remar contra a maré mas não devemos nadar contra a corrente...

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