terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Coisas estranhas vivem comigo e ganham força se impondo lentamente. Já não é só o acordar e pensar que acordei num quarto distante com janela para o quintal, ora sentindo o frio, ora sentindo o calor. Já não é só e apenas isso, agora é também o estar a descascar batatas, a preparar uma sobremesa, olhar a parede e ver uma janela a dar para o quintal, onde do lado direito junto ao muro vejo canteiros e vasos com as ervas aromáticas plantadas. Estranho a ausência de carros a passarem e acordo desta visão com a parede opaca à minha frente, parede que me separa da cozinha do vizinho. Não sei que coisa é esta que em mim vive e ganha força.
Não penso no futuro, talvez também já não o tenha. O futuro será para os mais novos, para aqueles que agora andam como a minha neta Maria na antiga quarta classe, ou seja, no quarto ano da primária numa escola EB/JI. Resta-me viver os dias que a vida me vai oferecendo, em paz comigo e com os outros por forma a que possa continuar a ter alguma actividade, alguma utilidade à sociedade onde estou inserido. Se a audição esta cada vez mais fraca, coisas de família, que a vista não me falte, para poder continuar a ler e assim saber que caminho devo fazer. A cadela Sacha, foi para a sua alcofa descansar mais um pouco. A gata Ísis resolveu vir para cima da minha mesa, ronronar e ao mesmo tempo fixar o seu olhar no ecran do computador, sempre pronta a também ela passar os seus dedos no teclado. Aconchego-a a ver se fica mais sossegada, não esta fácil.
A interioridade não me mete medo, apenas e só receio o acesso à saúde. Hospitais existem, públicos e privados, mas são mais os meios técnicos que os meios humanos para estes funcionarem como foram planeados e previstos, sem ovos não se fazem omeletes daí algum receio. E afinal, o que é na verdade a interioridade? Não precisamos de correr muito depressa para irmos da fronteira marítima, à fronteira com Espanha, quaisquer três horas a três horas e meia chegam para ir de Peniche às Termas de Monfortinho, IP6, A8, A15, A1, A23 e depois saindo em Castelo Branco apanhar a Nacional 240. Se estivermos no verão, numa manhã se sai da ponta do Cabo Carvoeiro com 17 graus e nessa manhã chegamos à fronteira com Espanha possivelmente com uns 34 graus.
O interior onde mora a interioridade, hoje em dia já tem auto-estrada, já tem IP’s, tem estradas que o ligam ao litoral e estradas que o ligam à Europa por Espanha. O interior tem melhores ares, ares mais puros, menos poluídos, as suas águas de solos graníticos são de composição físico-química menos duras que as do litoral; o interior tem azeite, tem vinho, cortiça mas também muitos matos, muitas terras abandonadas. Mas o interior não tem jovens e ao não ter jovens não tem crianças, vindouros para a sua continuidade. E, porque é que o interior não tem jovens? Porque é que o sistema tirou ou faz os poucos que ainda existem, sonharem com o el dourado da cidade? Porque, pergunto-me mas não tenho respostas nem saberes

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