Coisas
estranhas vivem comigo e ganham força se impondo lentamente. Já não
é só o acordar e pensar que acordei num quarto distante com janela
para o quintal, ora sentindo o frio, ora sentindo o calor. Já não é
só e apenas isso, agora é também o estar a descascar batatas, a
preparar uma sobremesa, olhar a parede e ver uma janela a dar para o
quintal, onde do lado direito junto ao muro vejo canteiros e vasos
com as ervas aromáticas plantadas. Estranho a ausência de carros a
passarem e acordo desta visão com a parede opaca à minha frente,
parede que me separa da cozinha do vizinho. Não sei que coisa é
esta que em mim vive e ganha força.
Não
penso no futuro, talvez também já não o tenha. O futuro será para
os mais novos, para aqueles que agora andam como a minha neta Maria
na antiga quarta classe, ou seja, no quarto ano da primária numa
escola EB/JI. Resta-me viver os dias que a vida me vai oferecendo, em
paz comigo e com os outros por forma a que possa continuar a ter
alguma actividade, alguma utilidade à sociedade onde estou inserido.
Se a audição esta cada vez mais fraca, coisas de família, que a
vista não me falte, para poder continuar a ler e assim saber que
caminho devo fazer. A cadela Sacha, foi para a sua alcofa descansar
mais um pouco. A gata Ísis resolveu vir para cima da minha mesa,
ronronar e ao mesmo tempo fixar o seu olhar no ecran do computador,
sempre pronta a também ela passar os seus dedos no teclado.
Aconchego-a a ver se fica mais sossegada, não esta fácil.
A
interioridade não me mete medo, apenas e só receio o acesso à
saúde. Hospitais existem, públicos e privados, mas são mais os
meios técnicos que os meios humanos para estes funcionarem como
foram planeados e previstos, sem ovos não se fazem omeletes daí
algum receio. E afinal, o que é na verdade a interioridade? Não
precisamos de correr muito depressa para irmos da fronteira marítima,
à fronteira com Espanha, quaisquer três horas a três horas e meia
chegam para ir de Peniche às Termas de Monfortinho, IP6, A8, A15,
A1, A23 e depois saindo em Castelo Branco apanhar a Nacional 240. Se
estivermos no verão, numa manhã se sai da ponta do Cabo Carvoeiro
com 17 graus e nessa manhã chegamos à fronteira com Espanha
possivelmente com uns 34 graus.
O
interior onde mora a interioridade, hoje em dia já tem auto-estrada,
já tem IP’s, tem estradas que o ligam ao litoral e estradas que o
ligam à Europa por Espanha. O interior tem melhores ares, ares mais
puros, menos poluídos, as suas águas de solos graníticos são de
composição físico-química menos duras que as do litoral; o
interior tem azeite, tem vinho, cortiça mas também muitos matos,
muitas terras abandonadas. Mas o interior não tem jovens e ao não
ter jovens não tem crianças, vindouros para a sua continuidade. E,
porque é que o interior não tem jovens? Porque é que o sistema
tirou ou faz os poucos que ainda existem, sonharem com o el dourado
da cidade? Porque, pergunto-me mas não tenho respostas nem saberes
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.