sexta-feira, 20 de abril de 2018

A minha preocupação és tu





A minha preocupação és tu. Enquanto eu puder, vamos os dois passear logo pela manhã, para tu chegares a casa como se não tivéssemos andado o que andamos, enquanto eu chego cansado, arrastando-me ao subir as escadas até ao terceiro andar para que possas ganhar massa muscular, eu já sem grandes forças lá sigo umas vezes à frente, outras atrás, porque tu me cansas e às vezes me tiras do sério, chego quase a perder a paciência contigo, quando queres saltar para as outras pessoas que se cruzam no nosso caminho, ou quando queres voar atrás dos pombos, das rolas, melros e passarada, bem te digo que tu não tens asas para poderes voar atrás deles, mas és teimosa e pensas, já que não consegues voar talvez consigas subir às árvores, por isso te digo coisas que não deveria dizer, grito e ralho contigo, parecendo mais um maluco, para logo depois mesmo sabendo que eu estou zangado, vires não só pedir uma festa, saltares e tentares dar aquela mordida suave que, com teus dentes finos de cinco meses são terríveis.
À noite ou ao fim da tarde lá vamos nós dois renovar o circuito que costumamos fazer, às vezes igual ao de manhã outras por outros caminhos, para que possas aprender a andar junto comigo. Não sou muito da educação só por estímulos positivos, porque tu esperta como és, pareces puxar a trela para eu te fazer parar e logo te sentas a olhar para o bolso onde levo os biscoitos da ordem. És esperta e sabes muito. Os nossos passeios nocturnos são sempre mais calmos, menos pessoas a cruzarem-se connosco e a passarada nos seus recantos a descansar. No final chegamos cansados de tal modo que, não sei quem se deixa dormir primeiro, se sou eu ou se és tu.
Quando fixas o teu olhar no meu e pões a cabeça de lado e depois do outro estabelecemos a nossa comunicação, ainda com alguns cortes ou interferências, mas já é pelos olhos que mais nos entendemos.

Quando ficamos em paz, dou comigo a pensar, como será, se ou quando, eu não puder andar contigo os nossos quilómetros diários? Fui eu que te escolhi, que culpa tens tu de seres como és? Que culpa terei eu em te ter escolhido? Porque me preocupo eu contigo?

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