Neste
final de noite, sinto-me ainda mais distante do mundo que me rodeia, quero
lá saber se foi ou não penalti,
já pouco me importam os resultados do futebol, quero lá saber o que
fez ou o que disse, o
ministro do ambiente, da defesa, da agricultura ou o do plano, quero
lá saber o que disseram os lideres da oposição, dizem
todos a mesma coisa num tom diferenciado, consoante se esta no
governo ou na oposição, há muito que não consigo ver as cores do
arco-íris na política governativa, todos ou quase todos cinzentões.
A cada dia que passa me
sinto mais longe de tudo o que me rodeia.
Eu
e o meu passado bebendo lembranças no silencio da noite, os lugares
por onde andámos desde que me lembro de jogar à bola feita de
trapos enrolados em meia velha de vidro das senhoras, de fugir à
polícia por jogarmos à bola no meio da rua, das reguadas que
apanhei na escola primária por não escrever a preceito no caderno
de duas linhas e afinal andava doente de uma coisa que nunca mais
lembrei o nome, eram outros tempos aqueles, não de respeito
cívico-educativo mas sim de
respeito pelo medo opressivo vivido por cada uma das famílias , as
paredes têm ouvidos , dizia-se à boca fechada, não fosse um bufo,
um pide, ouvir o que se falava e dizia inocentemente.
Eu e as asneiras que fiz na vida, os amores tidos, os
correspondidos e os não
correspondidos, todos eles e tudo nesta noite me fazem companhia,
eles e eu neste silêncio da noite que até incomoda o zumbido a cada
dia mais forte do ouvido direito, já pouco ouve mas teima em cantar
esta melodia zumbida quando no silêncio da noite converso com o meu
passado.
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