Mais
chuva no horizonte de nuvens negras se avizinha. Sente-se o trovejar
longínquo.
O
tempo passa no seu passo certo. As desgraças acontecem deixando-nos
sem ideias. Como
é possível acontecer coisa assim tão revoltante.
Que
amor me desengane que não quero viver num mundo assim. Faz falta
regressar a um outro tempo. Um tempo onde o amor seja lei universal
livre de todos os perigos que a soberba, o ciúme, a inveja lhe
incutem. Um tempo em que os que não sabem viver o amor que o
confundem com posse e poder nas suas múltiplas facetas não mais
consigam
olhar-se ao espelho, não mais conheçam
a compaixão, o perdão, a alegria de um olhar meigo, apaixonado, de
um abraço, de um simples beijo. Um tempo de vida longo que lhes
pesasse a consciência os vergasse à vergonha de terem que rastejar
os dias longos da sua existência sem outro sentido que o expiar a
culpa de não saberem cultivar o amor.
Mas
nós
ajudámos a criar esta
sociedade
que banalizou a vida, que fez do amor uma coisa doentia um
não-amor incapaz
de aceitar os outros na sua própria dimensão.
O
tempo passa no seu passo certo mas há ainda quem não saiba viver o
amor na sua essência. Ainda nos falta percorrer
muito tempo para chegarmos ao tempo em que o amor seja a única lei
universal de convivência entre todos.
“O
passado e o presente são o fio e agulha da nossa identidade”* Na
minha vida não há presente sem passado. Com
eles crio as minhas utopias os meus sonhos, a minha Liberdade
de caminhar pela outra margem, até porque “Quem é cego para o
futuro vive sem sonhos”* e
eu vou continuar a sonhar a criar o meu passado com saudades do
futuro.
*
Mia Couto em Universo Num Grão de Areia
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