domingo, 31 de maio de 2020

Perdido no tempo deste tempo novo


Porque será que os políticos raramente nos dão grandes exemplos de cidadania? O amor à causa pública só existe quando estão na oposição ao Governo. Depois, assim que chegam ao poder logo encontram justificações para esquecerem o ex-amor à causa pública. Já se habituou a mais esta tristeza. Também por isso e mais não tem filiação partidária reconhecendo ele que só haverá Democracia se existirem partidos políticos de diversas ideologias de preferência sempre mais do que dois, porque se existirem apenas dois partidos os sonhos e as utopias ficam como que deficientes, são asas de guias cortadas sem o grande horizonte azul.
Os caminhos e os seus sonhos de juventude desaguaram no mar,  habitando ainda entre a linha do horizonte e a orla da praia onde as ondas enrolam a areia e beijam as rochas, querendo ele acreditar que um dia chegará um tempo novo de uma outra Sociedade Mais Decente para todos sem distinção.
Desde o início destes tempos de medo e pânico viral que nunca entendeu as medidas impostas pelo Governo, nem compreendeu o instalar, o alastrar do medo, a criação do pânico que o próprio medo gerou. O caminho deveria ter sido outro. Um caminho com medidas onde não faltasse o educar as populações a suspenderem a sua vida social, um educar, um explicar que tínhamos de viver sem medo mas sem podermos ter a chamada vida social da sociedade de consumo a que nos habituámos. 
O país não estava abastecido de todos os equipamentos necessários e fundamentais para os profissionais de saúde poderem enfrentar nos hospitais públicos as vagas de doentes infectados pelo vírus; ao mesmo tempo os cientistas não sabiam, desconheciam o comportamento deste novo vírus. Com medo os que mandam aplicaram medidas draconianas.
Tínhamos de ter criado novos cuidados, novos hábitos, aprendendo a viver colectivamente esta situação de pandemia com coragem.
Com medo que o SNS não aguentasse estabeleceram as tais medidas duras que levaram ao pânico. Um pânico que levou muitos a baterem palmas e darem vivas ao Presidente, outros ao Primeiro Ministro e Ministra da Saúde. O medo político tirou-lhes a visão necessária para onde poderíamos estar a caminhar alegremente batendo palmas e dando vivas. A frase « a saúde primeiro» é só meia verdade.
Agora, os cientistas ainda não conhecem de todo o malvado vírus, as duvidas permanecem e são maiores entre eles, cientistas. Vendo que estávamos a mergulhar alegremente para o fundo do poço, os que mandam Presidente e governam Primeiro Ministro, meteram marcha atrás e andam correndo de uma lado para o outro tomando o pequeno almoço numa esplanada, almoçando, visitando fábricas, dormindo em hotéis indo à praia apanhar um pouco de sol e tomar banho, tentando com o seu exemplo dar confiança aos cidadãos medrosos e desconfiados que eles ajudaram a criar.
Ao tempo em duplicado de emergência segui-se o tempo de calamidade com a abertura gradual de algumas actividades que estavam fechadas por ordens governamentais. Um tempo em que as medidas que se impunham de educação cívica, de acção psicológica de como nos devemos comportar ao andarmos nas ruas, nos trabalhos e no tempo de lazer foi esquecido. O Estado mandou para a linha da frente os profissionais de saúde e pessoal auxiliar, mas esqueceu a floresta dos seus cidadãos que esperavam as suas ordens os seus conselhos que nunca chegaram, só as ordens chegavam tão repetidas e comentadas era nos sítios do costume. O Estado com os políticos e seus funcionários encolheu-se quando deveria estar na outra frente a ajudar, a educar civicamente as populações, principalmente aquelas onde agora os focos de contagio na cidade grande preocupam até os mais optimistas.
O velho ditado de “Nem tanto à terra Nem tanto ao mar” foi esquecido por quem não deveria ter sido.
Por outro lado o malvado vírus veio por a nu o individualismo egoísta da nossa sociedade de consumo.
Por fim, parece que em termos económicos e sociais não se aprendeu nada. A obsessão é voltarmos aos índices anteriores à chegada do vírus, com os costumeiros bobos da corte a opinarem sobre o desemprego, sobre a fome, sobre a TAP e os bancos apontando o dedo acusador ao Governo do centro esquerda.
Vai ou não vai é a questão política mais falada. Sem esquecer as peregrinações e o mundo do futebol tão necessário às lavagens.
Poderão chegar novos rios de dinheiro. Com essa chegada novos observatórios, novos institutos, novas fundações e talvez novas empresas municipais e inter-municipais se irão formar a par das novas empresas de consultadoria com raízes ocultas em amigos políticos para gerirem e beberem grande parte desses fundos que poderão chegar perdendo-se o rasto ao desaguarem no estuário da cidade grande.
O capital financeiro irá beneficiar enchendo os bolsos com prémios aos seus administradores.
A TAP irá receber os tais fundos para continuar a perder milhões alegremente porque é de bandeira.
As empresas de trabalho temporário terão novos e avultados lucros.
A precariedade no trabalho será definitivamente o modelo instalado no mundo laboral privado.
Os funcionários públicos irão continuar a ser a excepção no mundo laboral.
Os pensionistas e os reformados poderão estar mais descansados que não lhes irá faltar a pensão nem tão pouco lhes será declarado uma nova versão de «lay off» para eles.
Os ambientalistas de ar condicionado continuarão a ter tempo de antena em busca de uma boa colocação com futuro estável.
A tão falada e gasta coesão do território verá as culturas intensivas ocuparem largas áreas de regadio mesmo sem a garantia das chuvas; muitos hectares de terrenos ficarão mais pobres ao serem esventrados para a exploração de novos metais finos, sem que as condições ambientais de exploração e pós exploração sejam salvaguardadas na vida real, já que os consultores serão bem pagos para lhes darem o aval no papel a enviar para os burocratas de Bruxelas.
A floresta irá continuar a ser tema de estudos, comissões e discussões acaloradas para se chegar ao verão e há menor vaga de calor começarem os pinheiros e os eucaliptos a aderem sem nunca se saberem quem foram os mandantes dos pirómanos que as incendeiam.
Quando a vacina chegar já os donos disto tudo terão arrecadado maior riqueza do que em período homologa anterior à declaração pandémica. Os ricos, donos disto tudo, serão mais ricos, os pobres mais pobres e a tal classe média das estatística continuará a chorar a perda de meios e regalias.
Tudo isto numa visão optimista claro.

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