segunda-feira, 4 de maio de 2020

Segundo dia de um novo tempo


Entramos no segundo dia do agora designado tempo de calamidade. Tirando o aumento do transito automóvel na Estrada Nacional 10, notei e tomei nota que já não posso atravessar as passadeiras para os peões sem voltar ao momento anterior ao estado de emergência. Contei-os e só o condutor da quarta viatura ao ver-me já com o pé quase dentro da estrada parou olhando com cara de poucos amigos para mim. Deve ser do clube dos que pensa que ando o dia todo a passear a minha amiga, ou então como alguns outros que passavam por mim quando se dirigiam para a estação do comboio e se cruzavam comigo olhando-me com aquela cara de virgens ofendidas talvez porque a minha amiga não anda com açaime. Tristes coitados.
Olho a primeira página dos jornais. Nada de novo, tudo como dantes, cada um cumprindo a sua missão ao serviço dos interesses sem rosto. Nos ditos desportivos então a coisa ainda piora em notícias falsas e alarmistas dos interesseiros que dominam o sistema. Abro a televisão ao tomar o pequeno almoço. Felizmente não sou de vomitar facilmente, tenho bons ácidos no estômago e quando atinjo o ponto de fervura falo e grito-lhes as minhas verdades com todo o chorrilho de palavras bonitas que a nossa língua encerra. Eu sei que eles não me ouvem mas deixar a revolta ficar presa no peito não consigo. Caminho para um estado lúcido de loucura mas prefiro assim do que ir no rebanho, na manada ou na vara só porque os outros vão e pensam ser esse o melhor caminho.
Às vezes fico a pensar entrando em rotundas onde dou voltas e voltas à procura de uma saída e não a encontro. Viver neste tempo de tanta falta de respeito pelo outros não está fácil. Já nem falo da solidariedade que deveríamos ter todos uns com os outros, quanto mais da fraternidade e igualdade. Dizem-nos os arautos do sistema que o malfadado vírus é democrático que não olha a classes sociais. Deixo-me rir quando os ouço. Sim, somos todos humanos iguais face ao vírus como com qualquer outra doença, por exemplo o cancro. Só que há humanos que viajam em primeira classe, outros em segunda e uma multidão ainda em terceira classe ou uns navegam em camarotes e outros no porão. Somos todos iguais uma porra. Que as leis de um estado se apliquem a todos por igual é uma coisa boa felizmente, mas o todo é a cada dia mais heterogéneo, diferenciado, diverso, pelo que, a aplicação desse princípio igualitário não tem as mesmas condições de cumprimento para todos.
Neste tempo de pandemia, de medos irracionais, de ansiedades muito diversas, não vejo ideias que não gravitem à volta dos eternos interesses monetários.
Dizer que vamos produzir o que nos habituamos a importar da China é musica em violino sem cordas.
Onde, quando e como vão dar ou doar os tais quinze milhões a comprar publicidade aos órgãos de comunicação social que comunicam muito mas pouco informam?
Gosto da telescola agora com outro nome mais moderno. Todos os alunos a ouvirem o mesmo ensinar. Nasci e estudei no tempo do livro único. Todos aprendíamos as mesmas verdades e as mesmas mentiras. Não foi o livro único que me inibiu a mim e a muitos como eu de pensarmos de forma diferente, de duvidarmos que a coisa poderia ser assim ou não. Lá vou eu entrar num outra rotundo com tantas saídas que não sei qual a melhor para o futuro das minhas netas e neto.
Vou pedalar para outra freguesia.

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