segunda-feira, 11 de maio de 2020

Sétimo dia de um tempo novo


Só fui professor no serviço militar em Chaves. Um professor imposto pelos galões que me puseram nos ombros.
Terminado o tempo de militar obrigatório ainda me inscrevi no primeiro concurso realizado no pós 25. Contabilista, curso médio na altura tinha à frente licenciaturas que nada piscavam de contabilidade. Virei costas e lá andei pelo mundo das empresas privadas, onde em algumas tinha a alcunha de "professor". Quanto mais os meus colaboradores soubessem mais facilitada tinha a minha vidinha. Estudava no ISEG à noite.
Durante a juventude na escola de Peniche pertenço à geração do livro único. No Instituto à geração que tinha de usar casaco e gravata para sermos uns homens. Um dia o professor de Matérias Primas Práticas, Domingos Sequeira, não começou a aula e só olhava para mim. Atrapalhado com todos a olharem para o professor e para mim, meti a mão ao bolso do casaco e lá estava esquecida a desgraçada da gravata. Ao tirá-la do bolso o professor apontou-me a porta de saída. Dei meia volta e com o rabo entre as pernas saí da aula sem piar.
O meu irmão fez carreira de professor. Brilhante e reconhecida por colegas e seus alunos.
Tenho um amigo que dava aulas na Vila do Bispo pertencente ao Reino dos Algarves. Professor de Educação Física que não se limitava ao físico. Durante meses lá vinha ele no seu Fiat Panda, muitas vezes de noite para minha casa depois de um dia de trabalho a dar aulas. Tudo para assistir às aulas de Mestrado no seu antigo Instituto agora Faculdade de Motricidade Humana e evoluir no saber e na carreira docente. Outros seus colegas de curso quando íamos beber a bica depois do jantar e os encontrávamos , estranhavam-lhe o sacrifício. Queriam apenas ver chegada a hora das férias.
Como em todo o lado em todas as profissões e ofícios há os que procuram evoluir, os que procuram fazer bem, os que fazem e não se importam, os que se estão marimbando para o que fazem, os que não gostam do que fazem porque o patrão é explorador, outros porque o chefe que faça pois ganha mais do que ele etc etc… agora até há desventurados a falarem asneiras venenosas por aí.Trataram as duvidas do desconhecido vírus mandando todos ficarmos em casa, deixaram o vírus do medo se instalar em todos os estratos sociais nas diversas gerações. Agora sem ideias para acalmar o pânico instalado deixam o ónus para os da DGS quando não foi esta Direcção que mandou fechar escolas, cresces e infantários.  
Ninguém saberá o que teria acontecido se as escolas, creches e infantários não tivessem fechado e professores, alunos, funcionários, educadoras, auxiliares e crianças tivessem continuado a irem às escolas, creches e infantários respeitando todos as normas de segurança que o contágio do vírus aconselha e os técnicos de saúde pensam serem de aplicar.
Houve fábricas que não fecharam. Centros de investigação que até aumentaram o número de horas trabalhadas. Empresas e empresários agrícolas assim como os pescadores que continuaram a sua vida normal de trabalho, não havendo depois o convívio, a vida social a que estavam habituados. Os supermercados das grandes cadeias de distribuição continuaram e continuam abertos, sem rupturas graves nos stocks dos géneros alimentares, sem casos de indisciplina nos seus clientes.
Tenho ideias mas não saberes e claro as minhas dúvidas sobre o ensino. Uma coisa é certa, fecharem as escolas contra a ideia de alguns técnicos de saúde. Foi uma medida política fácil, que agradou a muitos.
Nada, mesmo nada fácil vai ser o reabrir das escolas dos institutos e das universidades, das creches e infantários seja agora, daqui a várias semanas… até chegar a tão desejada vacina para nos imunizar aos efeitos nefastos do vírus. Para lá das organizações sindicais dos professores, temos os diversos órgãos das escolas e agora o aparecimento de tantas associações que se reclamam de interesses vários. Com tantos opinativos interesses não sei como o Ministro conseguirá dormir.

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