quinta-feira, 7 de maio de 2020

Quinto dia deste novo tempo


O silêncio domina. A vida corre normal. O vírus não entrou cá no concelho.
A viagem ontem correu serena. Nas duas superfícies comerciais onde fiz compras na cidade de Castelo Branco o movimento era perfeitamente normal com as pessoas a usarem a máscara quando entram nas mesmas. Ninguém atropela ninguém, todos nos evitávamos uns aos outros.
Acabava de almoçar quando chegou o meu amigo que me vinha cumprimentar porque cá o bicho não entrou. Evitei dizendo-lhe que eu vinha da poluição e assim era melhor, já que todo o cuidado é pouco. Estávamos a falar das videiras novas que pegaram todas para depois se arrancar as velhas, quando passa um outro amigo que depois de almoçar voltava ao trabalho. Amigo que gostava de ir ao café beber a sua bica, a sua cervejinha mas que não aceita ir ao café e ter de as beber na rua, revoltado com a situação já se habituou a bebê-las em casa. Também a mulher do meu amigo diabética ao ficar em casa todo este tempo diz que já não sente necessidade de todas as manhãs ir lá acima ao café beber a sua bica. O vírus a mudar hábitos de convivência.
Como não tenho televisão só a rádio e a Internet me ligam ao mundo. Mundo que julgávamos ser mais civilizado do que na verdade o é.
A grande maioria dos portugueses ficou em casa não por educação cívica mas por terem medo, com as televisões sempre mais interessadas na exploração desse conceito tão antigo que é o medo e que tantas audiências lhe dá. Em vez do procurarem aconselhar e ajudar à educação cívica de como nos devemos comportar em “pandemia” só a apologia do medo lhes interessa durante horas e horas de emissão, criando o pânico em várias gerações. Alguns políticos responsáveis ajudaram a que tal clima se instalasse. Que juventude iremos ter amanhã é mais uma das minhas duvidas?

Com o passar do tempo o vírus mantém a sua actividade de contágio, contudo as autoridades governativas vão dando autorização para que algumas actividades económicas recomecem a sua actividade lentamente. O medo parece ter tomado conta do tempo entrando na fase de vivermos com dois vírus, o tal covid-19 e um outro vírus sem nome mas já nosso conhecido de anos anteriores ou seja o da recessão económica. Este segundo vírus reacende-se por acção do primeiro, sendo necessário um grande esforço colectivo para lhe fazer frente.

A fome em muitos lares familiares que recorrem às organizações sociais para poderem ter algo para se alimentarem não é apenas e só consequência da pandemia, ela simplesmente veio agravar ainda mais a vida precária de muitas famílias cuja existência é necessária ao actual sistema social da sociedade. Ou não fosse a fome mundial representar tão pouco comparativamente aos gastos da industria do armamento, por exemplo.

Considerando que o país só esteve unido entre o 25 de Abril e o 1 de Maio de 1974, não vejo como iremos sair desta pandemia dupla sem sacrifícios individuais e colectivos por muito boa que seja a vontade nas palavras de quem nos governa. As diversas organizações políticas e sociais já estão a puxar cada uma para o lado que lhe convém pôr ideologia, por interesses mais ou menos ocultos, criticando sempre as medidas dos que governam e tem de tomar decisões.

O Turismo actividade que mascarava as nossas contas públicas está moribundo com muitas das empresas que dele faziam a sua actividade principal ligadas à máquina em busca de oxigénio, sendo que para muitas empresas parece não haver ventiladores disponíveis. Iludidos pelos ares da falsa “primavera árabe” aprovaram-se projectos imobiliários assassinos dos bairros tradicionais das cidades por falta de outra visão estratégica para essas zonas históricas das urbes; autorizaram-se hotéis e mais hotéis sempre a contar com o ovo no cu da galinha. A iniciativa privada e o empreendedorismo a fazer de sofríveis autarcas gente importante. Agora os empreendedores, os homens que tinham visão do futuro estão de calças nas mãos a pedirem dinheiro ao velho Estado. O tal Estado que era pesado, burocratizado que os impedia de realizar os seus sonhos de homens de negócio com visão de futuro.
Quando recebiam os “dinheirinhos” das marcações de estrangeiros... quantos não o recebiam directamente nas suas contas off. Agora que perderam a visão de futuro porque chegou um vírus estendem a mão ao Estado Previdência que tanto renegavam. Mas o pequeno e médio empresário sem lugar na dita concertação social dos grandes faz das tripas coração e contas à vida...

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