sexta-feira, 15 de maio de 2020

Décimo terceiro dia deste tempo novo


Na outra margem por onde caminho olho a margem onde vivo. Cada dia entendo menos o que se passa à minha volta. Há tantos a festejarem, a baterem palmas, a darem vivas, a agradecerem a profissionais e eu sem entender o porquê de tantas saudações e vivas.
Depois os mesmos que batem palmas e agradecem ou mais ou menos os mesmos, vivem no medo deixando-se influenciar por notícias emanadas por qualquer fonte dita noticiosa mas não identificada e ou reconhecida como credível.
As lutas pelo lucro ganancioso estão no auge mas o pessoal bate palmas, dá vivas e parabéns.
Nunca entendi porque quando fui pai me davam os parabéns. Quando as filhas faziam anos me davam de novo os parabéns e eu sem entender os porquês aceitava-os com educação sorrindo à desconhecida razão.
Chegados ao calor que é usual ser no Verão mas pode acontecer no final da Primavera ou no início do Outono há sempre vários pirómanos que se sentem felizes a ver as florestas mal cuidadas de pinheiros, eucaliptos e mato diverso a arderem sem controle. Com os incêndios criminosos enchem-se as redes ditas sociais, enchem-se as televisões quantas vezes elas promotoras dos instintos pirómanos com imagens de vivas, a baterem palmas, a agradeceram com vivas aos bombeiros que elegem como soldados da paz, sem que eu consiga enxergar que paz é que está a ser festejada.
Neste tempo em que a vida foi também ela globalizada por um vírus mal intencionado para a vida dos humanos, batem palmas, dão vivas, parabéns, agradecimentos, medalhas de mérito e se calhar até prometem o céu aos profissionais de saúde, sejam médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares como se eles não estivessem a fazer dignamente o seu trabalho. Pelo meio um ou outro se lembram dos profissionais da recolha do lixo, mas logo são esquecidos e ignorados. Esses e todos os outros profissionais que na sua vida produzem saberes como os professores dignos dessa profissão (porque infelizmente também os há que apenas se preocupam com a transferência dos euros no final do mês). E os cientistas que também trabalham horas e horas em busca de soluções? E os engenheiros e os operários das mais diversas profissões e afins, os agricultores, os pescadores ou seja todos os que novos e velhos de todas as outras artes e ofícios que continuam a trabalhar com medo ou sem medo… esses não contam, não merecem uma citação um aplauso, um agradecimento?
Há muito que deixei de bater palmas. O meu agradecimento é de sentida gratidão silenciosa. As palmas batem-se a qualquer um mas a gratidão neste meu sentir é de respeito para quem o merece e não é qualquer um que a merece.
A cada dia que passa neste meu caminhar, concluo e tenho duvidas: - serei eu desta vida? Não andarei cá por engano… Que faço eu por cá? Com o passar dos anos mais desenquadrado me sinto. Assim caminho na minha outra margem olhando a margem onde vivo.

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