Na
outra margem por onde caminho olho a margem onde vivo. Cada dia
entendo menos o que se passa à minha volta. Há tantos a festejarem,
a baterem palmas, a darem vivas, a agradecerem a profissionais e eu
sem entender o porquê de tantas saudações e vivas.
Depois
os mesmos que batem palmas e agradecem ou mais ou menos os mesmos,
vivem no medo deixando-se influenciar por notícias emanadas por
qualquer fonte dita noticiosa mas não identificada e ou reconhecida
como credível.
As
lutas pelo lucro ganancioso estão no auge mas o pessoal bate palmas,
dá vivas e parabéns.
Nunca
entendi porque quando fui pai me davam os parabéns. Quando as filhas
faziam anos me davam de novo os parabéns e eu sem entender os
porquês aceitava-os com educação sorrindo à desconhecida razão.
Chegados
ao calor que é usual ser no Verão mas pode acontecer no final da
Primavera ou no início do Outono há sempre vários pirómanos que
se sentem felizes a ver as florestas mal cuidadas de pinheiros,
eucaliptos e mato diverso a arderem sem controle. Com os incêndios
criminosos enchem-se as redes ditas sociais, enchem-se as televisões
quantas vezes elas promotoras dos instintos pirómanos com imagens de
vivas, a baterem palmas, a agradeceram com vivas aos bombeiros que
elegem como soldados da paz, sem que eu consiga enxergar que paz é
que está a ser festejada.
Neste
tempo em que a vida foi também ela globalizada por um vírus mal
intencionado para a vida dos humanos, batem palmas, dão vivas,
parabéns, agradecimentos, medalhas de mérito e se calhar até
prometem o céu aos profissionais de saúde, sejam médicos,
enfermeiros, técnicos e auxiliares como se eles não estivessem a
fazer dignamente o seu trabalho. Pelo meio um ou outro se lembram dos
profissionais da recolha do lixo, mas logo são esquecidos e
ignorados. Esses e todos os outros profissionais que na sua vida
produzem saberes como os professores dignos dessa profissão (porque
infelizmente também os há que apenas se preocupam com a
transferência dos euros no final do mês). E os cientistas que
também trabalham horas e horas em busca de soluções? E os
engenheiros e os operários das mais diversas profissões e afins, os
agricultores, os pescadores ou seja todos os que novos e velhos de
todas as outras artes e ofícios que continuam a trabalhar com medo
ou sem medo… esses não contam, não merecem uma citação um
aplauso, um agradecimento?
Há
muito que deixei de bater palmas. O meu agradecimento é de sentida
gratidão silenciosa. As palmas batem-se a qualquer um mas a gratidão
neste meu sentir é de respeito para quem o merece e não é qualquer
um que a merece.
A
cada dia que passa neste meu caminhar, concluo e tenho duvidas: -
serei eu desta vida? Não andarei cá por engano… Que faço eu por
cá? Com o passar dos anos mais desenquadrado me sinto. Assim caminho
na minha outra margem olhando a margem onde
vivo.
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