Vejo
o dia a renascer. Ainda o relógio não chegou às seis. Sentado na cama olho pela janela o silêncio da
vida que vai lá fora. Também por esta estrada a acção do vírus
parece ter diminuído o tráfego das trocas logísticas com Espanha.
Com
grande parte dos sectores económicos em suspenso a procura e a
oferta dos bens que por aqui transitam diminuiu pelo que circulam
menos gigantes do asfalto a caminho e de regresso pela fronteira
aberta nas Termas de Monfortinho.
Contemplando
a beleza que o silêncio me dá vou pensando em muitas coisas porque
também tenho outros medos que não do vírus. Medo da alzheimer que
me pelo, por isso em vez de receber os dados cozinhados e embalados
que me oferecem para não me cansar, prefiro pensar, duvidar,
equacionar sistemas para pôr os neurónios a trabalhar em busca das
soluções possíveis, mesmo que muitas delas sejam apenas sonhos e
utopias irrealizáveis.
Não
ponho em causa os dinheiros que o Estado através do Governo vai dar
às empresas. Custa-me aceitar ajuda a algumas empresas mas é o
sistema que a maioria escolheu, tenho que aceitar. Neste caso está a
TAP, empresa que ao longo da sua existência acumula montes de
prejuízos. Só apresentou lucro quando por interesses políticos que
não de gestão, se esqueceram de fazer as amortizações dos aviões.
Dizem-me que é uma empresa fundamental, uma empresa bandeira do nome
de Portugal. Fui contra a quase doação a privados que muito
prometiam. Fui contra o modelo de recompra de 50% do capital, uma
chinesisse para "portuga" ver e calar. O que se viu aquando
da recompra dos 50% está à vista. Uma privatização em que o
Estado ainda pagou para vender 50% sem direito a decidir. Colocou um
CEO escolhido entre adversários políticos para dizer que é
democrático.
Sobre
a EFACEC empresa de ponta que exporta saber técnico transformado em
valor acrescentado, isto é, riqueza nossa, não ouço notícias de
que tenha o Estado feito a intervenção necessária à compra do
capital que um hacker odiado por muitos, obrigou a empresária
Angolana a colocar em venda. A EFACEC é uma empresa industrial,
tecnológica que produz bens transacionáveis e os exporta com
qualidade “made in Portugal”.
A
TAP é uma empresa de serviços que contribui para receitas sem
produzir bens, apenas produz serviços andando por vezes nas bocas do
mundo pela fraca qualidade dos seus serviços igualmente "Made in Portugal"
Maneira
diferente a minha de ver as coisas.
O
estado que as economias estão a atravessar deveria ser olhado pelos
governantes lá para a frente, para trás do por do sol onde outro
modo desponta,
outras oportunidades de vivermos nos aguardam… Como ajudar as
empresas nacionais que foram capazes de reconverter a produção e
ajudar o SNS na luta contra o vírus, empresas que reestimaram os
objectivos e continuaram a produzir em condições de segurança,
algumas para exportação.
Abandone-se
o método de só nos preocuparmos com as receitas, olhemos com outros
olhos de ver e analisar o valor acrescentado, a riqueza produzida,
sem esquecermos os proveitos e o resultado porque em tudo no fim há
sempre um resultado final.
Que
futuro se deve desenvolver no interior do país? Vias de comunicação
já existem globalmente. Gente que pensa que luta e resiste contra o
esquecimento também. Que fazer? Que soluções? É preciso deixar de
falar no interior e vir estar cá uns tempos, sem câmaras de filmar
e agentes de segurança. É preciso vir e ouvir as gentes que vivem e
resistem no próprio interior, não só as autoridades e agentes do
Estado. É preciso saber conversar, saber ouvir as gentes, meditar sobre as ansiedades
dos jovens dos politécnicos, das universidades… Não só ouvir aqueles
que do interior se foram para a cidade grande e hoje engravatados
falam e expõem ideias que leem em tratados escritos por gente de
outras regiões de outros viveres que não o nosso próprio interior.
Não basta ter um Ministério e uma ou duas Secretarias de Estado,
não chega e se não chega não resolve problemas.
Lembrem-se
que se nada for mudado no sistema de exploração vigente
dos recursos naturais
e humanos, mantendo-se
todas as premissas do
actual modelo
da sociedade,
se nada for mudado ao
estilo de vida… aos
vossos descendentes, bisnetos
e trinetos e outros
pelo caminho que as
coisas levam só lhes
restará virem a fugir
para o interior se não
quiserem ser
absorvidos pela subida
das águas dos oceanos
que já esta em curso,
mas que os políticos
preferem ignorar gastando milhões inutilmente a por areia para o mar
levar de novo.
Será
no interior que
hoje é
esquecido
e
ignorado que
estará a Nova Arca de Noé e
quem o diz não é bruxo.
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