sexta-feira, 8 de maio de 2020

Sexto dia de um tempo novo


Vejo o dia a renascer. Ainda o relógio não chegou às seis. Sentado na cama olho pela janela o silêncio da vida que vai lá fora. Também por esta estrada a acção do vírus parece ter diminuído o tráfego das trocas logísticas com Espanha.

Com grande parte dos sectores económicos em suspenso a procura e a oferta dos bens que por aqui transitam diminuiu pelo que circulam menos gigantes do asfalto a caminho e de regresso pela fronteira aberta nas Termas de Monfortinho.
Contemplando a beleza que o silêncio me dá vou pensando em muitas coisas porque também tenho outros medos que não do vírus. Medo da alzheimer que me pelo, por isso em vez de receber os dados cozinhados e embalados que me oferecem para não me cansar, prefiro pensar, duvidar, equacionar sistemas para pôr os neurónios a trabalhar em busca das soluções possíveis, mesmo que muitas delas sejam apenas sonhos e utopias irrealizáveis.
Não ponho em causa os dinheiros que o Estado através do Governo vai dar às empresas. Custa-me aceitar ajuda a algumas empresas mas é o sistema que a maioria escolheu, tenho que aceitar. Neste caso está a TAP, empresa que ao longo da sua existência acumula montes de prejuízos. Só apresentou lucro quando por interesses políticos que não de gestão, se esqueceram de fazer as amortizações dos aviões. Dizem-me que é uma empresa fundamental, uma empresa bandeira do nome de Portugal. Fui contra a quase doação a privados que muito prometiam. Fui contra o modelo de recompra de 50% do capital, uma chinesisse para "portuga" ver e calar. O que se viu aquando da recompra dos 50% está à vista. Uma privatização em que o Estado ainda pagou para vender 50% sem direito a decidir. Colocou um CEO escolhido entre adversários políticos para dizer que é democrático.
Sobre a EFACEC empresa de ponta que exporta saber técnico transformado em valor acrescentado, isto é, riqueza nossa, não ouço notícias de que tenha o Estado feito a intervenção necessária à compra do capital que um hacker odiado por muitos, obrigou a empresária Angolana a colocar em venda. A EFACEC é uma empresa industrial, tecnológica que produz bens transacionáveis e os exporta com qualidade “made in Portugal”.
A TAP é uma empresa de serviços que contribui para receitas sem produzir bens, apenas produz serviços andando por vezes nas bocas do mundo pela fraca qualidade dos seus serviços igualmente "Made in Portugal"
Maneira diferente a minha de ver as coisas.
O estado que as economias estão a atravessar deveria ser olhado pelos governantes lá para a frente, para trás do por do sol onde outro modo desponta, outras oportunidades de vivermos nos aguardam… Como ajudar as empresas nacionais que foram capazes de reconverter a produção e ajudar o SNS na luta contra o vírus, empresas que reestimaram os objectivos e continuaram a produzir em condições de segurança, algumas para exportação.
Abandone-se o método de só nos preocuparmos com as receitas, olhemos com outros olhos de ver e analisar o valor acrescentado, a riqueza produzida, sem esquecermos os proveitos e o resultado porque em tudo no fim há sempre um resultado final.

Que futuro se deve desenvolver no interior do país? Vias de comunicação já existem globalmente. Gente que pensa que luta e resiste contra o esquecimento também. Que fazer? Que soluções? É preciso deixar de falar no interior e vir estar cá uns tempos, sem câmaras de filmar e agentes de segurança. É preciso vir e ouvir as gentes que vivem e resistem no próprio interior, não só as autoridades e agentes do Estado. É preciso saber conversar, saber ouvir as gentes, meditar sobre as ansiedades dos jovens dos politécnicos, das universidades… Não só ouvir aqueles que do interior se foram para a cidade grande e hoje engravatados falam e expõem ideias que leem em tratados escritos por gente de outras regiões de outros viveres que não o nosso próprio interior. Não basta ter um Ministério e uma ou duas Secretarias de Estado, não chega e se não chega não resolve problemas.
Lembrem-se que se nada for mudado no sistema de exploração vigente dos recursos naturais e humanos, mantendo-se todas as premissas do actual modelo da sociedade, se nada for mudado ao estilo de vida… aos vossos descendentes, bisnetos e trinetos e outros pelo caminho que as coisas levam só lhes restará virem a fugir para o interior se não quiserem ser absorvidos pela subida das águas dos oceanos que já esta em curso, mas que os políticos preferem ignorar gastando milhões inutilmente a por areia para o mar levar de novo.

Será no interior que hoje é esquecido e ignorado que estará a Nova Arca de Noé e quem o diz não é bruxo.

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