quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

22,06.27

Pela janela observa os cumprimentos de despedida da noite com o novo dia. Os ramos da velha oliveira dizem-lhe que o vento fraco continua de noroeste.

No seu aparelho de comunicação chinês, já deu uma vista de olhos pelas capas dos jornais. Nada lhe despertou interesse. Quando ontem lhe falaram na Conferência dos Oceanos, perguntou se os pescadores ou os mestres das embarcações de pesca estariam presentes. Hoje, ao ler o título das declarações do antigo ministro do Ambiente na capa do DN confirmou, que os muitos colarinhos brancos irão centrar as suas «faladuras» na exploração dos recursos marítimos, podendo haver quem fale defendendo a não poluição dos oceanos, pois é um tema moderno e fica bem.

A sobre-exploração de alguns recursos marítimos irão não só continuar como aumentar, e, novas oportunidades serão anunciadas para o capital financeiro poder vir a usufruir lucros fabulosos. É para isso que estas Conferências Mundiais existem. Não há ponta sem nó.

Recordemos que em alguns mares o temível tubarão está em vias de desaparecer, sendo que o negócio da indústria farmacêutica e cosmética não para de crescer. O mesmo com a pesca da baleia. Todos, conferencistas e participantes, uns e outros, irão acrescentar mais um capítulo no seu vasto curriculum. No final, os conferencistas não irão a banhos no logo ali Mar da Palha, nem sequer, irão voltar às suas origens de barco a remos ou com velas e ainda menos de bicicletas-anfíbias.

Por fim todos eles, assim como os outros que os seguem cegamente, irão sentir-se mais felizes e descansados. Eles não estão sozinhos no interesse que os oceanos representam para o futuro crescimento económico, para a criação e manutenção das ilusões que o marketing político de mão dada com o comercial, criam e irão criar.

Viajarão os conferencistas de regresso, contentes e felizes, em aviões não poluentes, a bem dos oceanos. Alguns poderão usar os novos carros elétricos imaginando que num futuro próximo irão realizar uma outra conferência sobre as oportunidades da reciclagem das baterias de lítio, para bem dos negócios com o ambiente. Acrescentando então, novo capítulo ao seu curriculum.

Por cá, neste Portugal esquecido o mar são os campos dourados onde o verde da copa das resistentes árvores, são ilhas de esperança, para os que teimam em resistir não abandonando as suas casas, as terras dos seus antepassados. Por cá o azul dos oceanos está longe por detrás das serras, sendo substituído pelo azul de um céu limpo de nuvens.

Os vizinhos do outro lado do Rio Erges previam ontem que a temperatura vai voltar para a casa dos trinta e muitos graus celsius, esta semana.

Ontem a TV, quando a ligou, foi muito mais a dos vizinhos extremenhos. E foi, porque não viu notícias da guerra, caso contrário desliga-la-ia de imediato.

Já lá vão os anos em que por esta altura dormia em cima da cama, com a janela aberta e apenas o lençol para de madrugada se resguardar do fresco. No ano passado, não se lembra, de uma noite em que não fechasse a janela e não usasse um edredom. Este ano junta-lhe o pijama de mangas compridas. Depois lê e ouve os arautos, quer da sociedade consumista, quer dos ecologistas-de-ar-condicionado, botarem «faladura» de que o mês foi o mais quente dos últimos anos. Ao ler e ouvir tais sumidades, sorri por saber que a idade não lhe perdoa, sentindo-se bem, com o ser um tresmalhado cada dia mais afastado do rebanho. 

 

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