terça-feira, 27 de dezembro de 2022

22.07.21

 

Novo dia começa com velhos pensamentos. Pouco ou nada tem mudado, nos últimos tempos da sua caminhada. Caminha na contramão impotente. Tem consciência que não é capaz de mudar o mundo onde está inserido. Já desistiu de se enquadrar. O mesmo acontece com a maioria dos grupos para os quais é convidado. Republicano e solitário, cada dia mais distante do rebanho, encontra nos livros um modo de sobrevivência. Escolhe-os fora dos top ten ou dos Best sellers. Já quando era jovem ia ao cinema não pela publicidade que os mesmos tinham nos jornais de então. Viaja no tempo e no espaço com as suas leituras. Pouco viajado é nas outras formas de viagens, mais do que a escultura, arquitetura ou pintura é nos ensinamentos que os livros traduzem que gosta de viajar, conhecer idealizando com o seu pensamento povos e lugares.

A manhã chegou fria. Nada de anormal neste tempo de microclima penicheiro. A humidade que os deuses sopram do mar, a norte ou a sul do Cabo Carvoeiro tanto faz, aconselha a vestir algo mais que uma simples camisa de manga curta. O céu totalmente tapado, pelas nuvens de uma frente, ameaça manter-se, a não ser que a nortada habitual acorde e ao espreguiçar-se afaste dos céus este manto compacto e cinzentão de nuvens.

De resto tudo igual ao passado recente. Não vê televisão. Na rádio só a Antena2. Mesmo esta rádio quando dá notícias sobre a guerra, desliga-a. Na verdade a guerra ainda o isolou mais na outra margem, onde vive e caminha com a sua pequena mas constante loucura silenciosa. A ausência é a sua companhia virtual.

Não se quer imiscuir nas "faladuras" sobre os incêndios. Não sendo especialista incendiário, abstem-se de opinar. As causas são conhecidas de todos, os que ainda pensam com seus neurónios saudáveis. Os interesses à volta dos incêndios igualmente conhecidos, assim como, a fraqueza dos políticos que no calor das chamas prometem reformas que nunca realizam por falta de coragem em tomar decisões que levem o país a enfrentar os empreendedores do negócio sazonal de rendimentos garantidos.

2017 foi um ano terrível de incêndios e mortes. Quando nesse ano deslizava pela A23 a caminho do seu interior raiano, ao passar Abrantes foi desviado para estrada secundária, por a autoestrada estar cortada por incêndio que já andava à solta no concelho de Mação. Foi apanhar o IP2 perto de Nisa e entrou na A23 no Fratel. Quando passou sobre o viaduto que existe depois da saída para Proença a Nova, novo fogo começava com a chamas a voarem alto. Incêndio que por vales e montes consumiu mato, estevas, pinheiros, eucaliptos e tudo o que encontrou à sua frente passando inclusive o Rio Tejo para a margem esquerda. Vieram bombeiros de Espanha ajudar ao combate do maldito fogo que durou dias sem conto. Neste tempo havia um Ministro do Ambiente que gostava de dizer coisas, brotando faladura de promessas várias. Igualmente havia um velho Ministro da Agricultura que nos anos muitos de ministro, as suas medidas apontavam sempre para a existência de fundos a que proprietários e agricultores poderiam recorrer. Só promessas que beneficiam meia dúzia de empresas de consultadoria e o sistema bancário. Também existiram muitos ecologistas, de ar condicionado, que empunhavam bandeiras de ódio contra o eucalipto e o pinheiro. Todos, políticos, ecologistas e "paineleiros televisivos”, de acordo, era necessário fazer a reforma da floresta. Reforma que começaria pela elaboração, mais uma vez, do cadastro (já antes prometido). O Planeta no seu constante movimento de rotação sobre si mesmo fez passar dias, meses e anos, sem que o país conhecesse o tal cadastro. Ele nas suas muitas viagens pela A23 foi e vai constatando que o pouco que se fez foi plantação de eucaliptos australianos. Nada tem contra a árvore eucalipto. Gosta de inspirar o odor que os mesmos libertam.

Hoje como em 2017 continua convicto que a culpa dos incêndios não é do eucalipto e muito menos do pinheiro. Ninguém conhece uma árvore que se incendeia a si própria. Depois, naqueles vales profundos e montes que ladeiam a A23 que outro rendimento mais fácil podem os seus proprietários obter das suas terras? A culpa dos incêndios é do ser humano, muito facilitada pelas políticas liberais que vêm sendo tomadas num granel avulso sem nexo nem visão de futuro, por uma decadente e muito onerosa corte em Bruxelas, para os países da bacia do Mediterrâneo europeu.

A sua máquina de comunicação tem a bateria com fome. Vai voltar à leitura enquanto a máquina carrega a sua bateria de lítio.

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