terça-feira, 27 de dezembro de 2022

22.07.11

 

Com o passar constante do tempo, acumulando anos de vida, sente-se cada vez mais longe do tradicional rebanho da grande maioria. É um tresmalhado, que já atravessou o deserto, mas não se consegue integrar na sociedade atual, caminhando assim, de forma consciente, na outra margem da vida.

Tenta compreender o tempo de agora, mas sente-se impotente para o entender.

Nasceu no final do ano de 1950. É um fruto da geração de sessenta. Geração que pôs em causa todas as tradições, todos os tabus vigentes à época. Tradições e tabus que estavam protegidos pelas diversas forças conservadoras da sociedade dos "brandos costumes, públicas virtudes''.

No final dos anos sessenta, despertou e descarrilou acreditando e alimentando como possíveis de realizar alguma das utopias de então. Foi nessa época que se tresmalhou da maioria, passando a olhar o mundo com outros olhos, a ouvir não só e apenas o que o pensamento único difundia como verdade oficial. A dialética acompanha-o até hoje, recusando-se a integrar o atual rebanho da grande maioria.

Não tem saudades desses tempos de luta contra o sistema político Salazarista, nem contra os tradicionais usos e costumes. Recorda os avanços alcançados, mas não esquece o outro lado negro da vida, da inexistência de direitos, da exploração esclavagista em muitos trabalhos, dos bairros de lata à volta das cidades, das imensas numerosas famílias dependentes da caridade alheia. De que, quase tudo era proibido, era pecado. Tanta coisa má existia que não pode ter saudade desse tempo da sua juventude.

Ainda hoje, como no final de sessenta e mesmo na década de setenta, é incapaz de olhar para um mosteiro, um palácio e não pensar nos desgraçados que os construíram, de quantos terão morrido na sua construção, ou mesmo, quantas criadas e criados não sofreram as sevícias dos senhores doutores, barões e baronesas. Dizem-lhe, com razão, que não pode pensar assim, que os tempos eram outros. Contudo, sabendo que é verdade o que lhe dizem, não consegue desligar o fusível dessa cadeia de pensamento.

A "ordem democrática", copiada de um tal primeiro mundo, imposta em Novembro como encerramento da festa em Liberdade dada em Abril, tem vindo com pezinhos de lã restabelecendo muitos dos costumes e tradições que integravam os antigos "brandos costumes, públicas virtudes". Agora em novas versões mais soft.

Há na Europa uma guerra fratricida entre vizinhos com ingerências de outros países, que está trazendo dificuldades acrescidas a todas as famílias europeias. Já não se importa que alguns autodenominados democratas de esquerda, o acusem ou classifiquem de “putinista”. Ao ler tais comentários às suas publicações sobre a guerra, sobre os efeitos colaterais e possíveis consequências da mesma, sorri com os seus botões quando algum o critica indiciando ser ele um apoiante de Putin. Deixa-os pousar. Não dá troco. Cada um é livre de expressar o seu pensamento.

Recorda aquela tarde no Leste de Angola, quando o Major do Batalhão a que pertencia o chamou à CCS, para o avisar, que se tinha de pôr a pau, que o médico era um PIDE que o queria "foder". Major, que ao devolver-lhe os livros que tinham ido buscar ao fundo da sua mala, quando ele estava ausente numa operação de cinco dias, ao entregar-lhe o livro "O Volga Desagua no Mar Cáspio" lhe disse, que o mesmo era reacionário e revisionista. O livro comprado em 1971, à socapa da censura, numa livraria de Viana do Castelo, era e é uma crítica ao modelo soviético de então. Sempre alimentou muitas dúvidas sobre as aplicações e ações do regime soviético. Dúvidas que não lhe permitiram entrar quando o convidaram. Dúvidas que se confirmaram com o desmoronamento do regime e a ascensão ao poder de gente duvidosa. Putin, nunca o enganou, aquele seu ar gingão ao atravessar aqueles portões bordados a ouro, logo o avisaram que a personagem não seria de convidar para uma reunião de amigos. Mas o ditador Putin, não é o povo russo, assim como o outro ditador Salazar não foi o povo português. Os ditadores são sempre tristes imagens dos povos que pela força se dizem representantes. Putin, não é flor que se cheire ou se convide para uma reunião de amigos. Mas, ele é o Presidente eleito da Rússia. Se as eleições são viciadas ou não é o povo russo que tem de solucionar o sistema e não qualquer país ou organização exterior ao povo russo. Como eleito do povo russo, Putin, goste-se ou não se goste , tem a obrigação de defender os seus cidadãos e lutar pela sua integridade. O povo russo-ucraniano do leste da Ucrânia estava desde o golpe de Estado de 2014 a ser bombardeado e dizimado pelas forças ucranianas apoiados em forças de milícias nazis financiadas e treinadas por militares do ocidente. A guerra fratricida em curso tem causas, como todas as guerras. Putin mandou as forças armadas russas invadirem a Ucrânia para se defender do avanço da outra força agressiva que se preparava para reconquistar a Crimeia e dizimar os separatistas do Donbas que dias antes da guerra tinha declarado unilateralmente e independência de Donetsh e Luhansk. Enquanto se preparava para a invasão tentou o dialogo com o ocidente que lhe fez orelhas moucas.

Ele que viveu intensamente o período da revolução em festa até 1979, conheceu alguns falsos e outros ditos revolucionários que após o restabelecimento da chamada “ordem democrática” se passaram de armas e bagagens para os braços e tentáculos do “centrão” político. Para ele não é pois novidade ver essa gente nos canais televisivos a destilarem a versão oficial do pensamento único vigente, mais do que nunca aliado segundo os padrões definido pelos falcões americanos e seus súbditos em Bruxelas. Toda e qualquer guerra, dure o tempo que durar, só tem como alternativa o estabelecimento da paz, por acordo das partes em conflito ou pela capitulação de um dos intervenientes.

Recorda na sua juventude as manifestações, os comunicados subversivos difundidos à revelia da policia política, contra a guerra fosse ela em África (Angola, Guiné e Moçambique), fosse no Vietname. Foi a sua juventude solidária e defensora da Paz entre povos e cidadãos.

Caminhando na outra margem da vida, desconhece a existência de movimentos jovens que se manifestem contra os EUA-NATO, contra a Rússia, pela Paz na Ucrânia. O movimento das bandeirinhas azuis e amarelas pareceu-lhe ser muito mais dos antigos ditos e falsos revolucionários convertidos em democratas de esquerda liberais, do que de organizações políticas de jovens autónomas de partidos políticos.

O futuro apresenta-se como nunca incerto, carregado de nuvens escuras cheias de dificuldades, mas sucedem-se festivais de música esgotados por uma juventude que gosta de consumir sem se preocupar com o amanhã, que decerto será bem mais difícil que o presente.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.