quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Acorda ainda mais cedo. A manhã ainda não é manhã, apenas a claridade se anuncia.

Levantou-se, e, dirigiu-se à casa de banho, levando consigo o pequeno aparelho de comunicação que o liga ao mundo exterior. Na sua casa guarda silêncios de outros tempos, de suas gentes, seus antepassados. A Sacha, também ela se levanta, vem até ao fundo da cama para receber os habituais bons dias que ele lhe dá.

Preparam-se para o passeio matinal. Saindo da povoação solta-a para ela correr à sua vontade. Caminham os dois apressados, num circuito onde conhecem todos os cantos. Tomam o pequeno almoço. Ele olha o relógio, são 7h30. Calça as botas e sai levando consigo a garrafa de água e as ferramentas para limpar as oliveiras dos muitos "ladrões" que com os anos e a falta de manutenção cresceram desalmadamente. Muitos só os consegue cortar com o serrote tão grossos e duros.

Ao entrar no chão lembrou-se de como o seu tio, dono do chão, falava do mesmo. Agora, o seu primo vendeu-lho. Falou com a amigo cujas vacas lá iam pastar. Facilmente se entenderam. Ele vai aramar o terreno para depois o António "Caga Cornos" lá poder por as suas ovelhas. O amigo propõe-se pagar metade do material. Como sempre as soluções exigem paciência, para mais não estando ele a viver permanente no seu canto.

Enquanto trabalhava de volta das oliveiras, ia pensando, nas primas e primo que nunca se interessaram, em saber as causas da insolvência do avô Luís, se é que sabem do fato, após o falecimento da sua avó Maria de Jesus. Ele, já leu diversas vezes a certidão do auto que o seu pai em tempo solicitou ao Tribunal da Comarca de Idanha-a-Nova. São os seus primos, politicamente à direita, sendo que a mais velha se intitula de esquerda, militando no Partido Socialista, que de esquerda pouco ou nada tem, tão liberal é na governação do país. Os setores da sociedade afetos ao pensamento político designado por direita, utilizam o conceito da família cristã como um dos seus baluartes morais. Contudo, a família não se resume aos que vivem hoje dentro da mesma casa. Antes deles tiveram que existir outros progenitores, caso contrário, não existiriam, simplesmente. Tão religiosos são, exceto a mais nova, mas tão indiferentes são com os seus antepassados.

Mundo estranho este onde vive. 

 

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