terça-feira, 27 de dezembro de 2022

22.07.22

Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer. Mas, crescer já não cresce. Tão pouco sabe se dará saúde esta sua forma de vida. Dorme entre as cinco e seis horas, por noite. Deixando-se dormir cedo, entre as onze e as onze e meia, o seu organismo dá sinal, ainda a manhã se anuncia numa claridade ténue. Hábitos que criou e vêm de muito longe. A noite nunca o entusiasmou. A alvorada, o clarear do novo dia sim, sempre gostou de ver com olhos de sentir o abraço cúmplice que a noite dá ao novo amanhecer. Também gosta do abraço que no final, o dia dá de boas vindas à sua conhecida noite. São cúmplices e amigos inseparáveis. Como não tem qualquer dificuldade em dormir, faz as suas sestas diárias facilmente. Dorme em qualquer sítio, mas nada é tão bom como a sua cama.

Veio passar uns dias à Praia da Consolação, a sua praia de juventude. Será Lua Nova no próximo dia 28. Hoje a maré ainda não lhe permite caminhar pela areia molhada plana. Caminhar na areia com inclinação não faz bem à coluna, prefere outros caminhos.

24.07.22

Foram em direção ao Porto Batel. No cimo da arriba olhou a sua outra praia de juventude, e, onde um dia parte das suas cinzas serão entregues clandestinamente ao mar, num dia de mar chão, na vazante para que possam ser embaladas para a profundeza do mesmo.

As autoridades colocam avisos de "arribas instáveis" e lavam as suas mãos preventivamente a algum acidente que possa ocorrer, quando os amantes da natureza e do surf, que ali também se pratica, colocam as suas viaturas mesmo à beira da arriba.

Sente-se triste e deixa a gaveta da revolta abrir-se. A Sacha assusta-se com o seu grito de revolta. Um lugar, quase único, está abandonado às intempéries da chuva e do vento. Não há dinheiro dirão. Mas há tantos milhões de euros esbanjados com os vampiros do setor financeiro, tantos milhões dados ao turismo em praias onde colocam toneladas de areia para o mar as levar de novo. Tantos € desperdiçados e ninguém com poder de decisão olha a beleza desta costa. Já todos os partidos políticos e movimento independente de cidadãos, passaram pelo executivo municipal, mas quem manda e gere tem sempre outros objetivos, outras prioridades. Prioridades que não alteram a agulha económica do Município que ano a ano vai, à vista desarmada, morrendo lentamente dentro das suas muralhas. Salva-se pela horticultura das suas terras circundantes, mas também elas dependentes e indefesas perante as políticas agressivas, quando não assassinas sobre o pequeno agricultor, praticadas pelas cadeias da distribuição moderna nas barbas das autoridades da concorrência. Setor da distribuição dominado por três ou quatro cadeias de hipermercados e supermercados, que estrangulam os agricultores a montante para depois a jusante esfolarem os consumidores com as suas margens especulativas e de lucro sempre crescente, seja nas grandes ou pequenas cidades, seja nas vilas ou freguesias, a sua rede já se estende por todo o lado. A famosa concorrência do sistema é mais uma falácia. Simplesmente não há concorrência verdadeira na nossa pobre economia.

Seguiram a caminhada pelo caminho de terra que tantas vezes o fez na sua bicicleta. Onde há cinquenta anos ainda existiam pequenas vinhas, estão agora todos os terrenos dedicados essencialmente à horticultura, a tal bóia de salvação na economia municipal.

Terras barrentas onde felizmente não falta água para a sua exploração. A água sempre a água como um bem de inigualável valor na vida de sobrevivência das comunidades.


Neste sábado lá o convenceram a ir à praia, ou seja, ir passar a tarde no areal. Depois de almoçarem, foram em busca de um lugar para estacionar a viatura no Baleal. Ele duvidava que tal fosse possível num sábado de sol. As suas dúvidas confirmaram-se, a Nossa Senhora da Vaga não os acompanhou neste desejo. Não encontrando sítio para estacionar a viatura, deram meia volta resolvendo ir até à praia não vigiada do Casal Moinho. Atravessaram as dunas e já no areal estacionaram num cabeço de areia mesmo à beira mar. O mar estava na baixa mar. Colocados os chapéus de sol, sentou-se à sombra. Olhava os vizinhos e vizinhas expostos à torreira do Sol em busca do bronze. Por fim, lá se decidiu tirar a camiseta. Colocou uma carrada de creme, sem se importar com o prazo de validade do mesmo, num sinal da perna que o incomoda. Olhando a grandiosidade do mar concluía que, sem dúvida, aquela vida já não era para ele. Se tivesse ficado em casa a ler os seus livros, teria feito melhor, mas não quis ser desmancha prazeres e ali estava sentado à sombra feito não sabe bem o que. Nos seus quase setenta e dois anos já apanhou Sol que chegue para o tempo que terá a oportunidade de viver. Que os seus dias sejam curtos para serem muitos, intercalados com dias longos para que possa ir vivendo e aprendendo com a velhice, é um dos seus desejos, mais do que se preocupar com a sua imagem.

A determinada altura pelo incómodo de estar sentado já sem posição, decidiram ir molhar os pés, tomar a temperatura da água. Disseram-lhe que os da televisão tinham anunciado para a costa uma temperatura de 20 graus. Duvidou, mas como não acredita na maior parte do que os papagaios televisivos anunciam, calou-se. Claro que a água não estava a 20 graus, mas também não estava má. Depois de almoçar, de ter ficado sentado à sombra um bom bocado, bastou molhar os pés para o sistema lhe comunicar a necessidade urgente de fazer o xixi da ordem. Avançou até as ondas lhe baterem pela cintura. A água pode ser fria mas é tão transparente que olhava o fundo e via os seus pés na areia. Esteve quase a mergulhar mas eu uníssono os ossos e as cartilagens logo lhe apresentaram uma petição privada para não o fazer. Achou por bem estar de acordo e a custo saiu da água. Apetecia-lhe mesmo dar umas braçadas naquela água tão transparente. Há vários anos que não o faz, mas a prudência foi mais forte felizmente para as suas artroses. Num instante o calção de banho secou. Sentou-se de novo à sombra na areia. Ao fundo, olhava a praia da Consolação, pobre urbanisticamente, rica de iodo de ares fortes, rodeada por um mar que é diferente de outros mares em outras praias. No cimo da arriba lá está o Forte que leva anos de restauração para um projeto de duvidosa afirmação futura. É o seu pensamento desde que há cinco ou seis anos assistiu à celebração do contrato entre o Município e os vários organismos do Estado que têm direitos de decisão sobre a propriedade do mesmo. Se D. João IV, que o mandou construir para defesa da costa, voltasse do além e visse a confusão dos organismos do Estado atual, que tem direitos sobre o seu Forte, mandava-se de imediato ao mar para fugir da confusão que reina na corte em Lisboa. 

 

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