terça-feira, 27 de dezembro de 2022

22.07.17

 

Acordou. Ao por os pés no chão sentiu o corpo mole. Raras são estas situações, em que lhe apetece ficar deitado mais um pouco. Pela primeira vez nestes quatro anos e meio a Sacha não estava deitada junto à porta que dá para os quartos. Estranhou. Encontrou-a deitada junto aos estores da varanda, que virada a nordeste é de madrugada o local onde a aragem se sente mais fresca. Saíram e ele deixou-se conduzir pela vontade da sua amiga. Foi ela que conduziu a volta matinal. Depois de uns dias de forte calor, a manhã apresentou-se fresca à moda de Verão.

Quando se lavava, olhou-se nos olhos e recordou o seu pai. E, porque o movimento de rotação do planeta é constante sem darmos conta que estamos rodando, já passaram seis anos e um mês. Sorriu ao recordar uma das sovas que o pai lhe deu. Não foram muitas, mas todas tiveram resultados positivos posteriores.

Naquele tempo, andava ele no segundo ano do ciclo preparatório na Escola em Peniche. Todos os meses, desde que começavam as aulas, realizavam testes para atribuição de notas, nas diversas disciplinas. No primeiro teste de matemática, numa classificação de zero a vinte, tirou um medíocre, salvo erro um oito. No segundo teste a matemática, já a viver no Lugar da Estrada a nota piorou. Quando apresentou o teste, com o M de mau, ao pai para assinar, este ralhou com ele. Ao dizer ao pai que não queria estudar, que queria ser ciclista, o pai chegou-lhe a roupa ao pelo, forte e feio. Ao deitar-se ainda soluçava. Na manhã seguinte quando a mãe o acordou para se levantar, não queria ir para a escola. A mãe pediu ajuda ao irmão, os dois vestiram-no e ajudaram-no a subir para a sua bicicleta com o irmão a empurrá-lo até chegarem à Escola. No último teste a matemática daquele primeiro período, tirou um Muito Bom, dezoito ou dezanove. Olha-se nos olhos sorrindo para a imagem que guarda do seu pai, agradecendo-lhe tudo o que fez por ele e por eles, os dois irmãos que não sendo gémeos, nasceram no mesmo ano, num pequeno quarto da cidade grande que seus pais tinham alugado, em casa de uma família.

Ao caminhar conduzido pela sua amiga, abre gavetas antigas, fecha umas e outras deixa-as abertas como forma de, ao ler essas recordações, exercitar o seu cérebro para que o mesmo se possa manter vivo. Tem medo que um dia ele, cérebro, possa gripar, deixando-o totalmente perdido no meio da multidão

18.07.22

Perdido no meio da multidão continua caminhando. Olha ao seu redor. Procura entender os porquês. Só ouve os lamúrios do silêncio. Não os entende. Olha de novo e só vê um vácuo escuro e pegajoso. Caminha mais apressado. Procura distanciar-se, perdido que caminha no meio da multidão.

Por onde andarão os sonhos de uma sociedade diferente. Caminha, passo a passo, na busca que seus dias sejam curtos para que possam ser muitos, intercalados com dias longos, que lhe permitam aprender a ser velho, a entender os outros, perdido que caminha no meio da multidão. Leva consigo a ausência, sua companhia dos últimos anos.

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