quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

22.06.18

 

Nesta onda do pensamento único ocidental,

neste país laico de gente católica conservadora,

neste país de antigos brandos costumes e públicas virtudes,

neste país triste sem rumo,

neste país até as palavras do Papa Francisco são ignoradas pela nova censura em liberdade do pensamento único.

Neste país os ressuscitados inquisidores, disfarçados vestem bem e falam palavras redondas viciantes.

Neste país voltou a vigorar o pensamento fascista dos salazaristas em que "todos os opositores eram comunistas, mesmo os que não o eram".

Neste país voltamos a cantar silenciosamente "cá vamos cantando e rindo" não estendendo o braço porque ainda não está na moda.

Neste país os que não alinham no pensamento único oficiosamente divulgado, que se cuidem.


Já não sabe por anda a alegria. Até os foguetes lhe parecem bombas de tristeza a rebentarem. Esta vida pouco ou nada lhe diz, lhe transmite. Que fazer, se até já a utopia o vai abandonando. Vai perdendo a esperança de ainda poder viver o tempo do "Homem novo", a sociedade decente com que sonhou e foi lutando com as suas armas pacíficas de pouco saber. Um tempo de paz onde os ricos sejam menos ricos para que o povo possa ser menos pobre,é um sonho a cada dia mais longe no distante horizonte.

Entre antigas lembranças, palavras ausentes são sua companhia, o seu silêncio pendente que precisa de resolver, o único arrependimento, que carrega dos muitos erros que cometeu na sua caminhada. Se o conseguir ultrapassar, partirá para o seu canto para lá viver enquanto tiver saúde e força, porque viver sem qualidade de vida não é desígnio de nenhum dos deuses que povoam o universo da mente humana, quanto mais do Deus único dos cristãos. Só os fanáticos do sofrimento acreditam que o seu Deus é castigador.

O rei Sol já acordou e ilumina. Vai começar com as suas rotinas, num sábado em que a diferença está no almoço com antigos estudantes do ICL.

Durante a caminhada, entre as conversas com o além sagrado, foi recordando aventuras e desventuras, veredas e trilhos por onde caminhou em busca do nada, de uma paz que ainda não encontrou plenamente desde que se fez homem.

Nasceram os dois num quarto onde seus pais viviam. O irmão nasceu no início de Janeiro, vindo ele a nascer em Dezembro dias antes do Natal. Chegam a ter a mesma idade sem serem gémeos. Depois dele nascer os pais mudaram-se para uma casa no número 94 da mesma Rua da Centieira. Entrou o irmão na escola primaria um ano à sua frente. Quando ele entrou na primeira classe, hoje primeiro ano, ao ter de aprender a escrever num caderno de duas linhas, por um problema desconhecido, começava a escrever mas logo continuava fora das duas linhas. A professora castigava-o com tantas reguadas nas mãos que quando a escola acabava era o irmão que lhe levava a mala. Ele com as mãos inchadas não consegui segurar a mala.

19.02.22

Quando o pai foi promovido a Segundo Cabo a família mudou-se. Saíram da Rua da Centieira e foram para Ferrel, onde o irmão fez a quarta classe e o exame de admissão à Escola Industrial e Comercial, hoje conhecida como Escola Secundária, em Peniche. Ele como mais novo fez a terceira e a quarta classe em Ferrel, fazendo igualmente o exame de admissão à Escola em Peniche. Naquele tempo não havia meio de transporte de Ferrel para Peniche. Uns iam a pé pela praia do Baleal e outros iam de bicicleta. O pai comprou-lhes uma bicicleta para cada um. Ele, mais novo já era um pouco mais alto. A bicicleta do irmão, mais velho, era roda 26, enquanto que a sua era roda 28. Começou a pedalar os 8km até à escola, e, da escola para casa ainda tinha 9 anos. Um sábado em que ia para as atividades da Mocidade Portuguesa, na descida do Viso, convenceu-se que era capaz de passar por cima de um pedra sem as mãos no guiador. Resultado deu um enorme trambolhão. Tiveram de lhe acudir pessoas que trabalhavam perto. Levaram-no para o médico. Muito sangue pisado lhe tiraram do joelho esquerdo. Durante cerca de quatro anos coxeava quando fazia esforço adicional.

Ia fazer 12 anos quando o pai saiu do Baleal para a Consolação. Deixaram Ferrel e passaram a viver no Lugar da Estrada. Os 8 km passaram a 6 km, sem subidas e descidas.

O seu irmão chumbou um ano e passaram os dois manos a frequentar o mesmo ano. Depois de chumbar o ano o irmão começou a ser um aluno aplicado que ano a ano melhorava de rendimento. Foi assim que ao fazerem o 3° ano do Curso Geral do Comércio, equivalente ao 5° ano ou atual 9° ano, enquanto o seu irmão passou as férias a preparar-se para fazer exame de admissão ao Instituto Comercial em Lisboa. Ele, como tinha chumbado na prova oral da disciplina Noções de Comércio, Direito Comercial e Economia Política, teve que ir a exame em Outubro para ser aprovado e continuar a estudar já em Lisboa, para no ano seguinte ir fazer o exame de admissão ao Instituto Comercial. Voltaram a andar em anos separados.

20.06.22

Quando viviam no Lugar da Estrada, ele sempre foi magro, mais alto mas mais fraco que o irmão. A mãe para eles terem força ao irem de bicicleta para a Escola em Peniche, batia-lhes num copo de água grande, um ovo com açúcar a que depois juntava vinho ou mesmo água pé, cujo barril estava debaixo das escadas que davam para o primeiro andar. Para ele, mais do que para o irmão, os seus avós que viviam na Zebreira, quando mandavam uma encomenda lá vinha um ou dois frascos de "xarope de sangue de cavalo", que os avós encomendavam aos contrabandistas que traziam aquele xarope de Espanha. A sua mãe tinha medo que o filho não tivesse forças para pedalar contra a nortada que sempre soprava de frente quando ia para a Escola logo pela manhã.

Ao estudarem na Escola o Curso Geral do Comércio, nos três anos do curso, sempre tinham exames para fazer ano a ano. Ele porque o seu nome se inicia com a letra C, era dos primeiros a fazer a prova oral quando não dispensava da mesma. O seu irmão como o nome se inicia com J tinha a prova oral sempre depois da dele.

Sabiam os irmãos que só quando terminassem os exames é que poderiam ir para a praia, brincar, tomar banho, assim como, nas marés grandes, poderem, na maré baixa ou apanhar limo agar-agar ou procurarem apanhar povos com negaça. Para facilitar a apanha do polvo, eles tinham receio de meter a mão nos buracos, colocavam na ponta da cana junto ao rabo de bacalhau uns anzóis grandes para quando o polvo procurasse comer o rabo do bacalhau, eles puxavam-no para fora de água e viravam-lhe a mocha e o desgraçado morria.

Assim, entre a praia, as rochas atrás do Forte e o Porto Batel passavam os quase três meses de férias. O pai deixava-os andarem ao banho, até ao último domingo antes de começarem as aulas do novo ano lectivo. Tinham assim férias até ao fim do mês de Setembro, já que as aulas começavam normalmente a 7 de Outubro.

Foram bons tempos aqueles em que estudaram na agora Escola Secundária de Peniche e viverem quer em Ferrel - Baleal, quer no Lugar da Estrada - Consolação.

Para continuarem a estudar, pediram aos pais que em vez de irem estudar no Magistério Primário para serem professores e dar aulas até à então quarta classe (hoje quarto ano), que os deixassem ir estudar no Instituto Comercial de Lisboa. Os pais que não conheciam aquela Instituição, escreveram um postal a perguntarem ao primo António o que era aquilo que os filhos lhes pediam. Por sorte a prima Irene, mulher do primo António, também tinha feito o Curso Comercial assim como o Instituto Comercial antes de se ter licenciado em Económicas e Financeiras (hoje gestão de empresas). Foi assim que os manos voltaram para Lisboa, acompanhados pela mãe. O pai continuou a prestar serviço no Posto da Guarda Fiscal em Peniche, aguardando por uma vaga num dos postos existentes na cidade de Lisboa. O que aconteceu, cerca de dois anos após a vinda deles com a mãe para a Rua da Centieira que no ano de 1950 os viu nascer naquele quarto do número 25.

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