Há cinquenta anos tinha um sonho, um objetivo, naquelas terras de quase fim do mundo: - voltar são e salvo para o colo de minha mãe, abraços de meu pai e irmão.
Naquela terra do Mumbué, naquelas matas infindáveis, naquele retângulo de arame farpado não se sabia de nada do que se passava no «Puto», ali só tínhamos um saber, sobreviver.
Na gloriosa data, também uma quinta-feira, nada se soube durante o dia, apenas quando acabou a sessão de cinema que por lá passava de quinze em quinze dias, o comerciante sr. Pato nos informou ter havido um golpe no «Puto», questionado sobre quem teria efetuado tal golpe nos disse que lhe parecia ser um tal general Kaúlza, agradecemos a informação e sem mais nada lhe dizermos pensámos «estamos fodidos, nunca mais vamos sair daqui», depois fomos dormir sem mais pensarmos no que teria acontecido na nossa Pátria.
Só no dia seguinte, vinte e seis, soubemos pelos rapazes das transmissões que afinal o golpe tinha sido efetuado por capitães do quadro permanente.
Algo estava a acontecer de anormal, pois as altas patentes do Exército e da Província que estavam programadas para no dia seguinte, vinte e seis, irem entregar as chaves das casas aos dois grupos de GE’s afetos à Companhia que deveriam chegar pelo ar, não apareceram sendo substituídos pelas patentes superiores do Sector de Silva Porto que assim como chegaram, distribuíram as chaves aos GE’s e logo partiram nas suas viaturas.
Expectativa ansiosa sobre o nosso futuro passou a reinar, a crença de que iríamos regressar sãos e salvos ganhou força em cada um de nós jovens militares combatentes naquelas terras de quase fim do mundo.
Hoje, cinquenta anos passados, ouço e vejo frases que não entendo; o inexistente futuro não se constrói apenas com frases saudosistas do que foi o 25 de Abril de 1974, é preciso muito mais porque «a luta continua» tão ou mais difícil do que então. Luta que as gerações mais novas têm de travar se querem um país mais decente do que o atual, porque o sonho comanda a vida e nunca nada esta acabado, muito menos derrotado.
Há quarenta e alguns anos que não vou a uma manifestação, mas hoje este velho sem velhice irá voltar a participar na manifestação pelo 25 de Abril, pelo sonho e esperanças que Abril deu à minha geração e ao meu país.
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